O mercado imobiliário da China atravessou um 2024 turbulento, com prejuízos bilionários, retração nas vendas e endividamento crescente entre as principais incorporadoras do país. Mesmo com intervenções do governo para aliviar a crise de liquidez, os balanços recentes mostram que a recuperação ainda está longe.
A China Vanke Group, uma das maiores incorporadoras do país, registrou prejuízo recorde de 49,5 bilhões de yuans (US$6,8 bilhões) — o primeiro desde sua entrada na bolsa, em 1991. As vendas contratadas da empresa caíram 35% em relação a 2023, somando 246 bilhões de yuans. A companhia já alertou para uma pressão adicional de liquidez em 2025, devido a pagamentos concentrados de dívidas.
Para conter a crise, a Vanke obteve um empréstimo de três anos, no valor de 4,2 bilhões de yuans, do Shenzhen Metro Group, seu principal acionista. A medida veio após a renúncia de dois executivos de alto escalão no início do ano.
Outro destaque negativo é a Country Garden, que mesmo com uma redução expressiva no prejuízo — de 178 bilhões de yuans em 2023 para 32,8 bilhões em 2024 — ainda mantém um endividamento elevado. A dívida total subiu para 253,5 bilhões de yuans ao fim de 2024. Já sua receita caiu 37%, totalizando 252,8 bilhões de yuans.
A Longfor Group, uma das poucas incorporadoras privadas ainda em operação robusta, teve queda de 19% no lucro líquido, que ficou em 10,4 bilhões de yuans. Suas vendas contratadas recuaram 42% no ano, chegando a 101,1 bilhões de yuans.
Ao todo, as 100 maiores incorporadoras da China venderam imóveis no valor de 4,35 trilhões de yuans em 2024, queda de 30,6% em relação ao ano anterior, segundo o China Academy Index.
Mesmo incorporadoras estatais sofreram impactos. A Poly Property Group, ligada às Forças Armadas chinesas, conseguiu crescer 1% nas vendas contratadas, alcançando 54,2 bilhões de yuans, mas viu seu lucro despencar 87%, fechando o ano com 183 milhões de yuans.
A fraqueza do setor gera preocupações adicionais para a economia chinesa, já pressionada por tensões comerciais com os EUA. O setor imobiliário, que já foi um motor de crescimento do país, enfrenta agora um ciclo prolongado de baixa, iniciado em 2020 com as restrições de crédito impostas pelas “três linhas vermelhas”.
O mercado acumula construções inacabadas e estoques elevados de imóveis desocupados, o que afasta compradores e derruba os preços. Medidas como a redução das taxas de financiamento foram adotadas em 2024, mas os efeitos têm se concentrado apenas nas megacidades.
Dados de fevereiro confirmam a tendência de queda. Os preços das casas novas em 70 cidades chinesas recuaram 0,14% em relação ao mês anterior, segundo o banco ING. O investimento em novos empreendimentos caiu 9,8% no primeiro bimestre de 2025, enquanto a construção de novas unidades despencou 30% — agravando ainda mais a crise.
Economistas afirmam que a recuperação econômica da China depende diretamente de uma estabilização do setor imobiliário. “Sem uma estabilização real do setor, não haverá uma recuperação real da economia chinesa”, disse Ting Lu, economista-chefe para China no banco Nomura.
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Informações retiradas de Stella Yifan Xie, Nikkei Asia — Hong Kong a Valor Econômico