O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceu 1,4% no segundo trimestre do ano, superando as expectativas de mercado, que previam um avanço de 0,9%. Este resultado é o mais robusto desde o quarto trimestre de 2020, e projeta um cenário de expansão anual do PIB próximo de 3%, bem acima da previsão inicial de 1,59% do relatório Focus, em janeiro.
Com esse crescimento acelerado, é importante entender como ele impacta diretamente o mercado da construção civil, um setor que movimenta grandes volumes de recursos e gera muitos empregos. Entretanto, é necessário analisar de forma mais profunda os desafios estruturais e as oportunidades que essa expansão econômica pode trazer para o setor.
O Impacto do PIB na construção civil
Apesar do otimismo em torno do crescimento econômico, o mercado imobiliário brasileiro tem enfrentado dificuldades nos últimos 10 anos. Segundo José Urbano Duarte, especialista no setor: “O mercado imobiliário anda de lado há 10 anos. E a razão não é falta de demanda ou incapacidade de produzir e ofertar mais. Nove em cada dez transações imobiliárias de compra e venda regularmente efetuadas no mercado brasileiro são realizadas com financiamentos habitacionais tradicionais. Nesse contexto, é simples afirmar que o mercado não cresce, especialmente porque as condições de financiamento impedem.”
Ou seja, mesmo com o avanço do PIB, a limitação do financiamento habitacional continua sendo um grande entrave ao crescimento mais expressivo do mercado imobiliário. Esse é um desafio estrutural que deve ser enfrentado de forma estratégica.
Desafios estruturais e medidas necessárias
As dificuldades enfrentadas pelo setor de construção civil atualmente são de natureza estrutural, ou seja, estão relacionadas a problemas de fundo que não podem ser resolvidos apenas com soluções conjunturais e temporárias. Duarte reforça que medidas como a liberação do compulsório são importantes, mas apenas paliativas, assim como o financiamento da produção com recursos de mercado, que oferece soluções de curto prazo, mas é arriscado e insuficiente para sustentar um crescimento duradouro.
Ele destaca duas mudanças estruturais essenciais para o crescimento do setor. A primeira é o desenvolvimento de um mercado secundário robusto, que exige a renúncia de premissas focadas apenas na rentabilidade de curto prazo. Isso mudaria a forma como incorporadoras e construtoras conduzem seus negócios. A segunda é o direcionamento adequado dos fundos de financiamento, com o FGTS continuando a ser voltado para habitação popular, enquanto a poupança deve ser destinada ao segmento de média e alta renda.
Como o setor imobiliário pode aproveitar o crescimento do PIB
O aumento do PIB traz diversas oportunidades para o setor de construção, mas é preciso estar preparado para aproveitá-las. Empresas do setor podem adotar algumas estratégias essenciais para maximizar os benefícios desse crescimento econômico.
A primeira medida é investir na análise de demanda por imóveis. Com o crescimento econômico, há um aumento no consumo e na intenção de compra, o que pode gerar maior demanda por diferentes tipos de imóveis, seja habitação popular, de médio padrão ou alto luxo. Monitorar indicadores de consumo e crescimento populacional nas regiões pode ajudar as empresas a entender o que o mercado está demandando.
Outro ponto importante é realizar um estudo detalhado sobre a viabilidade e o preço dos insumos. Com o aumento da demanda por imóveis, os preços de materiais de construção como cimento, aço e vidro podem subir. Empresas podem optar por antecipar a compra desses insumos ou buscar alternativas para mitigar a dependência de materiais tradicionais.
Riscos e precauções
Embora o crescimento do PIB seja um indicador positivo, é importante manter um olhar cauteloso. Cenários de expansão econômica podem vir acompanhados de volatilidade em outras áreas, como inflação, câmbio ou pressões políticas. Portanto, é essencial realizar uma análise de riscos abrangente e cuidadosa ao planejar novos projetos no setor da construção civil.
O desafio do Funding e a necessidade de planejamento
O financiamento do setor imobiliário também é um ponto crucial. Como afirma Duarte, “adotarmos uma postura proativa, priorizando planejamento e processos, em vez de reagir às emergências previstas”, é fundamental para garantir a perenidade do acesso à moradia e a previsibilidade do setor. Criar mecanismos que reduzam o custo do capital para linhas de crédito imobiliário pode ser uma solução viável para enfrentar o desafio do déficit habitacional de sete milhões de pessoas no Brasil.
Por fim, é necessário que as agendas estruturais sejam priorizadas. Somente com mudanças profundas no financiamento e no planejamento do setor será possível aproveitar todo o potencial que o crescimento do PIB oferece para a construção civil.
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Informações retiradas de Eduarda Tolentino à Money Times