Uma tendência que até pouco tempo atrás não se via no país está ganhando força: o multifamily, prédios habitacionais em que todos os moradores são apenas locatários. As unidades, que possuem tamanhos variados entre 30m² e 140m², já vem mobiliadas, com lavanderia, internet, coworking, aluguel de veículos e bicicletas, arrumadeira e academia, entre vários outros serviços.
As unidades geralmente são construídas em regiões de boa localização, próximas ao metrô, e comércio, mas o grande diferencial é que as administradoras dispensam a necessidade de fiador para concretizar o contrato.
Nos Estados Unidos esse mercado já representa 80% do segmento de aluguel e na Europa já encontra-se consolidado. Essa tendência é fortemente impulsionada pela alta na taxa de juros, que hoje encontra-se em 12,75% ao ano, tornando a aquisição de imóveis mais custosa. Somado a isso, os níveis de preços de casas residenciais em grandes cidades, como São Paulo e Rio de Janeiro tem dificultado ainda mais o sonho da casa própria para muitas famílias.
Isso tem motivado construtoras, como a Luggo, empresa da MRV criada para desenvolver e gerir novos prédios da multifamily, já lançou 592 unidades para locação, das quais 588 já estão ocupadas. Até 2025 espera-se construir 5.040 unidades no Brasil, estimativa estabelecida por meio da parceria com a empresa canadense Brookfield.
A ideia de trazer o mercado para o Brasil, segundo Rodrigo Lurfy, surgiu após uma aquisição realizada pelo grupo de uma empresa nos Estados Unidos, vista como um negócio em potencial. “Aqui há muito espaço para crescer. E com a Selic no atual patamar fica mais interessante”, diz ele, que aposta num público mais em início de carreira.
Para ele, este público está postergando para adquirir um imóvel porque preferem ter a liberdade de escolher onde morar e em quanto tempo. Na Luggo o valor dos aluguéis são a partir de R$2,2 mil, com condomínio e IPTU inclusos.
Estima-se que cerca de 30% da população viva de aluguel, das quais 95% dos negócios são com pessoa física.
“Fazemos studios de um ou dois dormitórios, de 20 a 90 m², muito bem pensados”. Além de decoradas, as unidades oferecem uma série de serviços ao inquilino. A empresa possui 5 edifícios em São Paulo e mais dois projetos em aprovação. O foco está para as regiões como a Paulista, Faria Lima, Perdizes e Chucri Zaidan, todas em São Paulo.
Por serem construídos em bairros nobres, os empreendimentos são destinados a um público específico de classe média alta. “Os preços de imóveis nessas áreas estão numa crescente, o que dificulta a compra pelo consumidor. Mas muitos têm o desejo de morar nessas regiões. Então a solução é alugar”, diz Ariel Frankel, sócio do escritório NFA Advogados Ricardo Negrão.
Os bairros Leblon e Ipanema, no Rio de Janeiro, estão entre as regiões em que a alta nos preços impede as aquisições de imóveis. Justamente por isso, incorporadoras têm buscado comprar terrenos nessas localidades, mesmo que pequenos. É o caso, por exemplo, da Vila 11, que comprou 16 terrenos para construção de prédios para locação. O valor do investimento foi de R$1,5 bilhão. Para Ricardo Laham, presidente da empresa, o cenário é favorecido pelo aumento na taxa de juros, que torna a locação mais atrativa.
“A cada 1% de aumento na taxa, a renda necessária para aquisição de um imóvel sobe 10%.” As pessoas tornam-se mais receosas de comprar um imóvel e futuramente se individarem em função da menor capacidade financeira.
Elizângela Rosa da Silva Costa, de 38 anos e Dharana Calesco Rezende, de 33 anos, moram de aluguel. Ambas optaram pelo multifamily por serem opções que cabem no bolso e ainda proporcionar tecnologia e inovação.
O apartamento de Elizângela, localizado em Belo Horizonte, possui 50,93m² e o aluguel custa R$1.736, com condomínio, IPTU, água e gás. A locatária, que é casada e possui um filho, conta que já tentaram um financiamento mas a parcela seria muito alta. A burocracia durante o processo também desanimou o casal. “Aqui não precisava nem de fiador e a negociação foi mais fácil.”
O apartamento de Dharana, localizado em São Paulo, possui 27m². Segundo ela, sua escolha foi motivada pela instabilidade financeira que se instaurou desde o início da pandemia. Assessora de eventos, ela teve os rendimentos comprometidos por causa do isolamento social. Por isso, optou por um negócio que não lhe amarrasse tanto no caso de algum problema. “Aqui fico o tempo que quiser.”
Antes desse apartamento, ela morava em um imóvel alugado que pertencia a uma pessoa da família. “Mas a manutenção me dava muita dor de cabeça. Isso eu não tenho aqui. Não sei se vale a pena. A não ser que tenha uma família.”
Pegar o apartamento todo mobiliado foi um dos grandes diferenciais. Só precisei trazer a mala com as roupas. O resto estava tudo aqui pronto. A sala de reunião é uma outra vantagem. “Isso sem contar que já tem serviço de faxina, o que é muito bom.”
Fonte: terra