No final de janeiro, a Abecip, que reúne as entidades do crédito imobiliário no Brasil, previu que a piora do cenário econômico levaria a uma queda de 15% a 20% nos financiamentos bancados por recursos da poupança, reduzindo o volume de R$ 187 bilhões registrados no ano passado para cerca de R$ 155 bilhões. No entanto, essa previsão não é compartilhada por todo o setor. Luiz França, presidente da Abrainc, associação das incorporadoras brasileiras, acredita que a queda não será tão acentuada. “As pessoas continuam com a intenção de comprar imóveis”, afirma.
De acordo com França, o desejo de adquirir a casa própria aumentou. Pesquisa realizada pela Abrainc mostrou que, no terceiro trimestre de 2024, 46% dos entrevistados declararam intenção de comprar um imóvel, uma alta de 10 pontos percentuais em relação aos 36% registrados no mesmo período do ano anterior. França observa que, apesar do aumento da taxa básica de juros, a intenção de compra seguiu em alta. Em setembro de 2024, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central iniciou um novo ciclo de aumento da Selic, que passou de 10,5% para 10,75% ao ano.
“Mesmo com a alta dos juros, nossa pesquisa mostra que a intenção de compra aumentou”, destaca França, embora reconheça que os juros mais altos dificultam a situação tanto para as incorporadoras quanto para os clientes. A pesquisa também revelou que 37% dos entrevistados queriam sair do aluguel, 17% buscavam uma residência maior e 11% pretendiam sair da casa dos pais. Mesmo com possíveis quedas nas intenções de compra, França acredita que 51% dos potenciais compradores permaneceriam no mercado, impulsionados pela necessidade de sair do aluguel. “Essas pessoas comprarão um imóvel, independentemente da alta dos juros”, afirma.
França também lembra que, mesmo com a Selic em 15% ao final de 2024, como é previsto por analistas, os juros do crédito imobiliário não acompanharão a mesma trajetória. A poupança, principal fonte de recursos para o setor, tem rendimento abaixo de 6% ao ano. Embora a captação líquida da poupança esteja negativa desde 2021, o mercado imobiliário ainda conta com fontes alternativas, como as Letras de Crédito Imobiliário (LCIs), que oferecem benefícios fiscais. Apesar de as LCIs precisarem oferecer remuneração próxima ao CDI para atrair investidores, elas complementam o financiamento do setor, que permanece majoritariamente dependente da poupança.
Além disso, as taxas de juros no crédito imobiliário continuam limitadas por lei: para financiamentos bancados pela poupança, o limite é de 12% ao ano mais TR (Taxa Referencial). França também lembra que, caso um banco queira elevar os juros além da concorrência, o tomador pode solicitar a portabilidade do financiamento para outra instituição que ofereça melhores condições. O Banco Central tem prometido intensificar a portabilidade de crédito este ano. “Ninguém precisa travar a taxa de juros do financiamento por trinta anos”, conclui França.
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Informações retiradas de Márcio Juliboni a Exame