Lan Mingqiang, outrora beneficiário do boom imobiliário na China, agora enfrenta dificuldades financeiras devido à crise no setor. Sua empresa fornecia cercas e painéis para a incorporadora imobiliária Country Garden, que está à beira da inadimplência e deve US$21 mil a Lan.
Incapaz de pagar a mensalidade escolar de seu filho, Lan deixou sua empresa e família em Chongqing, no sul da China, para tentar ganhar a vida vendendo lanches para turistas em Zhengzhou, no norte do país. A situação reflete os desafios enfrentados por muitos na indústria imobiliária chinesa devido à crise atual.
Crise abala o mercado imobiliário chinês, afetando trabalhadores e pequenas empresas: A China, outrora líder em geração de empregos e enriquecimento local através do mercado imobiliário, enfrenta agora uma crise à medida que as incorporadoras imobiliárias chinesas lutam para pagar fornecedores e trabalhadores devido à desaceleração econômica e medidas regulatórias para conter a bolha imobiliária.
Fornecedores estão aguardando mais de US$390 bilhões em pagamentos, e a insatisfação cresce, levando a ações judiciais, protestos em canteiros de obras e queixas às autoridades locais. O setor habitacional enfrenta uma turbulência generalizada, afetando uma ampla gama de trabalhadores e empresas envolvidos na indústria imobiliária.
Na província de Guangdong, na China, o corretor de imóveis Liu Yaonan enfrenta dificuldades financeiras devido a atrasos nos pagamentos por parte da incorporadora Country Garden. No ano passado, Liu recebeu apenas 75% de sua comissão habitual e ainda aguarda o pagamento de cerca de US$ 8 mil. Ele tem tentado resolver o problema ligando para a linha direta de reclamações da empresa, mas até agora, as ações tomadas foram apenas o registro de sua queixa, sem resolução efetiva.
Essa situação reflete um cenário mais amplo na indústria imobiliária chinesa, onde revendedores, corretores e engenheiros estão enfrentando dificuldades financeiras devido a atrasos nos pagamentos por parte das incorporadoras. Esses atrasos estão agravando a pressão sobre a economia chinesa, que já enfrenta desafios de confiança e desaceleração econômica.
Anos de lockdowns e medidas de prevenção contra a COVID-19 impactaram os consumidores, reduzindo os gastos, levando as empresas a reduzirem as contratações e resultando em menos pessoas comprando imóveis.
A súbita reviravolta da gigante imobiliária chinesa Country Garden destaca a grave tensão econômica enfrentada pelas empresas do setor. Há apenas um ano, a Country Garden liderava as vendas e era vista como uma empresa confiável para fornecedores e credores. No entanto, uma queda nas vendas nos últimos seis meses levou a empresa à beira do colapso, com a falta de pagamento de juros sobre títulos e a possível perda de bilhões de dólares no primeiro semestre deste ano.
Preocupações
Isso levanta preocupações de que outras incorporadoras chinesas também possam enfrentar problemas financeiros graves, à medida que as autoridades reguladoras limitam seu acesso ao financiamento bancário. Anteriormente, algumas dessas empresas conseguiam sobreviver sem pagar suas contas, mas agora a situação parece estar se deteriorando rapidamente.
A gigante chinesa China Evergrande, que enfrentou uma crise de dívida em 2021, adotou uma estratégia polêmica para reembolsar fornecedores em vez de dinheiro: ofereceu apartamentos inacabados. A justificativa foi que os fornecedores poderiam vender esses imóveis para recuperar o valor que lhes era devido. No entanto, muitos fornecedores, como Liao Hongmei, que buscava receber US$690 mil da Evergrande, enfrentaram dificuldades para obter seu pagamento.
Hongmei, que administra uma empresa de marketing e decoração na província de Jiangsu, lutou por anos em batalhas legais para receber o dinheiro devido pela Evergrande. Embora tenha ganhado seu caso, a empresa ainda não efetuou o pagamento. Ela expressa preocupação de que empresas de pequeno porte, como a dela, possam nunca ver o dinheiro que a Evergrande deve a elas.
O problema começou quando a Evergrande começou a emitir notas promissórias para pagamento em prazos relativamente curtos, como seis meses, por volta de 2016. Posteriormente, em 2017, estendeu o prazo para um ano, tornando ainda mais difícil para os fornecedores receberem o que lhes era devido. A situação culminou em 2021, quando a empresa deixou de pagar suas dívidas, agravando ainda mais a incerteza dos fornecedores.
A Evergrande, uma gigante imobiliária chinesa, enfrenta uma crise financeira que a levou à beira da falência. Muitas pessoas, incluindo pequenos empresários como Hongmei, processaram a empresa em busca de compensação pelos danos causados por seus problemas financeiros. Embora algumas vitórias legais tenham ocorrido, a capacidade de receber esses pagamentos está em risco devido à supervisão governamental da reestruturação da Evergrande.
A Evergrande entrou com um pedido de proteção contra falência em agosto e está buscando acordos com grandes credores. Isso levou à retomada das negociações de suas ações em Hong Kong, que sofreram uma queda significativa. No entanto, para pequenos empresários como Hongmei, a perspectiva de receber qualquer compensação parece sombria, já que eles estão na fila atrás de outros credores, incluindo bancos.
Hongmei expressa sua esperança de que, após a conclusão dos projetos imobiliários inacabados da Evergrande, ainda haverá algum dinheiro disponível para pessoas como ela. No entanto, suas esperanças são limitadas, e ela pede apenas “um pouquinho de dinheiro” como forma de compensação, mas isso parece incerto dadas as circunstâncias incertas em torno da reestruturação da Evergrande e a prioridade dada aos compradores de imóveis.
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Informações retiradas de Estadão