A última “vítima” do fim da bolha das startups é a Reali, uma startup imobiliária com sede na California, EUA. No próximo dia 9 de setembro a empresa deverá demitir a maior parte de sua força de trabalho. As demissões são parte do início do desligamento de suas atividades.
No auge dos investimentos, a empresa tinha cerca de 250 corretores associados, 180 funcionários nos EUA e 25 em Israel. De acordo com Amit Haller, CEO da startup, a crise é resultado das dificuldades para novas captações de capital e também das condições desafiadoras do mercado imobiliário na atual conjuntura econômica.
Para ter uma ideia do tamanho do prejuízo, desde 2016, a Reali já levantou mais de US$ 290 milhões em rodadas de investimento (R$ 1,5 bilhão), e em sua última rodada em agosto de 2021, levantou um aporte de US$ 100 milhões (R$520 milhões) liderado pela Zeev Ventures, totalizando R$2 bilhões em investimentos. Em Janeiro de 2021, indo de vento em popa, a empresa chegou a comprar a imobiliária TXR Homes, também da Califórnia, que tinha 90 corretores.
Sem previsão de novos aportes, a empresa que ainda não conseguiu fazer o modelo de negócio ser rentável, tem conversado com outras empresas e oferecido parte de sua carteira de serviços para venda.
Demissões também no Brasil e ao redor do mundo
Por aqui a situação também não tem sido diferente e atinge todos os setores, desde as proptechs às fintechs. Em Abril a QuintoAndar anunciava a demissão de 160 pessoas, o equivalente a 4% do quadro de funcionários. Dois meses depois, em Junho, era a vez da Empiricus anunciar a demissão de 70 profissionais. Em seguida a Loft também reduziu 12% do seu quadro, desligando 3,2 mil funcionários.
Globalmente, a lista de startups na mesma situação só aumenta. A Netflix por exemplo, demitiu 300 funcionários em junho, seguida do Twitter que chegou a demitir executivos. Outros nomes como Google, LinkedIn, Uber, Ebanx, Kavak, Facily, Vtex, Favo, Liv Up e Spotify somam-se a lista, sejam com demissões, ou suspensão das contratações.
Mas o que tem acontecido com as Startups?
São dois os motivos que tem levado Startups ao redor do mundo a apertarem os cintos. O primeiro e principal é a dificuldade para realizar a captação de dinheiro. Se antes havia uma enorme quantidade de dinheiro sendo investida em ideias que ainda não eram rentáveis, hoje essa bolha estourou.
Tanto é que o termo tem mudado: ao invés de procurar um novo unicórnio, o investidor está em busca de uma empresa camelo. Para entender o nome, basta pensar nas características do próprio animal: Camelos são fisicamente resistentes, tem facilidade de se adaptar ao ambiente para sobreviver e suporta longos períodos sem água e comida. Traduzindo, o que os investidores tem exigido agora na hora de investir, é que as novas startups sejam sustentáveis e com produtos que gerem receita.
O segundo motivo, é o atual cenário econômico, de altas taxas de juros, inflação, e que influenciou diretamente no abalo de diversos negócios, bem como na mudança de mentalidade do investidor, que passou a olhar com atenção para centavo do seu patrimônio.
Uma competição mais justa
Para contornar esse cenário, o cofundador da Fuse Capital, diz que as startups vão precisar dominar a “arte de frear”. Ou seja, terão que aprender a operar gastando menos. “As startups que não sabem gerenciar esse cenário vão sofrer”, afirma o executivo. Nesse sentido, além dos cortes de custo, essas empresas terão que rever o quanto estão dispostas a investir para conquistar um cliente, na comparação com a receita que esse mesmo cliente vai gerar ao longo do tempo. Na prática, o negócio precisará ser rentável e sustentável por anos.
No evento anual realizado pelo banco Itaú Unibanco, o Itaú Day, esse assunto foi comentado por diversos executivos, dentre eles Pedro Moreira Salles, atual presidente do conselho administrativo do Itaú Unibanco, que afirmou que “o mercado mudou. O crescimento [de uma empresa] é muito importante – e o mercado de capitais financia o crescimento – mas agora o mercado também está olhando para o resultado, tem que dar lucro. E não pode ser lucro muito lá embaixo ou muitos anos à frente”.
Roberto Setúbal também chamou atenção para o retorno que isso pode trazer ao mercado em nível de amadurecimento e de uma competitividade mais justa entre as empresas tradicionais e as startups “o jogo ficou mais igual de uma certa forma. É muito fácil crescer oferecendo preços muito baixos – de certa forma até subsidiados – para atrair o cliente.”
Fontes: HW, Meio&Mensagem, Brazil Journal