Agosto deve iniciar com uma nova taxa de juros — a Selic. O mercado financeiro estima um aumento de 0,50 ponto porcentual, que levaria a taxa atual de 13,25% ao ano para 13,75%. A decisão ainda precisa ser aprovada, no entanto o resultado está bem próximo, tendo em vista que, ela deve ser tomada na quarta-feira (dia 3), pelo Comitê da Política Monetária, do Banco Central.
A nova Selic deverá interferir em boa parte dos investimentos ao longo do mês. Não apenas o novo juro básico, mas principalmente os passos seguintes de política monetária.
O documento que o BC irá divulgar logo após a reunião, indicará o que o mercado deve encontrar sobre o possível fim do ciclo de alta, iniciado em março de 2021, quando a Selic estava na mínima histórica de 2% ao ano.
Gustavo Menezes, gestor de portfólio macro da AZ Quest, associa o eventual fim do ciclo de alta da Selic às futuras decisões de política monetária do Fed (Federal Reserve, banco central americano). Menezes classifica o mercado de dívida dos EUA como espinha dorsal do mercado financeiro global, e diz que a falta de direção dos juros nos títulos de curto prazo americanos (Fed Funds) dificulta previsões sobre a Selic. No entanto, ele prevê que o ciclo de ajuste doméstico esteja chegando ao fim.
As condições que Menezes aponta para isso acontecer, são a queda dos preços internacionais do petróleo, o tom mais brando da fala do Fed, a revisão pelo mercado americano da inflação implícita nos títulos, dados recentes de atividade negativos nos EUA….“Tudo isso é um cenário que ajuda, deixa o Banco Central confortável para aumentar mais 0,50 ponto e terminar o ciclo nesta quarta”. Ainda assim, ele lembra que diversos fatores compõem um quadro mais desafiador para a autoridade monetária, como a soma do cenário externo e doméstico, ambiente interno de inflação persistente, além do mercado de trabalho aquecido e atividade em alta.
Embora o cenário externo seja positivo, ainda existem muitas incertezas do mercado financeiro. “As notícias recentes foram favoráveis aos ativos de risco, mas a cautela continua”, alerta Menezes. “O cenário está aberto. Agosto pode confirmar o otimismo ou trazer novas incertezas.”
Luiz Cesta, head de análise da Monett, diz: “É um mês em que vai persistir a dúvida sobre a inflação e os juros americanos”. Ou seja, as taxas de inflação nos Estados Unidos ao longo do mês, será um fator determinante para o mercado financeiro. Já Gustavo Bertotti, economista da Messem Investimentos, também prevê uma alta de 0,50 ponto porcentual na Selic, para 13,75%. Além do fim do ciclo nesta quarta-feira, diz que outro fator de atenção no exterior é a China. Para ele, uma redução dos contágios de covid, seguida de abertura da economia chinesa, deve impactar positivamente o País, grande exportador para o país asiático.
Trajetória da bolsa e inflação no mercado interno
A previsão dos especialistas é que a bolsa de valores deverá permanecer sob influência dos eventos internacionais. Principalmente pelos dados da economia americana que podem afetar as decisões de política monetária do FED.
Menezes acredita que agosto seja mais favorável aos ativos de risco, como ações e dólar, com eventual postura mais comedida do Fed na condução da política de juros nos EUA. Ele também não está otimista com a trajetória da inflação em agosto. Especialistas tem se divido entre os que apostam na continuidade da deflação prevista para julho e a volta do IPCA para o campo positivo em agosto, embora abaixo dos índices mais recentes.
Eleição aumenta a aversão ao risco
Para Bertotti, em agosto a relutância das pessoas para aceitar um negócio com um retorno incerto deve se intensificar com o início da corrida eleitoral. Segundo ele, o mercado de dólar deve passar por maior volatilidade, mas o comportamento de preços estaria ligado à busca de proteção que dependeria da avaliação de indicadores econômicos e declarações sobre inflação e juros nos EUA.
“A expectativa é que a campanha eleitoral fique mais acirrada em agosto”, afirma Cesta, head de análise da Monett. “A volatilidade deve aumentar nos mercados e deve estar muito ligada à divulgação de pesquisas eleitorais”, em um ambiente mais aquecido de disputa política.
Fonte: Mais retorno