O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central anunciou a sexta redução consecutiva da taxa básica de juros, a Selic, de 11,25% para 10,75% ao ano. Essa medida, iniciada em agosto de 2023, tem o objetivo de controlar a inflação e impacta diretamente as taxas de crédito praticadas no mercado.
A queda da Selic deve resultar em um menor custo do crédito para as famílias brasileiras. No entanto, especialistas consultados pelo jornal O GLOBO apontam que a redução da taxa básica pode não se refletir imediatamente em todas as modalidades de crédito.
Redução dos juros já chega na ponta
Um estudo conduzido pelo economista sênior da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Fábio Bentes, revela que os juros praticados em operações de crédito para pessoas físicas estão em declínio, em linha com a trajetória de redução da Taxa Selic. Essa tendência de queda nos juros ao consumidor reflete os cortes sucessivos implementados pelo Comitê de Política Monetária (Copom) desde agosto do ano anterior.
Desde o início dos cortes na Selic, as taxas bancárias têm sido menos onerosas para os indivíduos, proporcionando um alívio financeiro. Em janeiro do corrente ano, a taxa média de juros cobrada pelos bancos em operações com pessoas físicas atingiu 52,42%, marcando o menor patamar desde junho de 2022.
— A cada movimento de 1 ponto percentual na Selic, isso corresponde a uma taxa de 2,5 pontos percentuais. Se a taxa Selic está com tendência contratada de queda até o fim do ano, isso sugere que a taxa de juros na ponta vai estar menor do que estava no final do ano passado — diz Bentes.
Juros de diferentes linhas de crédito têm redução
O diretor executivo de Estudos e Pesquisas Econômicas da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel José Ribeiro de Oliveira, destacou que a recente redução da taxa Selic, ocorrida nesta quarta-feira, terá um impacto praticamente imperceptível no bolso dos consumidores.
No entanto, ele ressalta que as reduções consecutivas promovidas pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central têm um efeito significativo a longo prazo. Oliveira explica que tais cortes têm um impacto relevante nas principais modalidades de crédito, como cartão de crédito, cheque especial, CDC para veículos e empréstimos pessoais em bancos e financeiras.
Tem ficado menos custoso contrair dívidas na maioria das modalidades de crédito. Mas Oliveira alerta que é preciso distinguir o efeito sobre dívidas de curto e longo prazos. Quem está com valores em aberto no cheque especial ou no cartão de crédito deve aproveitar o momento de redução dos juros para quitá-las:
— Os juros do cartão de crédito e do cheque especial são muito elevados. No ano, o consumidor chega a pagar quatro vezes mais do que o valor da dívida original. Portanto, ele deve liquidar essa dívida o quanto antes, ou fazer um empréstimo para liquidar, pois vai encontrar juros menores e será melhor — diz o executivo.
Financiamento da casa própria fica mais barato?
Especialistas recomendam aguardar para financiar a casa própria, prevendo que o Banco Central reduzirá ainda mais as taxas nos próximos meses, possivelmente chegando a 9% a 9,5% ao ano. Isso se deve ao fato de que as taxas de juros em financiamentos imobiliários são contratadas, o que significa que mesmo com futuras reduções na taxa básica de juros (Selic), quem já contratou um financiamento não se beneficiará dessas reduções.
Por exemplo, um financiamento de R$200 mil em 30 anos, com uma taxa de 10% ao ano, resulta em pagamentos mensais de R$1.696,32 e um desembolso total de R$610.675,20.
No entanto, caso o consumidor decida aguardar mais dois ou três meses e haja uma queda de 0,5 ponto percentual na Selic, a prestação pode cair para R$ 1.626,54, e o total do financiamento é reduzido para R$ 585.554,40 — uma economia de pelo menos R$ 25 mil.
— A prestação cai pouco, mas a economia no financiamento de longo prazo é muito grande. Por isso, a não ser que seja necessário, é recomendado que ele adie para esperar uma taxa menor para efetuar o financiamento. Quem esperar vai se beneficiar mais lá na frente — avalia Oliveira, da Anefac.
Redução do juro ajuda quem está endividado, mas efeito sobre a economia tende a ser limitado
As seguidas reduções na taxa básica de juros permitem que as renegociações de dívidas se deem de forma mais barata e favorável ao consumidor, lembra Luiz Rabi, economista da Serasa Experian.
— Uma pessoa que fez um empréstimo quando a Selic estava 13,75% e está com dificuldades de pagar, pode renegociar essa dívida a um juro menor e a um prazo maior — afirma.
Ainda assim, o efeito da Selic sobre o crédito acaba sendo limitado neste momento em função do nível de inadimplência ainda alto no país. Há 72 milhões de brasileiros com contas em atrasado, segundo dados da Serasa. Este patamar está estagnado desde o segundo semestre do ano passado, afirma o economista:
— O que realmente reduz a inadimplência são as condições macroeconômicas. A inflação está controlada, os juros e o desemprego estão caindo e a renda está crescendo. Está tudo posicionado para que a inadimplência entre numa tendência de queda. O problema é que isso leva um certo tempo.
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Informações retiradas de Exame