Os maiores bancos do Brasil reuniram-se na semana passada durante o Abecip Summit, promovido pela Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) e afirmaram que aqueles que esperam por uma queda nas taxas de crédito imobiliário devido aos cortes na taxa Selic terão que aguardar até o próximo ano.
Caderneta perde R$173 bilhões desde o início de 2022
Uma das principais razões para o posicionamento das instituições financeiras está atrelada aos saques na poupança que já registram R$173 bilhões desde 2022. Para não deixar de atender quem buscava por financiamentos, os bancos passaram a buscar outras formas de conceder crédito, como a letra de crédito imobiliário (LCI) e a letra imobiliária garantida (LIG), cujos custos estão atrelados ao CDI com cerca de 13%, enquanto a pupança não ultrapassa os 7% mais taxa referencial (TR).
Esse movimento gerou uma queda da participação da poupança no funding, que foi de 46% para 36% entre 2021 e 2023.
Confira a opinião dos bancos sobre taxas do crédito imobiliário
As condições para redução dos custos das linhas de financiamento habitacional só devem se concretizar em 2024. O diretor de crédito imobiliário do Bradesco, Romero Albuquerque, destacou que não há previsão de redução no curto prazo e que é mais provável que isso ocorra nos próximos semestres.
“Não é especificamente só o movimento da Selic”. Para Albuquerque, “há vários fatores que pesam [na decisão], incluindo a perspectiva de o próprio Congresso endereçar reformas importantes”.
Romero Albuquerque
Para Sandro Gamba, diretor de negócios imobiliários do Santander, a redução de 50% para os atuais 35% da participação da poupança no funding do crédito imobiliário aumenta a correlação do crédito com a Selic, mas isso não significa um efeito imediato.
com as informações que temos hoje, não vejo espaço para redução da taxa de crédito imobiliário neste ano”. Para 2024, “temos de aguardar, explica ele.
Sandro Gamba
Um fator necessário para que as instituições realizem a redução de taxas é a recuperação de captação da poupança, afirma Rodrigo Penteado, diretor de produtos de crédito imobiliário do Itaú.
“A expectativa é favorável com o início do ciclo de redução da Selic, mas a composição dos instrumentos de captação é que estabelece o preço do crédito imobiliário. A queda de captação da poupança afeta [as taxas]. Quando temos captação mais voltada para instrumentos de mercado há um mix de custo mais elevado. Para ter redução, o componente de mix é muito importante.”
Rodrigo Penteado, diretor de produtos de crédito imobiliário do Itaú Unibanco.
Segundo a vice-presidente de Habitação da Caixa Econômica Federal, Inês Magalhães, “A redução de taxa não está no cenário por enquanto.”
Apesar das incertezas no horizonte, 2024 pode concorrer por um lugar no pódio no ranking dos melhores anos do crédito imobiliário, afirmou o presidente da Abecip, José Ramos Rocha Neto.
“Nó próximo ano, o volume de concessões de financiamento imobiliário vai estar em níveis próximos dos atuais”, disse. “Pode até estar lutando pelo bronze ou pela prata [no ranking dos melhores anos].”
José Ramos Rocha Neto, presidente da Abecip
De acordo com declarações do dirigente Rocha, o ano de 2023 está caminhando para se estabelecer como o terceiro melhor ano em termos de concessões na história desse setor. Estima-se que o volume de financiamentos habitacionais alcance a marca de R$ 240 bilhões, uma cifra bastante próxima aos R$ 241 bilhões registrados no ano anterior, desempenho que só fica atrás de outros dois anos de destaque no setor.
Além disso, as perspectivas para o próximo ano, 2024, são ainda mais promissoras. O dirigente ressaltou que existe potencial para um desempenho superior ao período atual, principalmente devido à melhora gradual do cenário macroeconômico. Essa melhoria nas condições econômicas poderia proporcionar um ambiente mais propício para o crescimento das concessões e dos financiamentos habitacionais.
Esses indicadores positivos apontam para um fortalecimento contínuo do mercado habitacional, com expectativas de crescimento nos próximos anos impulsionadas por fatores macroeconômicos favoráveis.
“Indicadores de desemprego estão extremamente controlados; a taxa de juros, além do movimento recente da primeira queda, o Copom sinaliza que teremos quedas constantes, e provavelmente vamos chegar no ano que vem a uma taxa de um dígito. No câmbio, vemos sinal positivo porque, mesmo no momento recente de instabilidade, não voltou a ultrapassar o patamar de R$ 5 [por dólar]. Além disso, a inflação mostra queda. Então, não podemos crer que teremos um 2024 ruim.” “o crescimento da economia vem superando as expectativas e o crédito imobiliário é uma das alavancas desse resultado”. O setor, segundo o presidente da Abecip, “mostra sensível melhora de produtividade.”
José Ramos Rocha Neto
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Informações retiradas de Sérgio Tauhata à Valor Investe e de Estadão