A locação de imóveis, tanto no modelo multifamily (empreendimentos residenciais destinados exclusivamente à locação) quanto no modelo tradicional, é uma estratégia crucial para enfrentar o déficit habitacional no Brasil. O tema foi debatido no Summit Imobiliário 2024, realizado em São Paulo, durante o painel “Tendências para a Economia Brasileira e para o Mercado Imobiliário em 2025”.
De acordo com Moira Regina Toledo, diretora de risco e governança da Lello Imóveis, apenas 20% das necessidades habitacionais no Brasil são atendidas pela locação, enquanto países como a Suíça registram índices de 50%. “Isso demonstra o potencial inexplorado desse mercado no Brasil”, afirmou.
Moira também destacou que a locação é uma forma de complementar a renda de muitos brasileiros. “Isso fica ainda mais evidente no segmento de menor custo, em que pequenos investidores compram imóveis com seus recursos acumulados ao longo da vida e os alugam para garantir um reforço financeiro, sobretudo diante de um sistema previdenciário que muitas vezes não é suficiente para atender às necessidades de aposentadoria.”
Impactos econômicos e tributários
Apesar do potencial, o retorno financeiro influencia diretamente a escolha de investir em locação. “Quando o mercado financeiro oferece alternativas mais atrativas do que o investimento em locação, o capital migra para onde há maior rentabilidade”, explicou Moira.
A situação pode se agravar com as mudanças tributárias propostas. Um levantamento da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) indica que os impostos sobre aluguéis podem aumentar até 136,2% caso a reforma tributária, aprovada recentemente na Câmara dos Deputados, entre em vigor.
Moira enfatizou que, com um déficit habitacional de cerca de 7 milhões de moradias no Brasil, é essencial garantir segurança jurídica e condições favoráveis para o mercado de locação. “Sem isso, o mercado não terá condições de expandir e atender às necessidades habitacionais da população, comprometendo um direito básico e fundamental relacionado à dignidade e ao bem-estar social.”
Repercussão no mercado
Para André Lucarelli, vice-presidente sênior de investimentos da Brookfield, o aumento da carga tributária inevitavelmente será repassado ao valor do aluguel, impactando todas as classes sociais. “Mesmo os pequenos investidores, que alugam imóveis como pessoa física, acabarão repassando esse custo aos inquilinos”, disse.
Essa dinâmica, segundo Lucarelli, pode desencadear um efeito cascata, encarecendo o acesso à moradia e dificultando a situação já desafiadora do setor imobiliário. “Se essas mudanças forem implementadas, os impactos podem ser severos.”
Moira complementou que a alta no aluguel não será apenas reflexo da tributação, mas também da retração na oferta. “Quando o investimento no setor é desestimulado, a quantidade de imóveis disponíveis para locação diminui, enquanto a demanda permanece constante ou até aumenta, acompanhando o crescimento populacional”, afirmou.
Florianópolis é uma das cidades que já enfrentam esse desequilíbrio, apontou Moira. “São cidades onde a demanda por moradia segue em alta, mas a oferta de imóveis para locação não acompanha o ritmo. Esse desequilíbrio tende a intensificar ainda mais a pressão sobre os preços.”
Carolina Burg Terpins, fundadora e CEO da Antonella Realty, reforçou o alerta. “Com o poder de compra das pessoas já comprometido, o impacto será ainda maior nos aluguéis, tornando-os menos acessíveis para inquilinos e, ao mesmo tempo, menos atrativos para investidores”, disse.
Com essas perspectivas, especialistas defendem que a locação seja mais valorizada como uma alternativa viável para reduzir o déficit habitacional e equilibrar o mercado imobiliário no Brasil.
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Informações retiradas de Estadão