Em 2021, Daiana Zorzin, 29 anos, comprou um apartamento de dois quartos na região de Santo Amaro, na capital paulista, no valor de R$320 mil. Para realizar a aquisição, ela havia economizado R$64 mil para dar de entrada.
Mas após pegar as chaves do imóvel na semana passada teve uma surpresa: a estimativa do banco em setembro de 2021 era de que o financiamento atingisse o valor de R$280 mil. Em abril deste ano o valor passou para R$313 mil – um aumento de R$33 mil comparado ao valor inicial.
“Vou conseguir pagar o financiamento sem exageros financeiros, mas se eu tiver qualquer mudança na renda talvez o cenário não seja tão positivo assim. Além disso, o valor que vou pagar a mais nas parcelas poderia ser investido para eu amortizar o imóvel no futuro”, disse Daiana.
Financiamento de Imóveis na planta
Vale lembrar que, geralmente, durante o financiamento de um imóvel na planta, o comprador dá uma entrada e faz o pagamento das parcelas à construtora durante o período das obras. Na entrega do imóvel o valor restante é financiado pelo banco, cujo contrato leva em conta o juros vigente no momento e não a cotação da data da compra.
No entanto, entre as assinaturas da compra do imóvel e do contrato de financiamento podem se passar de dois a três anos, foi o que aconteceu com Daiana. Entre o período que comprou o apartamento e assinou o contrato, a taxa Selic passou de 6,25% ao ano para 11,75% ao ano, um aumento de mais de cinco pontos percentuais.
O aumento da taxa básica de juros traz novos desafios para quem quer financiar um imóvel, que além de arcar com parcelas mais elevadas, necessitam comprovar uma renda maior ao banco.
Na simulação feita pela startup MelhorTaxa mostra que uma pessoa que comprou um imóvel na planta no valor de R$300 mil com entrada de R$60 mil poderá pagar mais que o próprio valor inicial do imóvel ao final do financiamento.
Para se ter uma ideia, um financiamento feito em abril de 2020 no valor de R$240 mil em 30 anos, seria necessário comprovação de renda no valor de R$8 mil, e seria pago um pouco mais de R$240 mil no valor do financiamento.
Neste ano, o mesmo financiamento exige comprovação de renda no valor de R$11 mil, e o valor total do financiamento passaria para R$331 mil.
Vale destacar que quem compra um imóvel na planta também paga parcelas durante a obra, até o imóvel ficar pronto. Já o saldo devedor é corrigido mensalmente pelo Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) do período. Desta forma, o valor do imóvel a ser financiado pelo cliente nunca é igual ao estimado no início do contrato, uma vez ele é corrigido ao longo da construção.
“A taxa cobrada pelos bancos já passou de 10%, mas dá pra conseguir um índice um pouco menor. Adquirir um imóvel na planta exige cuidado, uma vez que há pessoas que acabam comprando por impulso e depois não conseguem comprovar renda para conseguir o financiamento depois que as chaves são entregues“, explicou Paulo Chebat, CEO da MelhorTaxa.
É importante que o mutuário compare as taxas cobradas pelo seguro, exigido em todos os financiamentos imobiliários e fique atento aos serviços extras cobrados pelos bancos, como o cartão de crédito e a previdência privada.
Em época de inflação, embora o INCC pese no bolso de quem comprou imóvel na planta, também aumenta o patrimônio quando a dívida for liquidada, segundo avaliação do contador Anderson Fernandes, franqueado da Azul Empréstimo.
“No Brasil, não temos o privilégio dos juros baixos a vida toda. Estamos voltando à realidade agora [com o aumento da Selic]. Para comprar o imóvel próprio nessas condições, o brasileiro acaba aumentando o prazo do financiamento e reduzindo os gastos”, disse ele.
Fonte: G1