A vontade de ter mais contato com a natureza e a preferência por espaços mais isolados têm levado os jovens de cidade grande a mudarem o perfil de visitantes de pequenos municípios à beira do Rio Grande, localizado na fronteira entre São Paulo e Minas Gerais.
A inclusão dessa rota no período de férias e feriados tem impulsionado o mercado imobiliário da região. Em Rifaina, a 464 km de São Paulo, já existem pedidos de loteamento que aguardam aprovação para construção de 2.604 novas propriedades, cujo número ultrapassa os imóveis previstos nos últimos cinco anos, quando foram licenciados quatro loteamentos e cinco edifícios com um total de 1.596 imóveis, distribuídos entre 776 lotes e 820 apartamentos.
A valorização da região ocorreu em meio a pandemia mediante a adoção de medidas restritivas que mudaram o perfil de visitantes no local. Embora tenham perdido um público que só ia para um dia na praia, a cidade conquistou um novo turista, que acaba por consumir mais na região, segundo Cláudio Masson, Secretário de Turismo de Rifaina.
Um apartamento de luxo em Rifaina pode custar até R$784 mil, e um terreno de 200 metros quadrados pode custar até R$840 mil.
“Houve uma mudança mais destacada no período em que a praia ficou fechada e somente o calçadão estava aberto. Tivemos somente o público que vem para frequentar quiosques, restaurantes e bares da orla para consumo”, afirma.
A chegada de turistas em um raio de 300 km cresceu de 40% para 65% na mineira Sacramento, banhada pelas represas de Jaguara, Igarapava e Estreito.
“Outro aspecto relevante é a diminuição da faixa etária do turista que vem para a nossa cidade”, afirmou Patrick Pacheco, secretário municipal de Desenvolvimento Econômico e Turístico.
Entre os destaques da procura estão o turismo de aventuras como o cicloturismo.
60% dos imóveis aprovados em Rifaina são classificados como luxo. Os valores para locação por final de semana fora de temporada variam entre R$3 mil e R$5 mil em feriados mais movimentados, como o carnaval, por exemplo.
O empresário João Mansano de 54 anos possui um rancho na represa do Jaguará há cerca de 30 anos, e já observou o aumento na procura por espaços para venda e locação.
“É uma forma segura de as famílias se encontrarem e aproveitarem um tempo junto durante essa pandemia que estamos vivendo. A gente sente que as pessoas querem sair da cidade para um lugar mais isolado”, afirmou Mansano.
O engenheiro civil Amir Choaib, proprietário da Urbanfield Empreedimentos de Ribeirão Preto fez seu primeiro empreendimento na represa do Jaguará em 2000. Nos anos posteriores vieram o complexo turístico Kanoah Home Resort e diversos outros residenciais de alto padrão.
Para 2022 já está programado o lançamento de mais um loteamento fechado com 300 lotes residenciais e 46 lotes de uso misto [comercial] para atender a demanda na área.
“A expectativa é que esse novo empreendimento denominado Jardim América torne-se futuramente um novo bairro de Rifaina”, afirmou o engenheiro.
Os novos residenciais e verticalizações dos últimos anos têm ajudado a consolidação do interior como um polo de turismo à beira de lagos. Choaib relata que imóveis ‘privilegiados pela natureza’ geralmente são adquiridos com fins de lazer para passar finais de semana e férias, mas a pandemia mudou alguns hábitos.
“Na fase de isolamento social, as pessoas buscaram também qualidade de vida e um lugar mais tranquilo, e chegamos a ter mais de 70 famílias morando em um dos nossos residenciais enquanto estavam em home office”, contou o engenheiro.
Marcelo Adriano da Silva é de Sertãozinho e atua no ramo alimentício. O empresário conta que em 2000 comprou o primeiro lote em Rifaina para ter uma casa de veraneio para a família, mas logo após começou a construir para revender. Atualmente já fez oito imóveis e acabou de adquirir mais um lote residencial.
“É quase um hobby construir e também vou quase toda semana com família e amigos”, afirmou o empresário. Para ele, a proximidade da represa é um diferencial importante. Para ele, a proximidade da represa é um diferencial importante.
“Gosto de andar de lancha e jet-ski, mas para ir até o litoral são no mínimo cinco horas de viagem. Aqui chegamos em uma hora e meia. Posso vir só para passar o fim de semana ou até em um bate-e-volta no mesmo dia.”
Fiscalização na região
Este ano será intensificado o processo de fiscalização de imóveis na região que não possuem cadastro legal na prefeitura por meio da iniciativa da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) e o Cartório de Registro de Imóveis.
“Estamos em fins de revisão do Plano Diretor e será dado o devido procedimento para que possamos regularizar todas as situações existentes em nosso município, proporcionando segurança jurídica para os proprietários, em contrapartida da oferta do serviço público cabível e justificável”, disse Pacheco.
Uma parte dos ranchos de Rifaina localizam-se próximos às áreas rurais, nas quais é possível tomar um café da tarde mineiro ou comprar doces de compota e queijo. Além da gastronomia, existe ainda o aluguel de caiaques, pranchas de stand-up e aulas de mergulho.
Mesmo não havendo cânions na região, o secretário de Turismo do local informa que é realizada a orientação quanto ao manuseio de lanchas e escunas às empresas para garantir a segurança no local.
Há o projeto de realizar um levantamento técnico sobre os riscos e pontos críticos dentro de cada equipamento turístico divulgado pela cidade.
“Tais informações serão devidamente disponibilizadas em nosso site, para que possamos não só divulgar um destino turístico, mas que o façamos com toda a segurança”, reforçou Pacheco.
Fonte: Folha de S. Paulo