Mercado imobiliário do Nordeste movimenta mais de R$15 bilhões e incorporadoras do estão otimistas com a melhora da conjuntura econômica no Brasil, incluindo o desaquecimento da inflação, crescimento do PIB acima do previsto e a iminência do ciclo de corte de juros. Além disso, os ajustes no programa Minha Casa, Minha Vida impulsionam os negócios.
Esses fatores resultarão em uma expansão dos lançamentos imobiliários no segundo semestre, com as incorporadoras buscando diversificar seus projetos e expandir para novas cidades, tanto dentro quanto fora da região Nordeste. Esses tópicos foram discutidos em um seminário online promovido pela Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) no dia 13 de julho.
Especialistas comentam
“Vejo a economia melhorando pouco a pouco. A expectativa de PIB está cada vez maior e a inflação está caindo. Isso vale inclusive para o INCC [que mede os custos na construção]”, afirmou o diretor de assuntos econômicos da Abrainc, Renato Lomonaco. “Está faltando apenas o último gatilho, que é a queda de juros. Isso deve acontecer em agosto e será muito importante para o mercado imobiliário de média e alta renda”, avaliou.
Diego Villar, presidente da Moura Dubeux, a maior incorporadora imobiliária do Nordeste, expressou confiança na melhora da economia brasileira durante um recente seminário. Essa confiança já está refletindo em um aquecimento nos negócios da empresa. A Moura Dubeux concentra-se em imóveis residenciais de alto padrão e apartamentos de veraneio em sete capitais: Recife, Fortaleza, Salvador, Maceió, Natal, João Pessoa e Aracaju.
De acordo com Villar, as vendas líquidas aumentaram 14% no segundo trimestre de 2023 em comparação com o mesmo período de 2022, totalizando R$ 351 milhões. Ele descreveu esse como o melhor segundo trimestre da companhia. Desde o início de maio, o mercado tem mostrado um otimismo maior do que nos seis meses anteriores, e há uma expectativa de que as coisas comecem a melhorar, afirmou Villar, referindo-se à situação econômica atual. O executivo destacou que essa perspectiva positiva tem contribuído para aumentar a confiança tanto entre empresários quanto entre consumidores.
Construtoras também comentam sobre o assunto
A construtora Moura Dubeux está otimista em relação ao seu desempenho de vendas, projetando alcançar um recorde este ano. A empresa planeja acelerar seus lançamentos e solidificar sua posição como uma das principais no mercado imobiliário brasileiro, rivalizando com empresas renomadas como Even, Eztec, Mitre e Trisul. Até o momento, a Moura Dubeux já lançou empreendimentos no valor de R$ 842 milhões, e espera atingir a marca de R$ 2 bilhões até o final do ano.
Além disso, a empresa está expandindo para um novo segmento ao lançar a Mood, uma marca que visa atender o mercado imobiliário de médio padrão. Com imóveis na faixa de R$400 mil a R$500 mil, a Mood pretende atender clientes com renda de até R$12 mil, que encontravam dificuldades em adquirir apartamentos de valor mais elevado, mas não desejavam unidades econômicas do programa Minha Casa Minha Vida.
Os primeiros projetos serão realizados em Natal, e a empresa planeja fazer pelo menos um lançamento por ano em todas as sete capitais nordestinas onde já está presente. A criação da Mood tem como objetivo tanto atender a demanda não atendida por outras empresas, como impulsionar a lucratividade da Moura Dubeux.
R$15 bilhões por ano
De acordo com um levantamento realizado pela consultoria Brain Inteligência Estratégica, o mercado imobiliário no Nordeste movimenta cerca de R$15 bilhões em vendas por ano, considerando apenas as capitais. Segundo o presidente da Brain, Fábio Tadeu Araújo, o estoque de imóveis residenciais na região está baixo, o que cria oportunidades para novos negócios no futuro.
Desde 2020, as vendas imobiliárias têm superado os lançamentos no Nordeste. Nos últimos 12 meses até março, foram vendidas 35,7 mil unidades, enquanto os lançamentos totalizaram 31 mil unidades. Essa redução nos lançamentos ocorreu devido aos altos juros e aos obstáculos no programa habitacional Minha Casa Minha Vida. Araújo ressaltou que a queda nas vendas não se deve à falta de demanda, mas sim à diminuição nos lançamentos.
Araújo avalia que atualmente há uma escassez de produtos imobiliários no Nordeste. O estoque de imóveis está em 32,4 mil unidades, o que é suficiente para suprir a demanda por aproximadamente 11 meses.
Minha Casa Minha Vida
As recentes mudanças no programa MCMC impulsionam os empreendimentos na região, que agora poderão se enquadrar no programa e desfrutar de taxas subsidiadas.
O presidente da incorporadora sergipana Jotanunes, Paulo Nunes, enxerga essa situação como uma oportunidade de crescimento para sua empresa, que é especializada no MCMV e enfrentou dificuldades com o aumento dos custos de construção durante a pandemia e a queda do poder aquisitivo da população. Ele ressalta que a empresa passou por uma fase difícil, realizando ajustes de custos, mas agora está buscando oportunidades de crescimento de forma cautelosa.
No segundo semestre, as incorporadoras Jotanunes, Stanza e Diagonal estão em fase de crescimento e buscando novas oportunidades de negócio. A Jotanunes, que atua na região metropolitana de Aracaju, pretende expandir para Juazeiro (PE), Petrolina (PE), Alagoinhas (BA) e Mossoró (RN). Com expectativas positivas, a empresa planeja lançar de R$400 milhões a R$500 milhões em projetos até dezembro.
A Stanza, outra incorporadora de Sergipe, também está otimista e prevê lançar cerca de R$250 milhões no segundo semestre, com projetos em Aracaju e Salvador. A Diagonal, de Fortaleza, está diversificando seus negócios, aproveitando as perspectivas favoráveis do programa Minha Casa Minha Vida. Tradicionalmente focada em residenciais de alto padrão, a empresa criou uma operação voltada para o público de baixa renda e planeja lançar projetos em toda a Região Nordeste.
“Por melhor que seja o mercado de alto padrão do Ceará, ele é limitado. Não conseguimos escalar tanto”, explicou o presidente do grupo, João Ximenes Fuiza. Assim, a Diagonal criou a subsidiária Victa com objetivo de explorar o MCMV, segmento em que vê oportunidade de ganhar escala. A estratégia foi inspirada em exemplos de incorporadoras com atuação nacional, como a MRV e a Direcional (de quem a Diagonal já foi parceira). Em 2023, a Victa vai quadruplicar os lançamentos na comparação com 2023, chegando a R$400 milhões.
Chegada em São Paulo
A incorporadora nordestina Grupo Marquise expandiu suas operações para além do Nordeste e abriu sua primeira filial em São Paulo em 2021. A empresa decidiu aproveitar as oportunidades e o mercado imobiliário robusto da maior cidade do país. Desde então, lançou dois empreendimentos em São Paulo, que estão atualmente em fase de obras. Com base nas vendas satisfatórias, a Marquise planeja lançar mais dois empreendimentos ainda neste semestre, acelerando suas atividades na região.
Os projetos da empresa em São Paulo seguem o padrão de alto luxo e alto padrão que ela já realiza em Fortaleza.
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Informações retiradas de Exame