A nova geração de jovens adultos enfrenta grandes obstáculos para adquirir seu primeiro imóvel no Brasil. Com a inflação e os preços das propriedades em constante alta, muitos se veem pressionados por uma realidade que não acompanha o crescimento de sua renda. O desejo de sair do aluguel, embora latente, tem sido adiado por conta das barreiras econômicas.
Natália Coelho, jornalista de 27 anos, ilustra bem essa realidade. Ao procurar um apartamento em São Paulo, ela se deparou com preços elevados e espaços reduzidos. “Mais de meio milhão por menos de 40 m². Eu via aquele dinheiro desaparecer todo mês com o aluguel”, desabafa. Mesmo com a intenção de compra, a jovem viu o sonho da casa própria ser postergado.
A Geração Z e o desejo de compra
Estudos recentes revelam que a Geração Z, formada por jovens de 21 a 27 anos, tem forte desejo de adquirir um imóvel, assim como a Geração Y (28 a 43 anos). No entanto, fatores como inflação, baixa renda e acesso ao crédito dificultam a realização desse objetivo. A crise provocada pela pandemia, com aumento dos custos de construção e interrupção de cadeias de suprimentos, agravou ainda mais a situação.
Os preços subiram bem acima da inflação. Um imóvel que custava R$ 100 mil em 1995, corrigido pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), hoje estaria avaliado em cerca de R$ 550 mil. No entanto, os valores de mercado são ainda mais elevados, superando até R$ 1 milhão em alguns casos.
Inflação e o custo da construção
Coriolano Lacerda, gerente de Pesquisa e Inteligência de Mercado do Grupo OLX, explica que, em 2020 e 2021, a pandemia causou um aumento expressivo nos custos de construção, o que impactou diretamente o mercado imobiliário. “Esse aumento foi inicialmente absorvido pelas empresas, mas, com o tempo, acabou sendo repassado aos preços dos imóveis”, afirma.
A escassez de materiais, como aço, cimento e vidro, além do aumento dos custos de transporte, contribuiu para esse cenário, junto com a desvalorização do real frente ao dólar, que encareceu ainda mais os insumos importados.
Espaço urbano: outro fator de pressão
Além do aumento no custo de construção, a falta de terrenos em áreas urbanas também é um fator que eleva os preços. Com a população brasileira duplicando nos últimos 50 anos, a disputa por espaço tornou-se mais acirrada. “Espaço é um recurso limitado”, comenta Alberto Ajzental, especialista da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Para mitigar esse problema, o mercado tem oferecido imóveis menores, adaptando-se ao poder aquisitivo dos clientes. No entanto, mesmo essa solução não tem sido suficiente para combater o aumento de preços. “A diminuição do tamanho dos apartamentos é uma tentativa de baratear o custo, mas o impacto de outros fatores ainda pesa”, completa Ajzental.
Renda estagnada e dificuldades com o crédito
Outro grande desafio é a defasagem entre a renda do brasileiro e o aumento dos preços dos imóveis. Enquanto o valor das propriedades aumentou consideravelmente nas últimas décadas, a renda média do trabalhador não acompanhou esse ritmo. Em 1995, era possível comprar um imóvel de R$ 100 mil com cerca de 100 salários médios. Hoje, são necessários quase 400 salários para adquirir o mesmo imóvel.
Ainda assim, o crédito imobiliário no Brasil tem se mostrado mais acessível. Comparado aos anos 1980, quando o financiamento praticamente não existia, programas como o ‘Minha Casa, Minha Vida’ (MCMV) têm facilitado o acesso à casa própria. Apesar da alta da Selic, a competição entre bancos e o uso de recursos da poupança e do FGTS ajudaram a manter o crédito disponível.
Planejamento financeiro: a solução para realizar o sonho
Mesmo diante de tantas dificuldades, especialistas recomendam o planejamento financeiro como a chave para concretizar o sonho do primeiro imóvel. Ana Paula Hornos, psicóloga e educadora financeira, alerta para os perigos de tomar decisões precipitadas. “Muitos acabam assumindo dívidas que não cabem no orçamento ou comprando acima do que podem sustentar”, explica.
Marcelo Milech, planejador financeiro, sugere que os interessados em adquirir um imóvel comecem constituindo uma reserva financeira equivalente a seis a 12 meses de suas despesas. Ele também recomenda que o valor das parcelas do financiamento não ultrapasse 30% da renda, para evitar o risco de inadimplência.
Além disso, programas como o MCMV têm se mostrado uma alternativa relevante para famílias de baixa renda. Em São Paulo, o programa representou 37,6% das vendas de imóveis no primeiro semestre de 2024, uma participação crescente no mercado imobiliário.
O que esperar do futuro?
Com os preços dos imóveis em alta, esperar pode não ser a melhor opção. O cenário de funding no Brasil está mudando, com uma redução nos recursos provenientes da poupança e o aumento do uso de financiamentos mais caros, como as Letras de Crédito Imobiliário (LCIs). Esse movimento pode resultar em novos aumentos no valor dos imóveis nos próximos anos.
A mensagem dos especialistas é clara: planejamento e cautela são essenciais, mas o cenário de mercado indica que quem pode comprar agora deve considerar essa possibilidade antes que os preços subam ainda mais.
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Informações retiradas de Rebecca Crepaldi à Exame.