Com a evolução da população idosa no Brasil, o mercado imobiliário tem observado com cada vez mais atenção para esse público. Entre as novidades, estão condomínios que incluem ambulatórios médicos internos, espaços adaptados e até robôs que ajudam na rotina dos moradores.
Para Luiz França, presidente da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias, a demanda crescente de São Paulo ainda não é atendida. Ele se ampara em estudo da Fundação Seade que aponta aumento da expectativa de vida no Estado de 17,7 anos em cinco décadas. “Certamente, é um segmento com alto potencial.”
Claudio Bernardes, vice-presidente do Sindicato das Empresas de Compra, Venda e Administração de Imóveis (Secovi) em São Paulo, vê sinais de mudança. “Verificamos aumento do público, o que permitirá escala suficiente para novos empreendimentos.”
Em um residencial adaptado, você pode encontrar serviços incluídos no valor do condomínio e pode agregar outros, pagos à parte, à medida em que envelhece. É o conceito aging in place, consolidado nos Estados Unidos, mas que ganha força agora por aqui: moradias para quem tem mais de 60 anos com infraestrutura que acompanha as demandas que surgem com a idade.
O condomínio Vintage Senior Residence é um exemplo, o projeto da Cyrela em Porto Alegre, oferece enfermeiro 24 horas a partir de uma parceria com o Grupo ATS, especializado em gestão da saúde. Além disso, os botões antipânico dos 120 apartamentos (um no quarto e outro no banheiro) acionam a recepção e o ambulatório.
A enfermeira Mariana Guaragna conta que os atendimentos mais comuns envolvem a medição de pressão arterial, temperatura, saturação de oxigênio e glicose. Em quase seis meses de funcionamento, a única emergência foi um caso de desidratação grave de um paciente com covid-19. A ambulância foi chamada, mas ele não precisou de internação.
Em São Paulo, o Matture Home Life, da construtora Matushita, prevê uma parceria na área de telemedicina, que vai oferecer atendimento para consultas de emergências aos moradores. O edifício será erguido na região da Vila Mariana, zona sul. As obras começam neste semestre e têm entrega prevista em 30 meses.
Mais acessibilidade nos imóveis já é lei desde 2020
A Lei de Acessibilidade, em vigor desde 2020, promove indiretamente a inclusão dos idosos no mercado imobiliário. Embora fixe normas de acessibilidade das pessoas com deficiência, ela prevê, por exemplo, a necessidade de corredores e elevadores mais largos para macas e cadeiras de rodas.
“A norma está sendo implementada, mas alguns empreendimentos imobiliários anunciam isso como diferencial. Isso é básico, elementar“, afirma a arquiteta e urbanista Lilian Avivia Lubochinski, que assina projetos de condomínios para idosos no Brasil e no exterior. “Velhice não é doença, é um período da vida“, continua.
O engenheiro Norton Mello, autor do livro Senior living – conceito, mercado global e empreendimentos de sucesso, afirma que o mercado ainda está no início no Brasil. “Há um problema na formação técnica de arquitetos e engenheiros. Não há disciplinas formais sobre projetos de saúde e bem-estar nos cursos. Só na pós”, avalia.
Fonte: Terra