O engenheiro de TI, Nazmi Hanafiah, expressa seu alívio ao escapar de Forest City, um amplo complexo habitacional construído pela empresa chinesa Country Garden, localizado no sul da Malásia. Após seis meses de residência, Hanafiah estava insatisfeito com o que descreve como uma “cidade-fantasma” e desejava sair a qualquer custo.
Forest City, o complexo habitacional de US$100 bilhões, foi entregue em 2016, mas enfrenta críticas devido ao seu desenvolvimento e ocupação insatisfatórios. A incorporadora pretendia criar uma metrópole ecológica, mas a experiência de Hanafiah destaca a controvérsia em torno do projeto.
O complexo habitacional na China, oito anos após seu início, permanece não concluído, representando um lembrete global dos impactos da crise imobiliária chinesa. Apenas 15% do empreendimento foi construído, com ocupação de pouco mais de 1%. A empresa responsável, Country Garden, enfrenta dívidas aproximando-se de US$200 bilhões.
Complexo habitacional Forest City ‘É estranho aqui’
O complexo habitacional Forest City, inicialmente aclamado como “um paraíso dos sonhos para toda a humanidade”, revelou-se orientado principalmente para o mercado interno chinês. Apesar da atraente descrição, a realidade apontou para preços inacessíveis à maioria da população local.
O foco era oferecer aos compradores chineses a oportunidade de possuir uma segunda casa no exterior, funcionando como investimento para aluguel ou residência de veraneio, em um contexto em que os valores estavam além do alcance da maioria dos habitantes locais.
Forest City, uma localização isolada construída em ilhas longe de Johor Bahru, ganhou o apelido local de “Cidade Fantasma” devido à sua falta de atrativos e isolamento. Potenciais inquilinos são afastados pela atmosfera assustadora e pela ausência de atividades, resultando em uma experiência negativa para alguns residentes. A cidade parece mais um resort de férias abandonado do que um local habitável, deixando muitos desapontados com suas grandes expectativas iniciais.
Na tranquila praia deserta, um cenário peculiar se revela aos visitantes. Um parquinho infantil, testemunha do tempo, exibe sinais de deterioração, enquanto um carro antigo enferrujado e uma misteriosa “escada para lugar nenhum” de concreto branco despertam a curiosidade dos observadores. No entanto, a proximidade da água é marcada por placas de advertência sobre a presença de crocodilos, desaconselhando a natação.
Já no shopping
Adentrando o shopping construído nas redondezas, a atmosfera contrastante se intensifica. Uma miríade de lojas e restaurantes permanece cerrada, algumas unidades reduzidas a meros canteiros de obras vazios. O som repetitivo de uma melodia chinesa ecoa pelos corredores, acompanhando um trem infantil solitário que percorre voltas intermináveis, testemunhando um cenário que destoa da agitação típica de centros comerciais.
No showroom do Country Garden, uma maquete impressionante da Forest City revela a visão do projeto concluído. Funcionários entediados na barraca de vendas, sob a placa “Forest City. Onde a felicidade nunca acaba”, contrastam com a cena animada na praia, onde a atração principal é a isenção de impostos. Pilhas de garrafas de bebida alcoólica descartadas e grupos de pessoas aproveitando a liberdade fiscal caracterizam o ambiente descontraído. A cena sugere uma atmosfera de lazer, embora a busca por benefícios fiscais seja o ponto central da experiência em Forest City.
No anoitecer, Forest City mergulha na escuridão, com a maioria dos enormes blocos de apartamentos aparentemente vazios, exibindo apenas meia dúzia de unidades com luzes acesas. A atmosfera estranha se estende ao longo do dia, com corredores escuros mesmo sob a luz do sol. Joanne Kaur, uma das poucas residentes, expressa o quão peculiar é o lugar, sugerindo um mistério sobre a aparente falta de ocupação e atividade na cidade.
Um casal residente no 28º andar, como muitos outros, planeja sair em breve, expressando pena por aqueles que investiram na compra de propriedades. A falta de informações positivas sobre Forest City no Google é destacada, sugerindo uma desconexão entre a visão inicial e a realidade atual.
A situação é agravada pela maioria das lojas e restaurantes no shopping local estarem fechados. Tentativas de contatar proprietários chineses revelaram relutância em se pronunciar, com comentários nas redes sociais indicando a existência de uma “cidade fantasma” com falta de infraestrutura, localização desfavorável e dificuldade de locomoção sem carro. A visão inicialmente elogiada por alguns compradores agora é encarada como enganosa, pintando um quadro desafiador para o futuro de Forest City.
A China enfrenta uma crise no mercado imobiliário após anos de empréstimos descontrolados às construtoras. O governo, temendo a formação de uma bolha, impôs limites rigorosos em 2021, refletindo a visão de que “casas são para viver, não para especulação”, segundo o líder chinês Xi Jinping.
A consequência dessas medidas é uma queda acentuada nos preços das propriedades, deixando muitos proprietários frustrados e buscando reembolsos. Além disso, grandes empresas do setor estão enfrentando dificuldades financeiras para concluir projetos, gerando preocupações sobre o impacto econômico mais amplo dessa crise no setor imobiliário chinês.
Em outubro, a empresa imobiliária chinesa Country Garden enfrentou desafios em dois projetos na Austrália, abandonando empreendimentos inacabados em Melbourne e Sydney. Além disso, a situação em Forest City, Malásia, complicou-se devido a restrições de vistos para compradores chineses impostas em 2018 pelo ex-primeiro-ministro malaio, Mahathir Mohamad, que expressou objeções a uma “cidade construída para estrangeiros”.
Analistas levantaram preocupações sobre a decisão de investir em um megaprojeto em um país politicamente e economicamente instável, mesmo que o governo atual da Malásia apoie o projeto.
Informações retiradas de Nick Marsh à BCC
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