A publicitária Julia Zink, de 26 anos, enfrentava dificuldades financeiras devido ao apartamento que estava fechado e desocupado há três meses na Avenida Ataulfo de Paiva, no Leblon, Zona Sul do Rio de Janeiro. Em agosto de 2021, ela decidiu mobiliar o imóvel e anunciá-lo em plataformas de aluguel por temporada, com a esperança de pelo menos cobrir as despesas do condomínio. A ideia foi um sucesso tão grande que a venda do apartamento não foi mais considerada como opção viável.
Já nos primeiros 30 dias o apartamento recebeu hóspedes e se mostrou rentável. Durante a pandemia, o aluguel mensal chegou a ser de R$1.6 mil. Atualmente, Julia consegue obter quatro vezes esse valor em lucro, descontando todas as despesas. Devido ao sucesso alcançado, a proprietária desistiu de vender o imóvel e colocou para locação de temporada um outro imóvel da família.
Facilidade digital
Um estudo realizado pelo Instituto Fecomércio de Pesquisas e Análises (Ifec-RJ) revelou que as hospedagens por meio de plataformas digitais estão em alta no Rio de Janeiro. De acordo com a enquete realizada com 866 turistas estrangeiros, 17,7% dos entrevistados optaram por esse tipo de hospedagem, enquanto 20,7% buscaram pousadas. No entanto, os hotéis continuam sendo os meios de hospedagem mais populares, com 64,4% de preferência.
Dados da plataforma Airbnb mostram que, no ano passado, os feriados prolongados mais atrativos para os hóspedes no Brasil foram o carnaval, ocupando o primeiro lugar, seguido pela Proclamação da República e pelo réveillon. Esses números evidenciam a crescente demanda por hospedagens alternativas através das plataformas digitais, refletindo uma mudança nos hábitos dos turistas que buscam opções personalizadas e mais econômicas durante suas viagens.
Plataformas de aluguel por temporada ocupam mercado no Rio
Rodrigo Galvão, professor da faculdade de Turismo e Hotelaria da UFF, se tornou embaixador do Airbnb no Brasil após transformar a experiência de alugar um pequeno apartamento em Copacabana. Após décadas ocupado pelo mesmo inquilino, o imóvel de 25 metros quadrados, que pertencia ao seu avô, foi anunciado na plataforma. A decisão provou ser um grande sucesso, já que o aluguel mensal que antes não ultrapassava R$1,2 mil, agora gera uma média de R$8,5 mil mensais. Essa empreitada bem-sucedida expandiu-se para outros sete imóveis da família, consolidando uma nova fonte de renda através do compartilhamento de hospedagem.
O Web Summit, evento global de tecnologia que acontece no Riocentro, na Barra da Tijuca, reúne na capital carioca até amanhã mais de 21 mil participantes de 91 nacionalidades. Um deles, o suíço Andrin Pelican, de 31 anos, reservou cinco dias de hospedagem em um apartamento na Glória, Zona Sul, que alugou pelo Airbnb.
“Além da facilidade de encontrar o lugar para me hospedar, não preciso ficar informando o CPF, que não tenho, ou o passaporte (à recepção). Resolvo tudo pelo aplicativo” conta o suíço, que já repetiu a experiência em outras cidades do Nordeste do Brasil, bem como da Europa e da Ásia.
Impacto no mercado
Alfredo Lopes, presidente do Sindicato dos Meios de Hospedagem do Município (Hotéis Rio), expressou a preocupação do setor em relação à falta de igualdade tributária no mercado de locação de apartamentos por plataformas digitais. Ele destacou que essa modalidade de hospedagem não contribui com o Imposto sobre Serviços (ISS), não paga as cotas residenciais do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e não gera empregos formais, diferentemente dos hotéis. Lopes ressaltou que a hotelaria segue uma série de normas regulatórias e está sujeita a inúmeras vistorias dos órgãos públicos para garantir maior segurança aos hóspedes.
Por outro lado, o casal de contadores argentinos optou por se hospedar em um apartamento em Ipanema, na Zona Sul do Rio de Janeiro, por meio da plataforma digital Booking. Essa escolha foi uma maneira de não abrir mão de uma viagem de lazer e economizar, diante da crise econômica em seu país de origem e da desfavorável cotação cambial. Esses exemplos destacam os diferentes motivos pelos quais os viajantes optam por plataformas digitais de hospedagem.
“Pagamos US$90 por noite, enquanto em um hotel gastaríamos até US$150 pelo mesmo período. Ficaremos uma semana na cidade e, com o apartamento, podemos cozinhar e lavar roupas, o que é mais econômico. É nossa primeira vez no Rio, mas já utilizamos essas plataformas quando visitamos a Colômbia, bem como as cidades de Córdoba e Bariloche, na Argentina” diz Martín Mañanes, de 34 anos, ao lado da namorada Agustina Acevedo, 28, na Escadaria Selarón, durante passeio pela Lapa.
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Informações retiradas do Globo