Zhang Yansheng, um economista chinês e pesquisador chefe do Centro Chinês para Intercâmbios Econômicos Internacionais, expressou preocupação com a recuperação econômica da China após a pandemia de COVID-19 em uma entrevista ao “Nikkei Asia”. Ele argumentou que a economia chinesa necessita de mais tempo e um maior apoio fiscal para se recuperar totalmente. Zhang também recomendou a flexibilização das regras relacionadas à dívida para grandes promotores imobiliários.
Estas preocupações surgem devido aos desafios que Pequim enfrenta, incluindo o baixo consumo dos consumidores, promotores imobiliários com altos níveis de endividamento e temores de uma possível deflação.
Seguem trechos da entrevista de Zhang com o “Nikkei Asia”:
Nikkei Asia: A recuperação econômica da China tem sido fraca. Como você vê as perspectivas?
Zhang: A pandemia da covid-19 durou três anos, portanto a recuperação também levará três anos. Ainda há falta de procura interna e nenhuma mudança na incerteza do setor privado quanto ao futuro. A recuperação pós-covid será intercalada com períodos de estagnação.
Nikkei Asia: A crise imobiliária não dá sinais de acabar.
Zhang: As medidas de apoio implementadas não são suficientes. A aplicação das “três linhas vermelhas” [regras de balanço destinadas a controlar as dívidas das grandes empresas imobiliárias] deveria ser interrompida. Será 2024 ou 2025 antes que a correção do mercado imobiliário termine e as coisas voltem ao normal.
Nikkei Asia: A China precisa de estímulo fiscal em grande escala?
Zhang: Há uma grande necessidade. O ex-ministro das Finanças Lou Jiwei disse que o déficit orçamentário deveria ser aumentado em 1,5 trilhões de yuans para 2 trilhões de yuans (US$206 bilhões a US$274 bilhões). Eu diria que a emissão de títulos do governo precisa ser muito maior do que isso.
O investimento e o consumo deverão ser aumentados através da construção de infraestruturas de dados e de outros projetos. Isto também pode levar a um elevado crescimento nos próximos 10 a 15 anos.
Nikkei Asia: Algumas pessoas dizem que a política fiscal deveria incluir benefícios diretos para as famílias.
Zhang: Isso é difícil. Mesmo que o rendimento nominal aumente, o rendimento real não aumentará devido à inflação. Para aumentar os salários reais, a produtividade do trabalho dos trabalhadores deve ser aumentada. A emissão de vouchers [para subsidiar compras de bens e serviços] também não teria sentido.
Nikkei Asia: Qual é a sua previsão para o crescimento econômico em 2024?
Zhang: Devido à incerteza persistente no setor privado e a outros fatores, a taxa de crescimento potencial de 5,5% não será alcançada, mas espero que o crescimento seja em torno de 5%.
Nikkei Asia: Existe o risco de “japanificação” ou de estagnação a longo prazo para a China?
Zhang: Não. O Japão teve muita dificuldade em se recuperar após o estouro da bolha imobiliária. Os problemas da dívida da China, sejam eles locais ou nos setores financeiro ou imobiliário, não chegaram ao ponto do colapso. Numa situação em que o risco esteja contido, não haverá um grave declínio econômico e deflação.
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Informações retiradas de Valor Econômico