O surgimento de novas tecnologias para o mercado imobiliário têm movimentado o setor nas últimas semanas. Muito se tem falado sobre a presença de inteligências artificiais nas imobiliárias e no impacto que elas causam ao trabalho de corretores.
Nesse contexto, é fundamental que os profissionais do mercado imobiliário compreendam o funcionamento dessas tecnologias e possam usá-las a seu favor. Para entender essas transformações, o Papo Imobiliário entrevistou Anderson Dieguez, corretor imobiliário com mais de 15 anos de experiência no mercado.
Anderson compartilhou insights valiosos sobre o papel da tecnologia e como os corretores podem integrar essas ferramentas em seu dia a dia para oferecer um serviço ainda mais eficiente e personalizado aos seus clientes.
Você pode nos contar um pouco mais sobre a sua trajetória pessoal, como começou na indústria imobiliária e o que o motivou a seguir essa carreira?
Eu entrei como a grande maioria dos corretores de imóveis, por acidente, não era algo que vislumbrei, foi uma oportunidade que apareceu. Tudo começou em 2002 quando fui chamado para uma entrevista em uma grande imobiliária. Eu era jovem e não tinha formação nenhuma e fui convidado por uma imobiliária para o processo seletivo para corretores de imóveis.
De início, achei super curioso, e, embora não conhecesse muito bem a profissão de corretor de imóveis, o potencial financeiro que a proposta oferecia, me atraiu. Eu era jovem, logo brilhei os olhos e acabei gostando da ideia. Na época eu fazia faculdade de administração, sempre tive uma veia empreendedora , e essa seria para mim uma grande oportunidade, principalmente porque venho de uma família humilde, sem grandes percepções de carreira.
Minha trajetória foi marcada pela persistência. Fui reprovado neste processo seletivo e, depois de muito persistir, fui aceito como corretor online em 2002, essa foi inclusive umas das primeiras equipes de corretores imobiliários online, e que marcou o início da minha carreira.
Eu gostei muito da profissão e atuei por quase cinco anos. Depois desse período, ocupei cargos de liderança, atuando como coordenador e gerente de equipes de corretores.
Na sua opinião, quais são as principais habilidades necessárias para ser um corretor imobiliário de sucesso?
O grande segredo para ser um corretor de imóveis de sucesso é, na verdade, a mistura de três elementos: a persistência, a vontade de aprender e a busca por evoluir. Muitos profissionais entram nesse mercado para se “aventurar” e acabam atuando de forma amadora, não persistem e desistem na metade do caminho. Os corretores de sucesso, e aqueles que são uma referência para minha carreira, persistiram por muitos anos e conquistaram seus objetivos por isso.
Sabemos que o dia a dia do corretor pode ser bem estressante. Pensando nisso, como você equilibra sua vida profissional e pessoal e quais são as suas estratégias para lidar com o estresse e manter-se motivado?
Meu grande hobby é o mercado imobiliário, então acabo me relacionando com os temas que tangem o setor, talvez isso seja um defeito meu. Nos meus momentos de lazer eu gosto de estudar novas tecnologias, novos métodos e modelos, estudar é uma forma de me desligar um pouco. Gosto também de assistir séries voltadas ao mercado imobiliário, isso me dá muitos insights e ideias bacanas.
Eu penso que a gente fica muito preso na bolha imobiliária, e há muito o que explorar em outros ramos e que podemos aplicar ao nosso mercado. Tem muita coisa que podemos aproveitar por aí.
Como você se mantém atualizado sobre as novas tendências na indústria imobiliária e quais são suas fontes de informação?
As redes sociais, sem dúvida! Seguir pessoas que são grande referência e canais que abordem o tema, inclusive o blog de vocês do Papo Imobiliário, é sensacional, parabéns! Eu gosto e acompanho todos os dias. Atualmente também uso o Google, e ativo alertas para notícias relacionadas ao mercado imobiliário.
Muito tem se falado sobre IA e seus impactos nos processos comuns do nosso dia a dia. Como você utiliza a inteligência artificial e a automação em seu trabalho e quais são os benefícios que você enxerga dessas tecnologias para o mercado imobiliário?
Eu utilizo o ChatGPT com frequência, essa ferramenta tem me ajudado muito enquanto corretor de imóveis. Há alguns meses atrás aceitei uma proposta para montar um departamento de vendas on-line de uma incorporadora. Esse projeto conta com 500 corretores e gera em torno de 30 mil leads por mês. Estamos implantando um atendimento on-line e oferecendo diversos e-books, todos desenvolvidos utilizando o ChatGPT. Também utilizamos esse recurso para fazer criativos de campanhas, redes de imagens e vídeos.
Na sua opinião, como o corretor pode utilizar a tecnologia para melhorar a experiência do cliente durante todo o processo de compra ou venda de um imóvel?
Eu acho que a forma mais eficiente de utilizar essa tecnologia é saber fazer as perguntas certas. Porque, de fato, ela não vai transformar corretores amadores em profissionais, mas ela pode ajudá-los a evoluir na medida que perguntas adequadas são feitas.
Ela pode dar mais caminhos se você souber fazer as perguntas certas, mas isso só funciona quando você está na sua área. Não adianta, por exemplo, eu querer ser um dentista e utilizar o ChatGPT para isso, se eu não for dentista, como vou fazer as perguntas certas, entende? Mas se um dentista profissional quiser desenvolver uma campanha para atração de novos clientes com a ajuda do ChatGPT, por exemplo, daria certo, seria uma campanha mais veiculada, pois ele domina o assunto e pode descobrir as respostas adequadas por meio da inteligência artificial.
O ponto é, para aproveitar todo o potencial que esses softwares oferecem e para garantir que, de fato, isso ajude, é fundamental ter conhecimento do assunto inicialmente. Então a dica que eu tenho é: se atualize e estude muito antes, assim você saberá fazer as perguntas certas para extrair o melhor da inteligência.
O aumento do uso de tecnologia no mercado imobiliário é visto por alguns profissionais como um fator preocupante. Como você lida com isso no seu dia a dia e como essa tendência pode impactar a indústria a longo prazo na sua opinião?
Eu acho que essa discussão não está restrita ao mercado imobiliário, viu? A inteligência artificial está presente em diversos mercados e ela pode substituir funções e trabalhos humanos, sobretudo funções mais operacionais, isso é um fato.
Acho que essa é uma das maiores discussões, porque a inteligência artificial faz um trabalho muito bem construído, melhor que o de muitas pessoas. Mas por outro lado isso assusta porque você tira o trabalho e, consequentemente, o sustento de muitas pessoas, que acabam tornando-se obsoletas.
Isso vale para o nosso mercado também. Na minha percepção, o trabalho do corretor de imóveis, por essência, é ajudar e intermediar os negócios, e como intermediador ele tem que ser um conhecedor de processos, de pessoas, de leis e principalmente, ele tem que ter um contato humano, ele tem que ter a relação entre pessoas, algo que a inteligência artificial não é capaz nesse momento.
Não acredito que ela possa, hoje, assumir todas as tarefas de um corretor, ela pode eliminar alguns processos e potencializar a capacidade de bons profissionais do mercado imobiliário, mas não substituir.
Então neste momento, não acho que a inteligência vai substituir o trabalho do corretor, mesmo aquele menos preparado. Por outro lado, ela vai potencializar e ajudar ainda mais aquele que já é preparado, que estuda e busca se manter atualizado. A tendência é que os melhores se sobressaiam e façam cada vez mais negócio, e os que não são, talvez fiquem pelo caminho, né? Acho que esse é o risco certo.
Como você acha que as mudanças demográficas, o envelhecimento da população e a urbanização afetarão o setor do aluguel? Há uma tendência corrente entre as novas gerações de não financiar um imóvel e optar pelo aluguel, para usufruir do bem sem compromisso, como você vê esse movimento?
Embora o mercado de locação possa aumentar, e eu acredito que vá, devido ao comportamento do consumidor, as pessoas agora tendem a usar mais e ter menos posse. Pode ser que isso mude, mas neste momento esse é o cenário que podemos observar. De todo modo, alguém sempre será o proprietário, os imóveis não deixarão de ser comprados e vendidos, o que muda é a forma de utilização.
Esse é um ponto interessante, porque mobiliza a cadeia econômica, potencializa quem está comprando como negócio e quem está investindo tende a ter mais consumidores. Esse é, inclusive, um dos motivos pelos quais o aluguel subiu assustadoramente nos últimos meses, em função da demanda mesmo, porque a oferta é limitada.
Por mais que a gente construa 20, 20 ou 50 mil imóveis novos todos os anos, a população também cresce, tanto em volume quanto migração, principalmente em São Paulo.
Há uns dois anos atrás eu fiz um estudo e pude perceber que, na época, cerca de 100.000 pessoas anualmente se mudavam para São Paulo ou de outras cidades, estados brasileiros ou de fora do Brasil, e essa conta não fecha, certo? São 100.000 chegando, mas quantos novos imóveis são construídos? A oferta não supre.
Com relação ao envelhecimento da população, acredito que a tendência é que os imóveis sejam adaptados cada vez mais para atender esse público, o que já vem acontecendo naturalmente, os imóveis têm diminuído de tamanho.
Acredito que por mais que a tendência de locação suba, isso não é um fator negativo para compra e venda, porque, como eu disse, alguém sempre será o proprietário, e aqueles que investem nisso e fazem as escolhas certas poderão garantir uma renda recorrente pelo resto da vida, porque clientela não vai faltar.
Como a mudança nos padrões de trabalho, como o trabalho remoto, afeta o mercado hoje e como afetará a demanda por imóveis no futuro?
A digitalização já vinha acontecendo há muitos anos. Eu, por exemplo, comecei no mercado de vendas pela internet em 2002 e já vendíamos imóveis com qualidade, na época era basicamente o nosso site e alguns portais e não redes sociais, talvez o Orkut. Mas as coisas mudaram muito nos últimos anos e a pandemia acelerou esse processo, o que seria para 5 ou 10 anos, aconteceu em apenas 1 ano.
O fato é que cada vez mais o consumidor está online e sua jornada de compra está também restrita ao digital. O corretor, nesse sentido, precisa compreender como essa jornada funciona, porque muitas vezes o consumidor não vai fechar o negócio logo de cara, isso pode levar um dia, um mês ou até mesmo anos e o profissional imobiliário precisa ser capacitado para compreender isso e estar preparado para conduzir, fidelizar, e se conectar Na minha opinião, esse é um caminho sem volta e tende a cada vez mais ser remoto.
Temos observado a criação de diversas empresas do nosso setor que restringem suas negociações somente ao digital, mas essa dinâmica não é a que prevalece, já que o mais comum é encontrar imobiliárias que iniciam o processo no digital mas finalizam no presencial.
Esse é um processo que varia muito de acordo com a faixa etária e com o tipo do público. O público de 40, mais 30, dificilmente faz um processo 100% digital. Mas a geração menos 30 já nasceu com um celular na mão, para eles é natural percorrer todo esse processo pelo digital. Daqui um tempo pode ser que o processo seja 100% digital, mas eu acho que vai levar um bom tempo pra isso acontecer, e quando acontecer é fundamental que os corretores saibam como conduzir o cliente nessa jornada do mundo digital. Porque começar no digital é muito forte.
Para finalizarmos, como você vê o setor imobiliário evoluindo nos próximos anos e quais são as mudanças que você espera ver no mercado?
Eu acho que o mercado caminha para a profissionalização de nossos profissionais, porque a crescente inserção de novas tecnologias no setor precisa de profissionais que a dominem e que saibam como integrá-las ao dia a dia em uma imobiliária, quem não souber manuseá-las, torna-se obsoleto e fica para trás. Temos observado cada vez mais a criação de recursos de automação e de relacionamento nessas empresas, então esse é o futuro do mercado, sem dúvida.
A presença da IA no mercado imobiliário trás a ideia de que corretores se tornarão obsoletos, mas essas tecnologias, não substituem a relação humana, algo fundamental quando o assunto é negociação imobiliária.
Vejo um mercado cada vez mais forte, mais profissionalizado, mesmo com a volatilidade que caracteriza o setor: a economia melhora, daqui um tempo piora, a taxa de juros baixa e aumenta o imóvel, mesmo com essas mudanças, nosso setor continua sendo um porto seguro e algo tangível, valorizando muito e dando retorno, cada vez mais as pessoas vão vê-lo como sendo um ótimo negócio também.
Quer continuar atualizado sobre o mercado imobiliário? Então se inscreva na nossa Newsletter. Todas as terças e sextas, às 7:15, nós enviamos no seu e-mail as principais notícias do mercado Imobiliário. Vejo você lá!