No mercado imobiliário, a inovação e a capacidade de adaptação são essenciais para o sucesso. Neste cenário dinâmico, alguns profissionais se destacam por trazer novas soluções e transformar desafios em oportunidades. Um desses profissionais é Daniel Gava fundador do Rooftop, cuja trajetória une direito, tecnologia e mercado imobiliário em um modelo de negócios inovador.
Nesta entrevista exclusiva do Papo Imobiliário, nosso CEO Yuri Peterka conversa com Daniel Gava, fundador e CEO da Rooftop, empresa que está transformando o acesso à liquidez imediata no mercado imobiliário. Da advocacia à inovação, Gava compartilha sua trajetória, os desafios superados e os diferenciais que fazem da Rooftop uma solução disruptiva no setor.
Confira a seguir esse bate papo inspirador sobre empreendedorismo, inovação e o futuro do mercado imobiliário.
Queremos abrir o bate-papo conhecendo um pouco mais sobre você, poderia se apresentar e compartilhar um pouco da sua trajetória?
“Nasci em Presidente Prudente, sou filho de pais empreendedores, e passei minha infância e adolescência no interior do estado. Em 1999, tive minha primeira experiência no exterior, fui morar nos Estados Unidos, onde cursei o ensino médio. Ao retornar, ingressei em um curso pré-vestibular em São Paulo e depois ingressei na faculdade de Direito na PUC. Desde então, me identifiquei muito com o empreendedorismo, tanto em projetos de terceiros quanto em iniciativas próprias.
Trabalhei em dois grandes escritórios de advocacia em São Paulo, mas em 2009 resolvi empreender. Desde então, além da advocacia, atuei no mercado imobiliário, setor que sempre me atraiu. Paralelamente, tive experiência na área de crédito, com factoring e Fidics, o que ampliou minha visão para estruturar novos negócios. Em um desses movimentos, minha empresa acabou se transformando em uma fintech de meios de pagamento, o Beblue.
Depois de muitos acertos e erros, adquiri habilidades que me permitiram estruturar a Rooftop, negócio que une tecnologia, mercado de capitais, imobiliário e direito. Foi assim que, após a transição do Beblue para o Banco Omni, decidi empreender novamente e criar um projeto que realmente me conectasse à minha essência.”
O que o inspirou a ingressar no setor imobiliário e a construir uma carreira focada em soluções inovadoras?
“Sempre tive uma visão de negócios orientada a gerar valor para todos os envolvidos. A Rooftop nasceu inicialmente comprando imóveis em leilões judiciais e extrajudiciais, com um modelo tradicional de investimento imobiliário. No entanto, ao longo do tempo, percebi que havia uma lacuna maior: muitas pessoas perdiam seus imóveis por dívidas relativamente pequenas e não tinham opções viáveis para reverter essa situação.
Foi aí que ajustamos nosso modelo para oferecer não apenas soluções financeiras, mas também uma abordagem que trouxesse planejamento e sustentabilidade para os clientes. Nossa missão passou a ser proporcionar alternativas mais justas e eficientes para pessoas que enfrentam dificuldades financeiras, ajudando-as a manter ou maximizar o valor de seus imóveis.”
Olhando para a sua jornada, qual foi o momento mais marcante até aqui e o que você aprendeu com ele?
“Foram vários momentos marcantes, mas um dos mais significativos foi quando o Beblue atingiu uma média de 100 downloads diários, acumulando mais de 6 milhões de usuários e figurando entre os aplicativos mais baixados da App Store. Esse foi um dos melhores casos de go-to-market do Brasil e validou nossa estratégia de crescimento escalável.
Outro grande marco foi a assinatura do nosso primeiro contrato no HomeCash. Criamos um produto dentro da empresa e vimos ele ganhar tração, ajudando pessoas de verdade. A entrada do BTG Pactual na operação em 2022 também foi um divisor de águas, trazendo credibilidade e solidez para nossa visão de longo prazo. Recentemente, a listagem do nosso token imobiliário marcou uma nova fase na empresa, abrindo mais oportunidades de crescimento.”
Como surgiu a ideia do seu produto e qual lacuna no mercado ele busca preencher?
“Desde o início da Rooftop, sabíamos que precisávamos alinhar propósito, inovação, sustentabilidade financeira e impacto. Nossa primeira grande experiência nesse sentido ocorreu quando ainda comprávamos imóveis em leilão e adquirimos um imóvel residencial em São José do Rio Preto, pertencente a um cliente que havia perdido sua propriedade por uma dívida de R$70 mil. Ele era um pai de família que trabalhava no setor de joias e, no início da pandemia, se viu sem alternativas para manter seu patrimônio.
Após comprarmos o imóvel, ele nos procurou perguntando se havia possibilidade de revendê-lo para ele. Foi nesse momento que tivemos uma sacada essencial: criar um produto que não apenas fornecesse liquidez, mas também uma estratégia real de reestruturação financeira. Precisávamos ir além da simples compra e venda de imóveis e gerar um impacto positivo para os clientes.
Com essa ideia em mente, rapidamente começamos a estruturar a solução e validá-la no mercado. A pandemia trouxe desafios adicionais, mas também reforçou a necessidade de um produto como esse. Criamos um modelo em que quitamos as dívidas do cliente, permitindo que ele recompre o imóvel em um determinado prazo ou utilize um financiamento imobiliário para reaver sua propriedade.
Desde então, já realizamos centenas de transações e movimentamos centenas de milhões de reais no produto. Agora, estamos preparados para uma expansão ainda maior em 2025, apostando no canal de microfranqueados para levar essa solução a um público mais amplo.”
O que torna essa solução tão relevante no cenário atual do mercado imobiliário? Quais são os diferenciais da sua solução em comparação com outras opções disponíveis?
“Nossa principal fonte de retorno está na oferta de liquidez e na estruturação de um pacote completo de serviços que ajudam na reestruturação financeira dos nossos clientes. A Rooftop não se limita a simplesmente prover capital; nós também oferecemos assessoria jurídico-financeira, garantindo que o cliente tenha suporte estratégico para resolver suas dificuldades financeiras e tomar decisões informadas.
A operação é bastante simples: realizamos a avaliação do imóvel e, com base nela, liquidamos 60% do valor, que pode ser utilizado para reestruturação financeira, giro de negócios ou até mesmo para iniciar um novo empreendimento. Ao mesmo tempo, o cliente permanece no imóvel como inquilino, pagando um aluguel de mercado por um contrato de 30 meses. Dentro desse período, estabelecemos dois principais caminhos: a recompra do imóvel por 80% do valor, podendo ser financiada por bancos de primeira linha com um custo de capital reduzido, ou a venda do imóvel acima desse valor, garantindo ao cliente o direito de capturar essa diferença dentro de um prazo de 12 a 18 meses.
Essa flexibilidade permite que o cliente utilize o imóvel como um recurso estratégico, sem precisar recorrer a opções de crédito
tradicionais, como o HomeEquity, que podem ter custos muito mais elevados e exigir comprovação de crédito. Comparado a essas opções, o nosso modelo tem um custo 35% menor e pode ser acessado mesmo por clientes que estão com score baixo, apontamento judicial ou restrições financeiras. Dessa forma, o HomeCash surge como uma alternativa inovadora no mercado, preenchendo uma lacuna para aqueles que não são mais assistidos pelo sistema financeiro tradicional.”
Na sua visão, como sua solução transforma a experiência do cliente em momentos financeiros desafiadores?
“No mercado, é difícil encontrar agentes que consigam prover capital e, ao mesmo tempo, oferecer um suporte jurídico e financeiro de alto nível. Muitas vezes, um cliente que passa por um momento delicado não tem acesso a esse tipo de estrutura profissional. Na Rooftop, conseguimos não apenas fornecer liquidez, mas também ajudar na reestruturação financeira do cliente, oferecendo assessoria especializada, inclusive na negociação com credores fiscais, trabalhistas e bancários.
Além do capital, trazemos inteligência para o uso desse recurso. Nossa solução permite que o cliente maximize seu patrimônio e ganhe poder de negociação com seus credores, obtendo melhores condições e descontos substanciais. Dessa forma, ele não apenas resolve um problema imediato, mas também se reorganiza financeiramente para o futuro.”
Esse conceito está muito alinhado à ideia de capital sustentável. Como vocês veem essa abordagem no mercado imobiliário?
“O capital sustentável é fundamental. Não se trata apenas de oferecer dinheiro, mas sim de garantir que o cliente tenha condições reais de reestruturação. Muitas vezes, quem está inadimplente perde o acesso ao mercado de crédito convencional, o que cria um ciclo vicioso de endividamento. Nossa solução busca reinserir essas pessoas no sistema, ajudando-as a recuperar sua capacidade financeira e melhorar sua relação com o capital.
Nosso produto foi desenhado para clientes que, em algum momento da vida, tiveram renda para adquirir um imóvel de alto padrão, mas que enfrentam dificuldades temporárias. Trabalhamos majoritariamente com imóveis em grandes cidades do Nordeste ao Sul do país, oferecendo liquidez com um planejamento estratégico. Dessa forma, garantimos que o cliente possa recuperar sua estabilidade financeira e, no futuro, voltar a acessar linhas de crédito convencionais com melhores condições.”
Qual foi o maior desafio que sua empresa enfrentou no desenvolvimento dessa solução e como vocês o superaram?
“Sem dúvida, o maior desafio foi superar as barreiras jurídicas e regulatórias. No passado, algumas empresas usaram a compra e venda de imóveis de forma irregular, simulando operações de crédito com condições abusivas. Isso gerou precedentes negativos, tornando essencial que nossa solução fosse validada juridicamente para garantir total segurança aos clientes.
Para superar esse desafio, passamos por um longo processo de análise com os melhores escritórios de advocacia do Brasil. Hoje, temos pareceres jurídicos que atestam que nossa operação é 100% legítima dentro do setor imobiliário. Diferente de outras estruturas, garantimos total transparência e segurança contratual para nossos clientes.
Outro grande desafio foi o financiamento do produto. No início, não havia histórico de mercado para esse modelo, então tivemos que conquistar credibilidade. Passamos por três fases: primeiro, testamos o produto com capital próprio; depois, conseguimos um aporte do BTG Pactual, que nos deu escala; e, mais recentemente, migramos para um modelo mais eficiente, trabalhando com a gestora Galápagos e um novo veículo financeiro em parceria com o Mercado Bitcoin. Essa estrutura reduz drasticamente nosso custo de capital, permitindo que ofereçamos uma solução ainda mais acessível aos clientes.”
Quais tendências você acredita que irão moldar o mercado imobiliário nos próximos anos?
“Há três grandes tendências que vejo ganhando força. A primeira é a digitalização dos processos imobiliários. O Instituto Brasileiro de Direito Imobiliário, em parceria com o Colégio Notarial e o Colégio Registral, tem trabalhado para tornar os trâmites de escrituração e formalização mais rápidos e acessíveis. Isso reduz burocracias e custos, facilitando a vida dos compradores e vendedores.
A segunda tendência é a inteligência artificial aplicada ao setor. Acredito que veremos um crescimento no uso de IA para agilizar processos de crédito, análise de risco e precificação de imóveis. Com isso, a tomada de decisão se tornará cada vez mais precisa e personalizada.
Por fim, o mercado imobiliário continuará sendo altamente cíclico. Empreendedores do setor precisam entender os movimentos do mercado, reconhecendo períodos de expansão e retração. É fundamental tomar decisões estratégicas baseadas nesses ciclos, garantindo investimentos sustentáveis e evitando riscos excessivos. O segredo é sempre buscar soluções com uma proposta de valor clara para todos os envolvidos.”
Que conselho você daria para quem está entrando agora no setor imobiliário e busca se destacar?
“O mercado imobiliário exige preparo e visão estratégica. Para quem está começando, meu conselho é entender profundamente os ciclos do mercado e buscar sempre agregar valor em qualquer operação. O empreendedor precisa ser resiliente, estar atualizado com as tendências e construir relacionamentos sólidos no setor.
Além disso, é essencial investir em conhecimento técnico e compreender os aspectos jurídicos e financeiros das operações. Um profissional bem preparado tem mais chances de identificar boas oportunidades e evitar riscos desnecessários. A combinação de inovação, planejamento e um modelo de negócios bem estruturado é o que diferencia aqueles que prosperam no setor.”
Como você enxerga o papel das soluções tecnológicas para atender às novas demandas do mercado e dos clientes?
“A tecnologia já está transformando o mercado imobiliário e essa evolução tende a se acelerar. Ferramentas digitais, inteligência artificial e blockchain estão trazendo mais transparência, agilidade e segurança para as transações. A digitalização permite que processos que antes levavam semanas sejam concluídos em poucos dias, melhorando a experiência do cliente e reduzindo custos.
Na Rooftop, investimos constantemente em inovação para oferecer soluções eficientes e acessíveis. A tecnologia não apenas melhora a operação, mas também possibilita novos modelos de negócio. Acredito que quem souber utilizar essas ferramentas da maneira certa terá uma grande vantagem competitiva nos próximos anos.”
Quais são os próximos passos para a Rooftop? Há novidades no horizonte?
“Estamos sempre inovando, mas nosso foco é a execução. Temos muitas ideias no backlog da Rooftop, mas selecionamos cuidadosamente o que entra no roadmap. Em breve, devemos anunciar algumas novidades que irão fortalecer ainda mais nosso modelo de negócio. Prefiro deixar a expectativa no ar, mas posso garantir que estamos trabalhando para ampliar nossa presença no mercado e entregar ainda mais valor aos nossos clientes e investidores.”
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