A falta de mão de obra qualificada se tornou um dos principais fatores que impactam o custo de novos imóveis em 2024, pressionando construtoras e incorporadoras a oferecerem salários mais altos para atrair trabalhadores especializados. Essa demanda tem influenciado a elevação de preços em projetos e lançamentos, de acordo com especialistas.
Esse cenário é impulsionado pelo próprio aquecimento do mercado imobiliário. Com o aumento no número de projetos em andamento, trabalhadores com qualificação técnica estão cada vez mais concorridos e passaram a cobrar salários mais elevados. Outro fator é que profissionais experientes migraram para outras áreas com a alta taxa de ocupação no país, deixando lacunas no setor imobiliário. Além disso, com a modernização da construção civil, há demanda por trabalhadores com conhecimento técnico para operar novas tecnologias e equipamentos sofisticados.
Entre os efeitos desse cenário, estão:
Salários mais altos e maior poder de barganha dos trabalhadores no setor;
Pressão nos custos de construção e, consequentemente, nos preços finais dos imóveis.
Desafios da falta de mão de obra qualificada no setor de construção civil
O presidente-executivo do Secovi-SP, Ely Wertheim, explica que o setor de construção civil passou por um processo de industrialização nos últimos anos, o que exige um perfil mais técnico do operário para lidar com novas tecnologias. “O operário da construção civil precisa saber operar equipamentos atualizados e mais tecnológicos e trabalhar em um ambiente mais sofisticado, tecnicamente falando,” diz Wertheim.
A crise de 2015, agravada durante a pandemia, também fez com que muitos trabalhadores deixassem o setor, sem interesse em retornar. Profissionais de serviços e eventos, por exemplo, que migraram durante a pandemia, têm mostrado relutância em voltar a suas atividades anteriores.
O presidente do Sinduscon-SP, Yorki Estefan, afirma que atrair trabalhadores de volta para o setor e para o mercado formal tem sido um desafio. “Muitos preferem empreender e não têm mais a mesma visão celetista. O setor também enfrenta alta rotatividade, o que demanda estratégias para atrair mão de obra,” comenta.
Segundo levantamento da Tendências Consultoria, a construção civil lidera a rotatividade de mão de obra no Brasil, com uma taxa de 65,66% nos 12 meses até agosto, acima da média nacional de 34,74%.
Salários e custos em alta
Com o aquecimento do mercado imobiliário, especialmente no segmento de baixa renda, a demanda por mão de obra aumentou, elevando salários e os custos de produção. “Isso tem implicado em uma maior demanda por mão de obra e os salários têm respondido a isso,” diz Matheus Ferreira, economista da Tendências.
Dados do IBGE indicam que o rendimento médio no setor de construção civil chegou a R$ 2.484 no trimestre encerrado em agosto, um aumento de 6,3% em relação ao mesmo período de 2023. Esse movimento também reflete o mercado de trabalho brasileiro, que atingiu uma taxa de desemprego de 6,6% — a menor desde 2014.
Segundo o INCC-M (Índice Nacional de Custo da Construção – M), divulgado pela Fundação Getulio Vargas, o custo da construção subiu 0,61% em setembro, com uma alta de 0,64% no gasto com mão de obra, acumulando 7,45% em 12 meses. “Os custos com mão de obra no setor estão oscilando acima da inflação ao consumidor, o que indica reajustes reais para os trabalhadores,” explica Ferreira.
Impactos no preço dos imóveis
A consequência mais imediata para os consumidores é o aumento nos preços dos imóveis. Segundo o Índice FipeZap, houve alta de 0,71% nas vendas de imóveis em setembro, com valorização de 7,15% em 12 meses. Mesmo com a desaceleração dos custos de materiais, o peso da mão de obra, que representa entre 30% e 40% do custo total de construção, continua a pressionar os preços finais.
Soluções do setor para reverter a escassez de trabalhadores
O presidente da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), Renato Correia, destaca que o setor está conduzindo uma pesquisa nacional para entender os motivos que afastam ou retêm trabalhadores. “Queremos saber o que motiva o trabalhador e o que o afasta. Com isso, vamos desenvolver iniciativas com o Senai e outros setores para melhorar esse quadro,” diz Correia.
A pesquisa deve ser divulgada ainda em 2024. Além disso, a Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) aponta um esforço crescente para treinar a mão de obra no setor: cada colaborador participou, em média, de 7,3 horas de treinamento em agosto.
Estefan, do Sinduscon-SP, destaca também os cursos com o Senai e o incentivo para que mulheres de baixa renda ingressem na construção civil, além de planos para criar um programa de ensino profissionalizante focado no setor, em parceria com o governo de São Paulo, a partir de 2026.
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Informações retiradas G1