Em abril deste ano, os saques nas cadernetas de poupança no Brasil excederam os depósitos em R$6,2 bilhões, resultando em um recorde de retiradas líquidas de R$5,2 bilhões nos primeiros quatro meses do ano. Esse aumento nos saques da poupança está tendo um impacto direto nos juros do mercado imobiliário, dificultando a vida daqueles que desejam comprar um imóvel através de financiamento.
A situação fez com que pessoas, como Amanda, precisassem rever seus planos, optando por apartamentos mais distantes de seus locais de trabalho devido às condições menos favoráveis de financiamento. “Vou ter que pedir transferência e aí mudar toda a estrutura. De bairro, deslocamento, tudo”, conta a funcionária pública Amanda Cordeiro.
Alguns clientes do gerente comercial Felipe Lemos decidiram adiar os planos de comprar um imóvel. “No início de abril, a gente teve um aumento na taxa de juros e isso ocasionou um pouco da queda nas vendas, porque ficou um pouco mais caro comprar um imóvel”, diz Felipe Lemos.
O aumento da taxa de juros afeta diretamente a poupança, que é a principal fonte de financiamento dos bancos para empréstimos imobiliários. Com menos recursos disponíveis na poupança, os bancos são obrigados a buscar outras fontes de investimento para financiar o mercado imobiliário.
No entanto, essas alternativas são mais caras, resultando em taxas de juros mais altas para os compradores de imóveis. Esse cenário representa um desafio para quem deseja adquirir uma propriedade, uma vez que o custo do financiamento se torna mais elevado.
“Pelo lado da oferta, o que a gente tem observado é que está acontecendo um ritmo muito grande de saques em poupança. Esse ritmo está associado a duas coisas: de um lado, taxa de juros elevadas, que tornam mais atrativo você ter aplicações financeiras mais próximas da taxa Selic do que a poupança, essa poupança que é a mais líquida que você tem para pagar um pedaço de suas dívidas”, explica o pesquisador associado da FGV/Ibre, Livio Ribeiro.
O técnico em telecomunicações, Sandro Cruz, juntou o dinheiro que vinha guardando na poupança com o valor que recebeu de herança da avó para comprar um apartamento à vista, em um empreendimento em Campo Grande, na Zona Oeste do Rio.
“A gente tentou usar o dinheiro que a gente tinha guardado para poder comprar um apartamento à vista e conseguir um descontinho, que a gente conseguiu aqui aqui na aquisição do apartamento. Realizar um sonho, que está sendo realizado, graças a Deus”, conta o técnico em telecomunicações Sandro Cruz.
Caixa lança campanha de incentivo do uso da poupança para investimento imobiliário
Diante desse cenário, a Caixa Econômica Federal lançou uma campanha de incentivo ao uso da poupança como ferramenta de investimento para financiamento de imóveis. Após os consecutivos meses de saques líquidos na poupança, que totalizaram R$6,25 bilhões em abril, e de um resgate total recorde de R$103,23 bilhões ao longo de 2022, a presidente da Caixa, Maria Rita Serrano, destacou que a caderneta de poupança, juntamente com o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), é uma das principais fontes de recursos para crédito imobiliário do banco.
Maria Rita Serrano, destacou que a campanha surge em resposta aos resgates significativos ocorridos nos últimos meses na poupança, uma vez que essa modalidade de investimento, juntamente com o FGTS, é uma das principais fontes de recursos para os financiamentos imobiliários realizados pelo banco.
O objetivo é conscientizar a população sobre a importância de utilizar a poupança como forma de investimento, mesmo em um cenário de menor rentabilidade.
“Com a taxa de juros altíssima, estamos tendo perdas na poupança. E, ao perder recursos em poupança, tornamos o investimento em habitação mais caro, já que temos que ir atrás de outros fundings mais caros para continuar financiando a habitação”, afirmou a executiva durante conversa com jornalistas nesta sexta-feira (12) para comentar os resultados do banco no primeiro trimestre.
No início de abril, o banco anunciou um aumento de 0,5 ponto percentual nas taxas do crédito imobiliário, com a modalidade da SBPE passando para um intervalo entre 8,99% e 9,99% ao ano mais a TR (Taxa Referencial).
Financiamento de imóveis, FGTS e o STF
A presidente da Caixa, em relação ao julgamento em andamento no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a remuneração do FGTS, alertou que qualquer alteração na forma como o Fundo é remunerado pode resultar em um encarecimento dos investimentos públicos em habitação.
A possível mudança na remuneração do FGTS pode ter um impacto no mercado imobiliário, elevando o custo dos financiamentos. Isso se deve ao fato de que muitas operações que utilizam o saldo do FGTS possuem cláusulas que determinam a atualização da dívida mensalmente, utilizando o mesmo coeficiente de atualização aplicado às contas vinculadas do Fundo.
O debate em curso no STF é considerado complexo, e suas consequências merecem atenção, pois podem afetar o setor habitacional e os investimentos públicos nessa área.
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Informações retiradas do Globo e da Folha via Lucas Bombana, Money Times via Flávya Pereira.