A verticalização, embora contestada por alguns urbanistas e residentes de determinados bairros, encontra apoio entre os habitantes de áreas previamente degradadas durante a desindustrialização da cidade. A revitalização de bairros industriais à margem das ferrovias em São Paulo assemelha-se ao caso do Brás, onde o mercado imobiliário tem desempenhado um papel significativo.
Esse processo, impulsionado pelo Plano Diretor de 2014 (recentemente modificado) e pela Lei de Zoneamento de 2016 (em fase de revisão), pode ganhar novo fôlego com projetos urbanos pendentes de aprovação da Câmara Municipal.
Eduardo Della Manna, assessor de assuntos legislativos e urbanismo do Secovi-SP – o sindicato que representa construtores e incorporadores em São Paulo – destaca que a transformação necessária se concentra nos distritos centrais da cidade, circundando a orla ferroviária. Nessa análise, os distritos da Barra Funda, Bom Retiro, Brás, Mooca e Ipiranga, que historicamente constituíram o epicentro da industrialização paulistana, desempenham um papel crucial.
Enquanto alguns questionam os impactos da verticalização, outros veem nela uma oportunidade de revitalização e crescimento econômico para áreas outrora negligenciadas. O equilíbrio entre preservação da identidade local e o impulso ao desenvolvimento moderno permanece como o cerne do debate sobre o futuro da paisagem urbana de São Paulo.
A revitalização de áreas urbanas tem demonstrado um efeito positivo, mas especialistas em urbanismo alertam para problemas recorrentes que afetam outras partes da cidade. A transformação da orla ferroviária em São Paulo é um exemplo disso. Enquanto traz um novo vigor à região, críticos apontam a falta de habitação acessível, o descaso com o patrimônio histórico e a negligência ambiental como questões persistentes.
O Plano Diretor, responsável pelo zoneamento e projetos urbanísticos, permite que edifícios sejam construídos com área superior ao tamanho do terreno, uma prática questionada pelos especialistas. Além disso, a redução das taxas de construção também levanta preocupações.
Regina Prosperi Meyer, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, destaca a concessão de potencial construtivo ao mercado imobiliário em detrimento de áreas verdes e moradias. Ela sugere que zonas próximas à ferrovia poderiam abrigar espaços verdes benéficos para diversos bairros.
Ciro Biderman, coordenador da FGV Cidades, reconhece a importância da transformação nas áreas ferroviárias, considerando-as mais viáveis em comparação com regiões onde os moradores resistem às mudanças.
Nos últimos anos, o emblemático bairro paulistano da Mooca tem experimentado um crescimento notável em seu setor habitacional. Desde a implementação da lei de zoneamento em 2017, a região tem visto uma média de 710 novas unidades habitacionais sendo construídas anualmente, contrastando significativamente com as 140 unidades lançadas por ano entre 2014 e 2016.
Esse aumento pode ser atribuído não apenas à sua proximidade com os eixos de transporte favorecidos para a construção imobiliária, mas também à inclusão do bairro na futura Operação Urbana Consorciada Bairros do Tamanduateí. No entanto, especialistas, como o urbanista Laudelino Roberto Schweigert, alertam para o risco de um excesso de edifícios padronizados prejudicar a identidade histórica do bairro. Schweigert destaca a importância das construções como testemunhas da evolução da população e da cidade ao longo do tempo.
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Informações retiradas de Clayton Castelani à Folha S. Paulo