Durante muito tempo, conquistar a casa própria foi considerado o maior símbolo de estabilidade para o brasileiro. No entanto, esse desejo vem cedendo espaço à realidade — e, para muitos, também a novas preferências. Segundo a mais recente edição do Anuário DataZap, esse comportamento está em transformação, impulsionado por fatores econômicos e mudanças no estilo de vida.
O levantamento, realizado em 2024 com 2.809 participantes, traçou o perfil e as motivações de quem opta por imóveis alugados. Os dados reforçam uma tendência já observada pelo IBGE: o número de brasileiros vivendo em domicílios alugados saltou de 12,3% em 2000 para 20,9% em 2022 — praticamente um em cada cinco cidadãos.
De acordo com Coriolano Lacerda, gerente de Pesquisa e Inteligência de Mercado do Grupo OLX, o avanço no número de locações está fortemente ligado ao contexto econômico. “Em 2025, espera-se que, diante das altas taxas de juros, a procura por imóveis para locação continue a crescer, já que muitas pessoas adiarão a compra e optarão pelo aluguel devido à dificuldade de acesso ao crédito”, afirma. Ele complementa que os reajustes nos aluguéis, que desaceleraram em 2024, “têm grandes chances de se estabilizar ou até mesmo voltar a crescer em 2025, devido ao aumento da demanda por imóveis alugados”.
Perfil de quem aluga
O estudo do DataZap revelou que 64% dos locatários são mulheres, enquanto os homens representam 36%. A maioria pertence à geração X (41 a 60 anos), que responde por 45% dos entrevistados. Os baby boomers (61 anos ou mais) e a geração Y (29 a 40 anos) aparecem em seguida, com 22% cada, e a geração Z (18 a 28 anos) representa 11% do total. A média de idade dos locatários é de 48 anos.
A auxiliar de nutrição Fernanda Travassos, de 45 anos, reflete bem esse perfil. Morando de aluguel há 18 anos, ela relata frustração com a experiência. “Eu já moro de aluguel há 18 anos e considero totalmente negativo. Sinto como se fosse um dinheiro jogado fora, porque se a casa fosse minha e eu estivesse pagando as prestações, seria um investimento, mas o aluguel é uma despesa mensal, o que compromete essa aplicação”, afirma.
O sentimento de Fernanda dialoga com a situação financeira da maior parte dos locatários: 84% pertencem às classes B e C, com uma renda familiar mediana de R$ 6.587,70 — valor que, muitas vezes, é quase totalmente consumido pelo custo do aluguel. Apenas 13% são da classe A, e 3%, das classes D e E. “O dinheiro que temos vai praticamente todo no aluguel, o que, para mim, é muito ruim tanto financeiramente quanto pessoalmente. Nunca é tarde para sair do aluguel e quero muito fazer uma casa do meu jeito no futuro”, desabafa.
Aluguel como escolha
Se para muitos o aluguel representa um obstáculo ao sonho da casa própria, para outros ele simboliza praticidade e liberdade. É o caso de Viviane Sales, empresária do setor de agenciamento marítimo, que vive de aluguel há 14 anos por opção. “Já construí uma casa e planejamos comprar o atual apartamento, mas, para mim, o aluguel traz a vantagem de não ter dor de cabeça com a administração do imóvel, porque não preciso lidar diretamente com a manutenção geral do apartamento e também com as despesas extras do condomínio”, explica.
Entre esse público, os fatores decisivos na hora de escolher um imóvel para alugar são a segurança da região (26%) e as características do imóvel (25%), de acordo com o DataZap.
O cenário mostra que o aluguel, por muito tempo visto apenas como uma etapa provisória, ganha novos significados: seja pela necessidade imposta pela economia, seja pela conveniência que oferece em meio a um cotidiano cada vez mais dinâmico.
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Informações retiradas de Yasmin Spiegel á Gazeta