A Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) anunciou a revisão para baixo da expectativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) da Construção no Brasil para 1,5% em 2023. Esta é a terceira redução consecutiva ao longo do ano.
A principal razão para a revisão é atribuída ao impacto dos prolongados cenários de juros elevados, que afetaram o setor negativamente. A construção havia experimentado um crescimento de 10% em 2021 e 6,9% em 2022, mas a expectativa para o ano atual foi reduzida de forma significativa.
Além dos juros elevados, outros fatores que contribuíram para essa perspectiva mais modesta incluem a demora no anúncio das novas condições do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida (MCMV) e a redução de lançamentos imobiliários nos primeiros meses de 2023.
Projeção de crescimento para os próximos meses é animadora
Apesar dessa diminuição, as perspectivas para os próximos meses são positivas. Isso se deve a alguns fatores, como a decisão do Conselho Curador do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), que aumentou em quase R$30 bilhões o orçamento para o financiamento habitacional de 2023. Além disso, as novas condições do programa Minha Casa Minha Vida (MCMV) e o futuro anúncio de um novo programa de aceleração do crescimento, previsto para agosto, também contribuem para as projeções otimistas do mercado.
O setor da construção civil no Brasil está otimista com a aprovação do arcabouço fiscal, a tramitação da Reforma Tributária e a esperada redução da taxa de juros em agosto, que pode conter a fuga de recursos da caderneta de poupança. Esses fatores trazem maior segurança e previsibilidade ao setor, contribuindo de forma positiva.
No entanto, segundo o levantamento da CBIC mesmo com o otimismo, o setor precisaria manter o ritmo de crescimento de 1,5% ao ano para recuperar seu pico de atividades alcançado em 2013 somente em 2035.
A jornada de recuperação é longa, e apesar de notícias positivas no primeiro semestre, como o aumento de recursos do programa MCMV (Minha Casa, Minha Vida), o ciclo da construção é demorado e envolve várias fases, como a etapa de projetos. A materialização dos resultados deve ocorrer apenas no final deste ano ou início de 2024, com a necessidade de execução de obras para contribuir efetivamente para o PIB do país.
A elevada taxa de juros no Brasil está impactando negativamente o número de unidades financiadas pelo Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE). No primeiro semestre de 2023, houve uma queda de 26,43% em comparação com o mesmo período do ano anterior, reduzindo o número de unidades financiadas de 354 mil para 261 mil.
Além disso, os valores financiados com recursos do SBPE também caíram 10,39%. O mercado imobiliário tem enfrentado desafios, já que os ajustes de preço pouco influenciaram a quantidade de recursos financiados.
Dados do Banco Central revelam que a caderneta de poupança SBPE perdeu R$54,5 bilhões no primeiro semestre de 2023, com projeções indicando que essa queda pode chegar a R$109 bilhões até o final do ano. Os saques da poupança têm sido maiores que os depósitos desde 2021, e esse cenário se intensificou em 2022, quando a taxa de juros Selic atingiu 13,75% a.a., segundo análise da economista da CBIC, Ieda.
Nível de atividade
O estudo “Sondagem da Construção”, realizado em parceria com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), revelou a resiliência do setor da construção no segundo trimestre do ano atual. Nesse período, o setor alcançou o melhor nível de atividade, atingindo 49,8 pontos, desde o terceiro trimestre de 2022, que havia registrado 53,6 pontos.
A perspectiva positiva impulsionou o aumento do nível de confiança dos empresários para 51,4 pontos, superando o patamar registrado nos primeiros três meses do ano. Esse aumento demonstra que a confiança está mais disseminada entre os empresários do setor da construção. De acordo com a economista da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), o dado indica que os empresários estão mais confiantes para os próximos seis meses. Esses resultados sugerem um cenário otimista para o setor nos meses seguintes.
Custo da construção
Durante uma coletiva, foi destacada a estabilidade nos preços dos materiais de construção, com o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) registrando alta de 3,93% nos últimos 12 meses até junho, o menor patamar desde junho de 2020. No entanto, apesar da desaceleração recente, o INCC permanece com aumento superior à inflação oficial do país, mantendo o custo da construção ainda elevado.
O presidente da CBIC ressaltou que os materiais de construção e equipamentos aumentaram 52,29% em três anos, enquanto a inflação oficial subiu apenas 25%. Diante disso, o setor não tem condições de absorver novos aumentos de custos, e é importante estar atento para evitar que novos aumentos prejudiquem a atividade, pois não há mais margem para aumentos no preço dos materiais.
Geração de emprego
O setor da construção no Brasil registrou um saldo positivo de 20.953 postos de trabalho em junho deste ano, mantendo o sexto mês consecutivo de resultados favoráveis. Com exceção dos meses de novembro e dezembro de 2022, que são considerados sazonais, a construção tem apresentado crescimento contínuo no mercado de trabalho desde julho de 2020. No primeiro semestre de 2023, foram gerados 169.531 novos empregos formais, representando um crescimento de 7% em relação ao ano anterior e totalizando 2,590 milhões de trabalhadores no setor.
Essa expansão no emprego foi verificada em todos os estados brasileiros, exceto Roraima, Acre e Amapá, que não registraram saldos positivos no primeiro semestre. Os estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraná e Goiás foram os maiores geradores de novas vagas, respondendo por 62% do total de empregos criados no setor no período.
Os especialistas apontam que o atual volume de emprego na construção é resultado de um processo produtivo de longo prazo, iniciado em anos anteriores, e que contribui significativamente com a economia nacional. Apesar dos números positivos, acredita-se que ainda há espaço para crescimento, e para isso, é necessário que o setor tenha maior previsibilidade dos recursos a fim de continuar ampliando a oferta de vagas.
De acordo com Marcelo Souza Azevedo, gerente de análise econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), a construção é um setor fundamental na geração de empregos no Brasil. Embora tenha havido uma desaceleração recente, ele acredita que ainda há espaço para crescimento. Infelizmente, o setor tem enfrentado problemas que têm contribuído para sua perda de força.
A análise destaca a importância da construção como um potencial motor para a economia do país, mas também alerta sobre a necessidade de superar os desafios que têm afetado negativamente esse setor-chave.
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Informações retiradas de CBIC