Com o aumento da expectativa de vida no Brasil, o mercado imobiliário se movimenta para atender essa nova demanda. O público com mais de 60 anos hoje em dia é muito mais autônomo. Prova disso é que nos Estados Unidos apenas 4% da população idosa encontra-se em uma Instituição de Longa Permanência para Idosos (ILPIs), entre estes, 10% possuem mais de 85 anos e a grande maioria desempenha suas atividades do dia a dia de forma independente.
Além disso, pesquisas indicam que 90% da população tem medo de envelhecer e as complicações de saúde (77%) e limitações físicas (72%) são as principais razões para tal. Além disso, o medo de ficar sozinho também é um receio recorrente nos relatos.
Diante dessas informações, o mercado imobiliário se movimenta para transformar o conceito de moradia para o público da terceira idade por meio de uma arquitetura que corresponda às necessidades dessa camada da população.
A arquiteta e urbanista Lilian Lubochinski, entende que “Arquitetura para a longevidade é diferente de acessibilidade. Acessibilidade é norma universal, inclui todas as diversidades e fases da vida, deveria estar em todos os lugares. Já a arquitetura para a velhice é construir arranjos espaciais que favorecem esse período da vida.”
A especialista, de 73 anos, conta que 90% do seu público é constituído por mulheres e que o receio pela falta de companheirismo, amizade e de atividades permeia entre a grande maioria. Isso, segundo Lilian, é fruto de uma cultura hegemônica que vê a velhice como um fantasma, o que ocasiona a epidemia da solidão. “A pessoa se aposenta e às vezes se isola. Aí adoece e morre.”
Como alternativa para o problema, a arquiteta está desenvolvendo seus primeiros projetos de co-lares, cujo potencial para combater a vulnerabilidade na velhice é grande. Isso porque essa nova tendência resgata a ideia de comunidades e aldeias de povos originários.
“No cohousing colaborativo, as estruturas são mais favorecedoras da convivência. É uma vizinhança que se conhece e se reconhece, existe um vínculo de confiança. O grande desafio é criar serviços públicos e sociais que favoreçam essa convivência, com diferentes tipologias para atender à diversidade das demandas.”
De acordo com Milton Fontoura, CEO do Grupo de Estudos Urbanos (GEU), até 2030 o Brasil terá mais velhos do jovens, esse cenário, segundo ele, consequentemente faz maior a necessidade de se desenvolver produtos e soluções com foco na experiência, sobretudo de moradias que integram serviços essenciais para os idosos. No Brasil, já existem empreendimentos em Curitiba, São Paulo, Porto Alegre, Rio de Janeiro e Porto de Galinhas que contam com serviços de alimentação saudável, atividades, terapia e atendimento médico.
Atualmente estima-se que o Brasil já possui potencial para, em média, 1 milhão de camas em senior livings, empreendimentos cuja proposta é oferecer um envelhecimento ativo. O grande desafio e um dos pilares para o desenvolvimento desse conceito de negócio é torná-lo acessível para todas as camadas da população, segundo Fontoura.
“Estamos ainda num momento incipiente do desenvolvimento desse produto, então evidentemente começa pelo topo da pirâmide, com preços mais restritivos. A questão é como criar produtos economicamente mais viáveis, de modo a atender a segmentos intermediários”, diz ele.
Complexo imobiliário amplo
Observando essa nova tendência do mercado imobiliário, o engenheiro está desenvolvendo um novo empreendimento que, embora não seja exclusivamente voltado para o público 60+, oferecerá diversos serviços voltados para este grupo, com ênfase para um hospital de alta complexidade no local, com consultoria do Sírio Libanês.
Bairro planejado para atender ao público 60+
A 30 quilômetros de Brasília (DF), um outro condomínio, agora exclusivo para idosos, está em fase de desenvolvimento de projeto. A região possui 50 mil metros quadrados e 250 lofts de alto padrão. Há monitoramento 24 horas por dia de todos os sinais vitais de seus moradores, além de sessões de fisioterapia, nutricionista e enfermeira.
Fazem parte dos serviços oferecidos o restaurante, academia de ginástica, clube completo com piscinas térmicas, salão de jogos com carteado e mesas de sinuca, quadra de tênis, centro de recreação com animadores e programação diária de entretenimento, pista de cooper e ciclovia, spa e massagens, aulas de yoga, tai-chi-chuan e dança de salão.
Fonte: Estadão