A construção civil no Brasil enfrenta um cenário desafiador em 2023, com a atividade do setor desacelerando em comparação a 2022, de acordo com dados da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC). As projeções iniciais de crescimento de 2,5% foram revisadas para 1,5%, e agora a expectativa é de encerrar o ano com uma queda de 0,5%. No terceiro trimestre de 2023, o PIB da construção registrou uma queda significativa de 3,8%, marcando o pior resultado desde o segundo trimestre de 2020.
Os desafios incluem o impacto dos juros altos, a escassez de estoque e os custos elevados, contribuindo para a desaceleração do setor. Renato Correia, presidente da CBIC, destaca a perspectiva de aumento no preço dos imóveis acima da inflação em 2024, atribuindo isso à baixa oferta no mercado, custos elevados e ao fim da desoneração, que resulta no encarecimento da mão de obra na construção civil.
O fraco desempenho econômico enfrentado pelos empresários é atribuído às elevadas taxas de juros no país, segundo Correia. Além disso, o resultado aquém do esperado é influenciado pelo término do ciclo de pequenas obras e reformas iniciado na pandemia, assim como pela demora na divulgação das novas regras do programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV). As obras de infraestrutura, como projetos de saneamento e construção de rodovias e estações de metrô, têm sido um ponto positivo, amenizando o impacto negativo.
O setor de construção civil, apesar do resultado inferior em relação a 2021 e 2022, que foram anos de recorde histórico para o mercado imobiliário, ainda conseguiu criar 254 mil novas vagas nos primeiros dez meses do ano. O aquecimento do segmento em 2024, ano de eleições municipais, foi destacado, resultando em um aumento de quase 30% na contratação de profissionais de janeiro a outubro em comparação com o mesmo período do ano anterior. Este é o terceiro melhor resultado desde 2012.
São Paulo destacou-se como o estado líder na geração de empregos nos setores de construção de edifícios, serviços especializados e obras de infraestrutura. Embora a indústria da construção empregue 6% dos trabalhadores com carteira assinada no país, ela foi responsável por mais de 14% dos novos empregos formais até outubro, conforme dados do Caged.
No entanto, há preocupações para o próximo ano, com a possibilidade de queda nesse percentual devido ao fim da desoneração da folha de pagamentos. O presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic) ressaltou que, mesmo sem a desoneração, o alto custo da mão de obra persiste. O Custo Unitário Básico (CUB) tem sido utilizado como um mecanismo de reajuste de preços e indica que, em Goiás, um estado em crescimento imobiliário, o custo com mão de obra pode subir cerca de 15% sem a desoneração. Empresários e a Cbic estão trabalhando para evitar o fim desse benefício.
O atual presidente do Brasil vetou a prorrogação da desoneração da folha de pagamento para 17 setores da economia, incluindo o Grupo Folha, responsável pela edição da Folha. Essa medida reduz as alíquotas de 20% sobre a folha de salários para 1% a 4,5% sobre a receita bruta. O benefício, originalmente previsto até 2027, pode ser revertido pelos parlamentares, que têm o poder de derrubar o veto presidencial.
O Ministério da Fazenda está trabalhando em uma alternativa que atenda aos empresários e seja discutida durante a Reforma Tributária, visando evitar impactos nas contas públicas. Atualmente, a desoneração representa um custo de R$ 9,4 bilhões por ano para os cofres públicos.
No período de janeiro a outubro de 2023, a poupança, tradicional fonte de financiamento da construção, enfrentou perdas significativas, estimadas em quase R$ 100 bilhões até o final do ano, devido à alta taxa de juros. O número de unidades financiadas pelo Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) registrou uma queda de 32,70% em comparação com o mesmo período do ano anterior. Em contraste, o financiamento com recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) aumentou em 30,16%.
Para o ano de 2024, a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) projeta um crescimento de 1,3%, baseando-se na expectativa de contínuas reduções na taxa básica de juros (Selic) pelo Banco Central e em um novo ciclo de lançamentos pelo programa Minha Casa, Minha Vida, além de obras pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). No entanto, a entidade destaca desafios como o ritmo mais lento de crescimento da economia brasileira, baixos investimentos, o endividamento das famílias e os juros, que, apesar de estarem em declínio, permanecem em níveis elevados.
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Informações retiradas de Ana Paula Branco à Folha de S.Paulo