A Fundação Bienal de São Paulo revelou detalhes sobre o projeto Terra que ocupará o Pavilhão do Brasil na 18ª Mostra Internacional de Arquitetura, La Biennale di Venezia. A mostra brasileira contará com a curadoria conjunta de Gabriela de Matos e Paulo Tavares e terá a participação de um grupo diversificado de colaboradores, incluindo povos indígenas Mbya-Guarani, Tukano, Arawak e Maku, tecelãs do Alaká, Ana Flávia Magalhães Pinto, Ayrson Heráclito, Day Rodrigues com a colaboração de Vilma Patrícia Santana Silva, o coletivo Fissura, Juliana Vicente, Thierry Oussou e Vídeo nas Aldeias. O projeto visa explorar a relação entre arquitetura e ecologia em conexão com o tema geral da Bienal, “Como viveremos juntos?”.
A mostra parte de uma reflexão sobre o passado, o presente e o futuro do Brasil, colocando a terra como o centro do debate, tanto como poética quanto como elemento concreto no espaço expositivo. A dupla de curadores propôs aterrar todo o pavilhão, permitindo que o público entre em contato direto com a tradição dos territórios indígenas e quilombolas.
“Nossa proposta curatorial parte de pensar o Brasil enquanto terra. Terra como solo, adubo, chão e território. Mas também terra em seu sentido global e cósmico, como planeta e casa comum de toda a vida, humana e não humana. Terra como memória, e também como futuro, olhando o passado e o patrimônio para ampliar o campo da arquitetura frente às mais prementes questões urbanas, territoriais e ambientais contemporâneas.” — Gabriela de Matos e Paulo Tavares
A primeira galeria do pavilhão recebe o nome de De-colonizando o Cânone e busca questionar a narrativa que Brasília, capital do Brasil, foi construída em meio ao nada, ignorando o fato de que os indígenas e quilombolas que habitavam o local já haviam sido expulsos da região desde o período colonial e finalmente empurrados para as periferias com a imposição da cidade modernista.
A mostra busca apresentar uma imagem territorial, arquitetônica e patrimonial mais complexa, diversa e plural da formação nacional e da modernidade no Brasil, apresentando outras narrativas por meio de arquiteturas, paisagens e patrimônios negligenciados pelo cânone arquitetônico.
Com uma variedade de formatos, as obras que compõem a galeria incluem, entre outras, uma projeção audiovisual criada pela cineasta Juliana Vicente, uma seleção de fotografias de arquivo organizada pela historiadora Ana Flávia Magalhães Pinto, o mapa etno-histórico do Brasil de Curt Nimuendajú e o mapa Brasília Quilombola, comissionado especialmente para a mostra.
“Em um momento de grandes desafios enfrentados pela humanidade, realizar a exposição proposta pelos arquitetos Gabriela de Matos e Paulo Tavares é uma maneira de dar visibilidade a pesquisas e práticas que podem contribuir para a elaboração coletiva de nosso futuro.” — José Olympio da Veiga Pereira, presidente da Fundação Bienal de São Paulo
A segunda galeria do pavilhão, intitulada Lugares de Origem, Arqueologias do Futuro, inicia com a projeção do vídeo O Sacudimento da Casa da Torre e o Sacudimento da Maison des Esclaves em Gorée de Ayrson Heráclito e destaca a importância da ancestralidade e arqueologia da memória.
A galeria reunirá projetos e práticas socioespaciais dos saberes indígenas e afro-brasileiros sobre a terra e o território, utilizando cinco referências essenciais: Casa da Tia Ciata, no contexto urbano da Pequena África no Rio de Janeiro; a Tava, como os Guarani chamam as ruínas das missões jesuítas no Rio Grande do Sul; o complexo etnogeográfico de terreiros em Salvador; os Sistemas Agroflorestais do Rio Negro na Amazônia; e a Cachoeira do Iauaretê dos Tukano, Arawak e Maku.
A exposição demonstra o que várias pesquisas científicas comprovam: terras indígenas e quilombolas são os territórios mais preservados do Brasil, e assim apontam para um futuro pós-mudanças climáticas onde “de-colonização” e “descarbonização” caminham de mãos dadas. Suas práticas, tecnologias e costumes ligados ao manejo e produção da terra, como outras formas de fazer e de compreender a arquitetura, estão situadas na terra, são igualmente universais e carregam em si o conhecimento ancestral para ressignificar o presente e desenhar outros futuros, tanto para as comunidades humanas quanto para as não humanas, em direção a outro futuro planetário.
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Informações retiradas do ArchDaily