Uma pesquisa da Abrainc (Associação Brasileira de incorporadoras Imobiliárias) revelou o perfil médio de um comprador de imóveis no país, os dados apurados acompanharam a jornada de compra nos últimos 12 meses.
O perfil é caracterizado com uma preocupação com a localização, principalmente deve ser próxima de supermercados e farmácias, morar perto do trabalho também é prioridade. Existe uma grande atenção ao preço, no entanto estão dispostos a pagar mais por itens como geração de energia solar, espaços arejados, tecnologia de conectividade e academia. Tudo isso, sendo rápido no gatilho para fechar negócio.
“A cultura do brasileiro ainda é de ter um imóvel, de ser proprietário. Não só por ser a moradia, mas por ser, para muita gente, o ativo mais valorizado que a pessoa tem“, afirma Luiz Antonio França, presidente da Abrainc.
A pesquisa da associação revela que o sonho da “casa própria” ainda é o motivador mais relevante para a compra de imóveis, com 70% das respostas dos entrevistados. Em seguida, dividem-se investimentos como acumulação de patrimônio (15%) e para locação ou revenda (14%). Apenas 1% declarou que cederia o imóvel para filhos ou parentes.
Já o tipo de moradia, o apartamento é o preferido, com uma fatia de 47% dos pesquisados. Casas e sobrados somaram 34%, enquanto terrenos em loteamento aberto reúnem 13% das respostas. Imóveis em condomínios fechados terminam a sondagem, sendo 4% de casas e 2% de terrenos.
Já na faixa de preço, a média apurada pela pesquisa foi de R$256 mil. Mais de um terço dos imóveis tinham valores acima dos R$250 mil.
Para França, o ciclo de alta dos juros básicos (Selic) não deve desestimular o mercado, em especial nas pontas das faixas de renda: o beneficiário de programas sociais, como o Casa Verde Amarela, antigo Minha Casa Minha Vida, tem juros subsidiados, enquanto a alta renda é menos sensível ao crédito mais caro.
Na sondagem da própria Abrainc, cerca de 35% dos compradores de imóvel iriam desistir de fazer a aquisição de um imóvel se o juro aumentasse 1,5 pontos porcentuais. “Quando o juro sobe, é a faixa do meio que acaba deixando de lado o ‘imóvel de desejo’ e vai para um menor ou de diferente localização“, diz França.
Acontece que, do início de 2021 para a última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) em fevereiro, a Selic disparou de 2% para 10,75%.
“O segmento está vendo a situação com cautela. Clientes do Casa Verde Amarela têm renda limitada, então foi preciso agir para facilitar a entrada, dar condições de crédito e outros ‘colchões’ para financiamento“, diz Elaine Belém, diretora comercial da HM Engenharia.
Já os compradores de renda mais alta deixaram de privilegiar o imóvel como investimento, acelerando a procura por casas e apartamentos maiores e que serão usados apenas como “produto final” para moradia.
De acordo com Antonio Setin, presidente da Setin Incorporadora, o giro da clientela foi tamanho que o estoque montado pela empresa para investidores passou de 60% do portfólio para cerca de 10% depois da pandemia.
“Quem investia em imóveis preferia apartamentos mais compactos, de valor menor, para diversificação. Era vantajoso ter três apartamentos de R$ 300 mil em vez de um que custe R$1 milhão. Hoje, acontece o inverso“, diz Setin.
O empresário explica que o valor médio das vendas da empresa subiu de R$ 600 mil para R$1 milhão no último ano, pois os juros mais altos levam o investidor para outros ativos. Os apartamentos menores também perderam força na pandemia pois o comprador passou a procurar espaços maiores.
Em julho de 2020, as plataformas de aluguel de imóveis já registravam uma demanda maior nesse sentido durante os meses de isolamento social mais intenso, com preferências para vista desimpedida e espaço para trabalhar de casa.
Mesmo a Vitacon, empresa que se tornou referência em apartamentos compactos, usou essa mudança de comportamento do consumidor para adaptar o negócio. A depender da região e depois de rodar pesquisas para entender a preferência do público, a empresa passou a “esticar” a metragem de seus apartamentos e investir mais em infraestrutura do condomínio.
“Nós intensificamos a oferta de apartamentos maiores e ampliamos áreas de coworking, academias e lavanderias para atender ao desejo de moradia do cliente. É uma busca por equilíbrio em um mercado mais desafiador”, conta Ariel Frankel, CEO da Vitacon.
Ainda que as condições de juros estejam mais apertadas para 2022, o executivo projeta crescimento de 20% para a empresa, apostando justamente na equação equilibrada entre entender os anseios do consumidor e extrair o valor dentro das possibilidades financeiras do público-alvo.
Espaço para o digital
A pesquisa da Abrainc mostra ainda que o comprador de imóvel tem feito todo o processo de modo tradicional. Apenas 6% dos entrevistados concluíram a compra pela internet. As imobiliárias representam 50% dos negócios. Plantões de venda, outros 25%.
O único uso consagrado das plataformas digitais é a pesquisa por imóveis, com 29%. Dali em diante, o processo volta a ser analógico, com visitas presenciais e negociações em pessoa.
Isso mostra que “não dá para escapar do atendimento humanizado na ponta. No interior, o investidor mal acessa o mercado de capitais, ele procura oportunidade direto na imobiliária“, diz Jardel Cardoso, VP de relações institucionais da Loft.
O executivo explica que o desafio das plataformas para imobiliárias é desburocratizar o processo e auxiliar os profissionais que fecham o negócio.
“O cliente está mais rápido e mais preciso no momento de compra. Ele esgota as escolhas na internet para não perder tempo ao visitar o imóvel fisicamente. E quem vende o produto precisa conquistar o cliente rapidamente para que não seja descartado“, afirma.
Fonte: G1