A crise no setor de habitação em Portugal está afetando a vida de muitas pessoas. Com pouca oferta de imóveis para venda e aluguel, os preços estão subindo, tornando difícil para muitos indivíduos encontrar um lugar para morar. O aumento da taxa de juros no crédito imobiliário também tem contribuído para a situação.
Como resultado, há jovens que não têm condições financeiras para pagar aluguel e estão morando com seus pais, lisboetas que se mudaram para cidades distantes em busca de aluguéis acessíveis e imigrantes que procuram alternativas em cidades menores. O governo português está tentando ajudar a população com um pacote que inclui ajuda para pagar aluguel.
O cearense Felipe Barbosa, que mora em Portugal há quase quatro anos, teve dificuldades para encontrar um apartamento acessível para alugar em Lisboa, mesmo sendo dono de uma pequena empresa de construção civil. Ele mudou-se para a cidade de Barcelos, no norte do país, para encontrar um imóvel adequado às suas necessidades.
“Tinha um apartamento disponível, que eu podia alugar. Esse apartamento era metade do valor do apartamento que eu pensava em alugar na região de Lisboa”, lembra.
Salários não acompanham subida de preços
Segundo dados do Ministério do Trabalho português, no ano passado, receberam remunerações inferiores a 1.000 euros mais de 50% dos trabalhadores. No caso dos jovens com menos de 30 anos, essa porcentagem subiu para 65%.
Como o aumento dos salários não acompanha a inflação, fica sempre muito difícil alugar um imóvel com baixa remuneração. Atualmente, em Lisboa, o aluguel de um apartamento com um quarto e em condições razoáveis para habitação fica em torno de 800 euros, o equivalente a cerca de 4.500 reais.
Razões para o tamanho da crise
A crise habitacional em Portugal é causada por diversos fatores, incluindo a transformação de muitos imóveis em alojamentos locais para turistas em cidades como Lisboa e Porto, além da falta de construção de novas moradias e pouca oferta de habitações públicas.
Os apartamentos que vão para o mercado imobiliário muitas vezes são alugados por pessoas com maior poder aquisitivo, como aposentados estrangeiros e nômades digitais. Além disso, há muitos imóveis desocupados que não são disponibilizados no mercado. Com pouca oferta e muita procura, os preços continuam subindo.
A repercussão do aumento da taxa de juros
“Nós fazemos uma ‘viabilidade bancária’ para um cliente, hoje, e daqui a 30 dias não sabemos se ele tem a capacidade [financeira para comprar o imóvel]. Se nós não encontrarmos um imóvel nesse período, não sabemos se daqui a 30 dias ele continua tendo a mesma capacidade financeira para avançar para o mesmo imóvel”, disse em entrevista à RFI.
Plano para responder à crise
O governo português lançou, no mês de fevereiro, um pacote de medidas para responder à crise da habitação. De acordo com o plano, o Estado vai regular o valor dos aluguéis dos novos contratos, e não só: quem tem rendimento de até cerca de 1.100 euros brutos e gasta mais de 35% do seu salário com aluguel, vai ter direito a receber uma ajuda mensal de até 200 euros.
“É uma medida temporária que vigorará pelos próximos cinco anos, período que consideramos desejável para que a oferta pública de habitação e o conjunto de outras medidas de apoio ao arrendamento acessível permitam normalizar o mercado do arrendamento, de forma que existam habitações para arrendar em condições acessíveis”, frisou o primeiro-ministro de Portugal, António Costa.
Alojamento local e aluguel “forçado”
Para aumentar a oferta de moradias, o pacote também prevê que o Estado português possa alugar e sublocar casas e apartamentos desocupados, se comprometendo a pagar os aluguéis se os inquilinos falharem com a obrigação.
“Vistos Gold”
Na tentativa de combater a especulação imobiliária, o plano também acaba com a emissão de novos vistos Gold, nome dado às autorizações de residência para atividade de investimento.
Os vistos já emitidos poderão ser renovados se a moradia for para habitação própria e permanente do proprietário ou do seu descendente, ou se o imóvel for disponibilizado para aluguel.
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Informações retiradas do UOL