A ideia japonesa de construir microapartamentos para oferecer opções de moradia mais baratas em áreas valorizadas das grandes cidades tem sido copiada no Brasil. Empreendimentos com essa característica surgiram nas últimas décadas em capitais como São Paulo, oferecendo áreas mínimas com móveis e cama embutidos no espaço e serviços compartilhados no condomínio. O conceito foi elevado ao extremo em Tóquio, onde existem endereços com menos de 10 metros quadrados.
Os microapartamentos se popularizaram em São Paulo, atraindo investidores que veem neles uma opção de residência temporária para competir com hotéis, além de serem uma alternativa acessível para solteiros e estudantes. Muitos empreendimentos foram construídos próximos a estações de metrô e faculdades. Esses apartamentos também representaram metade dos lançamentos imobiliários na cidade no ano passado, impulsionando o faturamento das construtoras que puderam levantar mais unidades com menos investimentos financeiros.
Nesse processo de tropicalização da invenção japonesa, no entanto, aos poucos, os incorporadores brasileiros acabaram desvirtuando a fórmula original. Na direção contrária dos espaços, que foram ficando cada vez menores, os preços desses empreendimentos tiveram alta. Resultado: um estúdio de 26,5 metros quadrados no Itaim Bibi, bairro valorizado da Zona Oeste de São Paulo, chega a custar hoje 1 milhão de reais, sem garagem.
No caso de São Paulo, justamente o epicentro do fenômeno, o poder público pode ter determinado o fim da era desses microapartamentos. O Estatuto da Cidade (Lei n. 10.257/2001) determina que, pelo menos a cada dez anos, os planos diretores devam ser revistos. O último foi aprovado em 2014, na gestão de Fernando Haddad (PT). No final de março, a Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento (SMUL), concluiu a revisão intermediária do Plano Diretor Estratégico (PDE) e entregou à Câmara o projeto de lei com ajustes propostos para o atual PDE.
As mudanças buscaram priorizar a ocupação da cidade de acordo com a rede de transporte coletivo, e o maior impacto para o mercado imobiliário é a permissão para a construção de prédios até 50% maiores do que os limites atuais em determinadas regiões da cidade, com unidades voltadas para famílias de baixa renda. Essa medida deve reduzir os preços dos lançamentos imobiliários e frear a construção de estúdios nas áreas mais valorizadas da capital.
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Informações retiradas da coluna de Renata Firpo à Revista Veja