Apesar da estabilidade das taxas de financiamento imobiliário e do recorde de lançamentos de novas unidades, os preços dos imóveis no Brasil não param de subir há, pelo menos, 12 meses. Esse movimento reflete a crescente demanda aliada à escassez de imóveis em bairros nobres das capitais, especialmente em cidades como São Paulo e no litoral de Santa Catarina.
Segundo dados do Índice FipeZap, o preço do metro quadrado no país subiu 6,07% nos últimos 12 meses até maio, alcançando R$8.667. Esse crescimento é 2,38% acima da inflação do período.
A economista do DataZap, Ana Tedesco, explica que no primeiro semestre de 2024 houve um aumento no nível real de concessões de crédito imobiliário, com a taxa de financiamento imobiliário média permanecendo em um dígito, em torno de 9% ao ano, e o mercado de trabalho continuou melhorando. “Além disso, o mercado passou por um lento processo de recuperação de preços de venda e locação, que foram deteriorados pela inflação”, diz ela.
Além do equilíbrio fino entre oferta e demanda que dita os rumos dos preços no setor imobiliário, os custos relacionados à construção civil estão em uma fase de alta. Embora não no mesmo nível da disparada observada durante a pandemia de COVID-19, com três anos de aumentos de cerca de 10%, o custo subiu 3,49% em 2023 e mais 2,07% até maio deste ano.
Para o professor de finanças do Insper, Ricardo Rocha, outro fator que afetou os preços dos imóveis, especialmente em grandes cidades como São Paulo, foi o retorno aos escritórios no pós-pandemia. “O que acelera a alta é o fato de que ainda não chegamos ao denominador comum sobre o trabalho presencial ou híbrido. Se isso fizer subir a demanda, o preço também irá subir”, afirma.
O professor também acredita que a questão fiscal seja um ponto importante, particularmente para o público de alta renda. “Como há dúvidas sobre a solidez da questão fiscal do Brasil, as pessoas diversificam os investimentos. Quem tem mais dinheiro vai para o exterior ou compra imóveis.”
Henri Zylberstajn, CEO do portal de leilões Zuk, afirma que há uma forte relação entre os preços do mercado imobiliário e a taxa básica de juros, a Selic, tanto pela remuneração de aplicações financeiras quanto pelo financiamento obtido pelos compradores. ”Toda vez que temos um cenário de queda de taxa de juros, os investimentos alternativos, como os imóveis, ganham protagonismo em relação, por exemplo, à poupança ou a investimentos em renda fixa”, diz ele. Para o executivo, o setor de leilões de imóveis se beneficia especialmente em cenários como o de 2024, por vender propriedades com descontos em relação ao preço real de mercado.
Aumento de preços de venda e de aluguéis
No levantamento da FipeZap, o maior aumento foi registrado em São José, em Santa Catarina, um estado que passa por um ciclo de valorização no mercado imobiliário que dura uma década, puxado especialmente por Balneário Camboriú. Em São José, a alta em 12 meses foi de 15,23%, com o preço médio por metro quadrado de R$7.543. A cidade, portanto, ainda está longe do topo do ranking de precificação de imóveis, liderado por Balneário Camboriú, com R$13.145.
A capital paulista, epicentro financeiro do ramo imobiliário nacional, também não para de registrar aumentos de preços. No último ano, o preço médio por metro quadrado foi de R$10.936, uma alta de 5,20%.
Enquanto os preços dos imóveis anunciados para venda seguem em escalada, os preços dos aluguéis também sobem. A relação entre as duas coisas, segundo especialistas, ocorre porque o consumidor compara os custos do financiamento com os pagamentos mensais do aluguel para decidir entre comprar ou alugar uma moradia.
A cidade de São Paulo teve um aumento significativo nos aluguéis em 2024, subindo 14,84% nos 12 meses terminados em abril, segundo dados da FipeZap. O preço médio por metro quadrado no município está em R$ 44,74, gerando uma rentabilidade anual média ao proprietário que aluga seu imóvel de 5,86% ao ano.
Informações retiradas de Lucas Agrela ao Estadão.