O setor imobiliário brasileiro apresentou resultados divergentes entre as empresas que atuam nos segmentos econômico e de média/alta renda, segundo a temporada de balanços recentemente encerrada. As incorporadoras do segmento econômico, impulsionadas pelo programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV), se destacaram positivamente. Empresas como Cury e Direcional chamaram a atenção por elevarem margens, com a Direcional registrando um crescimento de 3 pontos considerado “absolutamente atípico”.
Tenda e MRV também conseguiram expandir suas margens brutas, crucial para a recuperação da rentabilidade no contexto de aumento de custos durante a pandemia. A MRV, em particular, anunciou seu compromisso de não queimar mais caixa com a Resia, sua operação americana, até 2024, o que foi destacado como uma medida significativa diante da impaciência do mercado com os resultados do negócio, influenciados pelos juros mais altos nos Estados Unidos.
No trimestre recente, Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, destaca os resultados positivos da Plano&Plano como os mais promissores, elogiando a empresa por seu planejamento sólido e execução estável. Ele prevê perspectivas de crescimento contínuo, especialmente com o programa municipal “Pode Entrar” em São Paulo. Contudo, destaca a importância da execução do programa.
Um ponto de preocupação no setor imobiliário é o orçamento proposto para 2024 do MCMV, com destaque para a incerteza em relação à disponibilidade do FGTS para financiar as demais faixas. O orçamento para a faixa 1 do programa teve um aumento de 41%, mas a estabilidade dependerá da disponibilidade do FGTS.
O julgamento no STF sobre a remuneração das contas do FGTS pode impactar os recursos destinados ao MCMV. A indicação é de uma solução que não seja o pior cenário para as empresas, com uma possível equiparação à remuneração da poupança apenas a partir de 2025, recebendo uma boa recepção pelo mercado.
No segmento de média e alta renda, a Cyrela é destacada pelo forte ritmo de lançamentos e vendas, além de resultados financeiros resilientes. A Moura Dubeux, atuando no Nordeste, também é elogiada por seu desempenho sólido e crescimento operacional. No entanto, observa-se um trimestre com resultados considerados “tímidos” nesses segmentos, com empresas hesitando em lançar mais devido a preocupações com a venda de unidades em construção.
A queda da Selic ainda não refletiu na taxa do crédito imobiliário, com expectativa de impacto positivo nas vendas no próximo ano.
No próximo ano, o mercado imobiliário em São Paulo pode enfrentar um represamento de lançamentos devido à revisão do Plano Diretor da cidade. As empresas têm a opção de reprotocolar projetos na prefeitura para aproveitar o aumento da cota de solidariedade, um mecanismo em que as empresas pagam para ampliar o potencial de construção do terreno, mas esse processo pode levar de seis meses a um ano.
A EZTec teve um desempenho negativo, atribuído a um menor número de lançamentos e vendas, além de mais distratos. Analistas apontam que algumas empresas, como a Mitre, estão “perdendo o foco”, citando a recepção negativa do mercado ao lançamento em Trancoso (BA), em terreno pertencente aos donos da empresa.
Para o quarto trimestre e 2024, os analistas preveem que as incorporadoras devem focar na velocidade de venda, buscando projetos mais assertivos.
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Informações retiradas de Ana Luiza Tieghi à Valor Econômico