Diante de um cenário marcado pela alta dos custos, margens sob pressão e juros que já encontram-se em dois dígitos, as recentes parcerias firmadas entre empresas parecem ser um bom caminho para atravessar esse momento marcado por tantos desafios e expandir o negócio de média e alta renda.
Como exemplo podemos citar a parceria realizada entre a EZTec e a Construtora Adolpho Lindenberg, que planeja desenvolver projetos com um valor geral de vendas (VGV) de R$1,7 bilhão nos próximos seis anos.
A Gafisa também anunciou recentemente sua proposta para adquirir a Bait no Rio, e assinou um memorando para a aquisição da São José, uma incorporadora de luxo em São Paulo, ambas em processo de aprovação pelo Cade.
Em entrevista ao Valor, o CEO da Gafisa Incorporadora e Construtora São Paulo entende que “Essas movimentações, somadas as recentes aquisições de terrenos nas regiões do Itaim e Jardins, reforçam nosso posicionamento no mercado de alto luxo, especialmente em São Paulo, maior praça desse segmento no país.”
O investimento no setor de médio e alto padrão é a opção mais viável para o momento, já que a falta de perspectivas de melhora na economia e a forte polarização na cena eleitoral torna o ambiente desfavorável para lançamentos na ponta menor da baixa renda.
A Construtora Miltre Realty, que atua na média e alta renda, juntamente com a Riva, subsidiária da Direcional para o segmento de média renda, entre 2020 e 2021 já detectavam esse mudança de foco do setor, quando então fecharam parceria com a incorporadora Lucio, proprietária de projetos comerciais e residenciais de altíssima renda na capital paulista.
O preço dos imóveis vão de R$300 mil a R$700 mil. “São oito projetos em desenvolvimento, sendo que três já foram anunciados e outros cinco devem ser lançados em 2022″. Todos os projetos totalizam 3.500 unidades e representam um VGV de R$1,1 bilhão.
“Temos um lançamento previsto para este ano com ticket de R$25 milhões no Itaim em parceria com a Bolsa de Imóveis. A estratégia varia muito. Em especial, no de altíssima renda teve um empreendimento com preço médio de quase R$50 mil o metro quadrado que esperamos ficar pronto para iniciar a estratégia de venda e deu muito certo. Isso está muito ligado ao perfil do cliente, mais exigente e que não depende de financiamento”, conta Lucio Junior, presidente da incorporadora. ]
Segundo ele, todos os projetos da incorporadora apresentam desempenho dentro do esperado e de acordo com as metas estipuladas.
A palavra de ordem, segundo analistas do Citi, é seletividade. “Como via de regra, as incorporadoras estão lançando menos na ponta inicial da média renda. Vemos uma migração para a alta renda, um exemplo disso é a parceria da Riva e da Mitre com a Lucio, e da EZTec com a Lindenberg. São parcerias com empresas não listadas e no setor em que não estão habituadas a atuar.”
Para Ygor Altero, analista da XP, a maior resiliência do segmento de alta renda tem estimulado esse movimento: “Vejo a Even se posicionando bem nesse segmento, ao se aproximar de empresas que têm uma boa execução. Fica claro o interesse”, aponta, ao enfatizar que este é um setor em que o cliente não depende de financiamentos.
Luiz França, presidente da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), nesse momento unir as forças pode ser bom para minimizar as perdas, sobretudo porque em São Paulo ainda estão concentrados grandes ‘bolsões de alto desejo’, em pontos como Faria Lima, Parque do Povo e Clube Pinheiros. “A escassez de terreno para esse perfil de empreendimento também acaba levando a união de forças”. França reforça que o custo do metro quadrado no Brasil ainda é muito baixo em relação ao resto do mundo.
Benevides, da Gafisa, compartilha do mesmo posicionamento. “O cliente com alto poder aquisitivo, já tem percepção de que um apartamento de R$ 40 mil/m2, com todos os atributos de luxo, ainda está barato comparado a grandes metrópoles do mundo, onde chegam a custar mais de US$100 mil/m2 ”. Segundo o executivo, a expectativa é continuar expandindo as parcerias com grandes marcas de luxo, “agregando valor em cada detalhe.”
Dados recentes confirmam que o setor segue em ritmo de retomada, apesar do constante impacto da inflação de custo. De acordo com sondagem divulgada nesta semana pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), a construção civil registrou o melhor nível de atividade e emprego do quadrimestre desde 2012.
Fonte: Valor Econômico