Por que projetamos os imóveis da forma como fazemos? Existem várias limitações que influenciam esse processo, como o tamanho do terreno, as regulamentações locais, as preferências estéticas do momento e os custos de materiais e mão de obra, que afetam diretamente a viabilidade financeira. Além disso, as características urbanas da região também desempenham um papel importante.
No entanto, cada vez mais, o que define a aparência, a funcionalidade e até a demanda por certos imóveis é o estilo de vida dos potenciais moradores. Afinal, imóveis existem para serem habitados, e a configuração das famílias, a maneira como vivemos na cidade, nossas rotinas e hábitos precisam ser levados em conta no momento de projetar novos empreendimentos.
Construtoras e incorporadoras perceberam que fatores econômicos, sociais e demográficos não são mais suficientes para orientar a construção de imóveis. Não basta analisar apenas a renda ou o tamanho das famílias (com filhos ou sem filhos, e quantos?). O estilo de vida dos compradores deveria ser um dos principais critérios para o planejamento e desenvolvimento de novos projetos.
Hoje, há uma grande disparidade entre as tradicionais “personas” para quem os imóveis foram inicialmente projetados e as pessoas que efetivamente estão comprando ou ocupando essas unidades.
Prova disso é o aumento de empreendimentos que oferecem diferentes opções de tamanho de unidades em um único projeto. Esses condomínios reúnem pessoas e famílias com características variadas, mas que compartilham o desejo de viver em determinada área da cidade, a apreciação de uma estética arquitetônica específica ou serviços que atendem aos seus gostos e estilos de vida. São “tribos” que se conectam mais por comportamentos sociais do que por fatores demográficos.
Na cidade de São Paulo, há diversos exemplos desse fenômeno. A SKR, por exemplo, criou o conceito de Arquitetura Viva, com foco em novas experiências de moradia e interação. Já a Setin trouxe o conceito Alma Brasileira, que valoriza a estética e os talentos do design nacional.
Esses empreendimentos, embora não sejam novidade, têm se tornado mais comuns. Na capital paulista, ícones como o Conjunto Nacional e o Edifício Copan, construídos nas décadas de 1950 e 1960, já propunham a ideia de reunir unidades de diferentes tamanhos e configurações em um único prédio.
Hoje, o mercado está redescobrindo que a localização e o estilo de vida oferecido pela moradia são, muitas vezes, os fatores decisivos para quem está em busca de um imóvel. Essa percepção tem base empírica, confirmada por estudos de mercado, como a pesquisa Tendências de Moradia do Data ZAP, que trouxe novos dados sobre o tema.
A pesquisa mostrou um aumento no interesse por itens “não convencionais” nos condomínios. Embora as comodidades tradicionais, como churrasqueira, salão de festas e academia, ainda sejam bastante procuradas, três categorias novas despertam um alto interesse em mais de 30% dos entrevistados: minimercado, mensageria e espaço pet. O aumento da procura por espaço pet, em particular, é fácil de entender, visto o crescente envolvimento financeiro e emocional das pessoas com seus animais de estimação.
Os outros dois itens, minimercado e mensageria, refletem mudanças nas rotinas dos moradores, que foram aceleradas pela pandemia. O trabalho remoto, por exemplo, chegou para ficar. Quase metade dos brasileiros que procuram um imóvel trabalha em casa em parte do mês, e 10% trabalham remotamente todos os dias.
Somos uma sociedade que passa mais tempo em casa, compra mais pela internet e, portanto, exige mais comodidade em seus imóveis. “Comodidade” é a palavra-chave no mercado imobiliário hoje, e poucos aspectos impactam tanto esse conceito quanto a localização de um empreendimento. Por isso, a redescoberta de que compradores com perfis distintos podem compartilhar um mesmo estilo de vida e procurar o mesmo bairro para morar.
Atender às demandas desses novos compradores, criando projetos com unidades para todos os tipos de perfis em uma mesma região, será um dos maiores desafios do setor imobiliário nos próximos anos.
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Informações retiradas de Estadão