Nós últimos anos estamos acompanhando uma grande transformação digital no mercado imobiliário, encabeçada principalmente pelos unicórnios Loft e QuintoAndar, as startups que se consolidaram no segmento levando tecnologia e garantindo o fim da burocracia para quem vai comprar ou alugar um imóvel. Para se ter uma ideia, hoje a Loft possui uma carteira de cerca de 25 mil apartamentos espalhados pelo pais, sendo que em 2020 sua carteira possuía cerca de 300 apartamentos. Já o QuintoAndar foi criado em 2013 e hoje é avaliada em mais de US$ 5 Bilhões.
Mas o que os fizeram chegar até aqui? Em entrevista especial para a revista Época, o CEO da Loft, Mate Pencz e o CEO do QuintoAndar, Gabriel Braga, tentaram responder.
Várias pessoas conhecem a fórmula de “ache uma dor no mercado e resolva“, mas nem todos conseguem atingir o sucesso. No começo da pandemia, a Loft sofreu com a retração do mercado e tomaram a atitude acertada de abrir a plataforma para anúncios de terceiros. Tal estratégia fez com que a empresa passasse de 300 imóveis à 25 mil rapidamente. Em sua trajetória a Loft também adquiriu a CredPago, com mais de 123 mil contratos, que somam cerca de R$ 40 bilhões em ativos em sua gestão, e a CredHome, que gera mais de R$ 7 bilhões de financiamento imobiliário. Com isso a startup se tornou um unicórnio em tempo recorde, com apenas 16 meses de atuação.
Qual é o grande diferencial da Loft?
“Diria que é o uso de dados e precificação. Somos a única empresa que realmente trabalha com dados reais. Nós transacionamos imóveis nos nossos balanços, temos entendimento da oferta e demanda em tempo real. Usamos os dados de precificação como base e a tecnologia para levar as soluções para a ponta, conectando as partes envolvidas na transação. Ou seja, a gente usa a tecnologia para garantir que o comprador e o vendedor, assim como o locador e o locatário, estejam todos conectados em uma plataforma única. Mas é a precificação que traz essa legitimidade. Muitas pessoas vêm para a Loft porque trazemos essa confiança. A gente consegue ajudar na precificação e balizar quanto o imóvel vale e o tempo que ele levará para ser vendido. O tempo é um fator importante. A pessoa pode vender por R$ 500 mil, mas, nesse preço, pode levar nove meses para achar um comprador. Por R$ 485 mil, a venda pode sair em três meses. Esse fator de liquidez é fundamental. Fomos a primeira empresa a tomar o risco de comprar e vender no nosso balanço. Mas foi isso que gerou esse conhecimento. Temos um índice de precificação que mostra o gap entre o preço pedido e o valor efetivamente pago. E com ele vemos como essa diferença evolui. Estamos tentando diminuir esse gap” diz Pencz.
Vocês falam em reinventar o consumo de moradia. O que isso significa na prática?
“De maneira simplificada, queremos tirar o desgaste ainda inerente às
transações. Muitas vezes as pessoas continuam morando em locais que já não
atendem às suas expectativas apenas para evitar o desgaste da mudança. Esses
pontos de fricção ainda são muito grandes. Uma coisa que vimos de fora para dentro,
com olhar europeu e americano, é que esse ‘jogo da vida’ é do ser humano, mas no
Brasil é muito mais dolorido do que deveria ser. Por isso buscamos criar soluções para
facilitar todas as etapas da compra e venda de um imóvel. Queremos que as pessoas
possam consumir moradia com mais facilidade.“
Também em entrevista, Gabriel Braga, fundador do QuintoAndar, conta como surgiu a ideia de construir a startup: “Sou de Belo Horizonte. Quando vim para São Paulo, fui alugar um imóvel e passei pelos perrengues que a gente conhece: encontrar muita informação desencontrada online, fotos que não mostravam realmente como era o imóvel. Gastei muito tempo visitando imóveis errados. Eu não tinha fiador em São Paulo, e a minha mãe, em Belo Horizonte, não podia ocupar essa posição, então passei pelo perrengue das garantias. Aí conheci o André [Penha] em Stanford, e começamos a discutir como resolver isso. Assim nasceu a ideia do QuintoAndar. Estávamos procurando um problema cabeludo, um negócio cujo status quo fosse bem ruim e de que as pessoas não gostassem, e com impacto grande. Então chegamos ao mercado imobiliário. Todo mundo precisa morar em algum lugar, e boa parte da renda das pessoas é gasta com moradia. Isso tem um impacto emocional – pensamos em como a felicidade tem a ver com onde você está morando. Concluímos que, se conseguíssemos resolver esse problema, iríamos impactar a vida de muita gente. Daí a gente resolveu focar no aluguel. As empresas existentes se concentravam mais em venda. Achamos que era um bom começo“.
Quanto tempo vocês demoraram para abrir a empresa?
“Pensamos na ideia por alguns meses durante 2012. Lançamos o QuintoAndar
em 2013. Naquele ano saiu o site, mas ele só começou a ter tração em 2016, quando a
gente conseguiu lançar a garantia embutida de graça para o inquilino, e garantia de
aluguel para o proprietário. Mas isso a gente não conseguiu ter desde o primeiro dia.”
O que vocês tiveram de mudar durante a pandemia?
“Tivemos de digitalizar ainda mais os processos. Quando as visitas aos imóveis ficaram mais restritas, as pessoas começaram a fazer visitas virtuais. Continuamos acelerando, não em função da pandemia, mas desse contexto de um mercado mais favorável e mais digital. Acabamos acelerando o nosso investimento em novas frentes e novos produtos nesse último período – como as vendas, por exemplo.“
O que você diria a quem está começando a empreender?
“A primeira coisa é escolher um problema grande e que de fato seja uma dor real. Acho que é um primeiro ingrediente para eventualmente construir uma empresa bacana e ter um impacto legal no mundo. Sou fã do empreendedorismo como grande resolvedor de problemas do dia a dia. E acho muito legal ver a quantidade de inovação e de soluções que aparecem todo dia para facilitar nossa vida, para deixar as coisas mais eficientes. Eu diria para um empreendedor começar por um problema grande e cabeludo”.
Fonte: Época Negócios, Época Negócios