O número de falências de credores de hipotecas começa a preocupar o mercado imobiliário dos EUA. Mas embora seja o pior momento do setor desde a bolha imobiliária de 2008, aparentemente não há risco de um colapso sistêmico.
Mesmo assim, a expectativa dos especialistas é que o movimento acarrete um grande número de demissões e aumento nas taxas dos empréstimos.
Aliás, as taxas já estão 2,25% maiores este ano em um esforço do Federal Reserve (FED, o banco central dos EUA) para domar a inflação. Com isso, as taxas de hipotecas de 30 anos subiram acima de 5% para empréstimos garantidos pelo governo.
E esses números estão bem próximos dos níveis mais altos desde a crise financeira, de cerca de 3,1% no final de 2021. Mas não é só. Além disso, os negócios estão em grande queda.
Afinal, com o aumento da taxa de juros a quantidade de empréstimos começou a encolher em todo o setor. E, de acordo com a Mortgage Bankers Association, o volume geral de pedidos de hipotecas caiu mais de 50% este ano.
Maioria dos credores do mercado imobiliário americano é independente
Nos Estados Unidos, a maioria das hipotecas é controlada pelos chamados “não-bancos”, ou seja, empresas independentes que controlam a maior parte das hipotecas.
E, com todo esse movimento do mercado imobiliário americano, eles estão descapitalizados. Com isso, já está ocorrendo uma série de falências que estão afetando todo o sistema. Claro, quando o sistema de hipotecas afunda, eles vão junto.
Segundo o LendingPatterns.com, que analisa o setor para credores hipotecários, em 2021 dois terços dos 20 maiores credores de hipotecas eram não-bancos. E essa situação já vem de há algum tempo.
Em 2004, apenas um terço dos 20 principais credores para refinanciamento eram independentes. Doze anos depois, essa situação já estava invertida.
Vale lembrar que esse espaço foi conquistado depois que os próprios bancos recuaram no mercado imobiliário das hipotecas após a bolha de 2018. E é justamente por isso que a crise atual não deve tomar proporções como a de 14 anos atrás.
Demissões já começaram
Também chamados de “credores-sombra”, muitos já pararam suas atividades. Inclusive dois dos maiores, como Sprout Mortgage e First Guaranty Mortgage Corp. Ambos são especializados em empréstimos mais arriscados que não são elegíveis para apoio do governo. Já os Flagstar Bank e o Customers Bank devem cerca de US$ 418 milhões, de acordo com documentos oficiais.
E não são os únicos. Da mesma forma que eles, a maioria dos credores não está conseguindo segurar empréstimos feitos no início de 2022 e que caíram de valor. Nem obter financiamento suficiente para continuar operando.
Com isso, o First Garanty, por exemplo, empregava 600 pessoas antes de declarar falência em junho último. Mas poucos dias antes de decretar falência, demitiu 471 funcionários.
A questão é que esses credores independentes não têm fundos de depósitos estáveis, nem programas de emergência com os bancos. Então quando estão atrelados a ativos ruins, as chamadas de margem têm mais chances de levar à falência.
Fonte: Valor Econômico