Recentemente tivemos a última alta da taxa básica de juros (Selic), no entanto, o mercado já prevê que teremos novas altas em breve. O indicador se encontra atualmente em 10,75% ao ano, com a possibilidade de chegar até 12,25% em maio.
Alberto Ajzental, coordenador do curso de Desenvolvimento de Negócios Imobiliários da FGV, realizou um cálculo que nos revela que, caso isso aconteça, cerca de 4 milhões de famílias perderão o poder de adquirir um imóvel – em comparação com o cenário do início do ano passado, quando a taxa básica estava nos históricos 2% ao ano.
O levantamento ainda mostra que, com o indicador em dois dígitos, cerca de 3,5 milhões de famílias já não conseguem mais comprar um apartamento de R$250 mil, o tipo mais vendido no país.
A taxa básica de juros tem ligação direta sobre a taxa de financiamento imobiliário adotada pelas instituições financeiras, quando temos queda ou alta em torno de duas semanas acontece alterações nos juros do financiamento de imóveis. Com taxas mais altas de financiamento imobiliário, aumenta o valor final a ser pago no contrato e, o que afeta mais diretamente os compradores, o valor da parcela mensal.
Segundo os cálculos do coordenador, quando a Selic se encontrava a 2% ao ano um financiamento de um imóvel de R$250 mil teria uma parcela de R$2.191. Com a taxa atual, o valor subiu para R$2.725, aumento de R$534.
Além de comprometer mais o orçamento mensal, um financiamento mais caro exige comprovação de renda maior. É aconselhável que o comprador comprometa no máximo 30% da renda familiar. Assim, a renda mínima para conseguir financiar o mesmo imóvel passou de R$7.303 para R$9.083 — é preciso ganhar R$1.780 a mais. Hoje, uma renda familiar de R$9.083 equivale a quase 7,5 salários mínimos.
Ao final do contrato, calculado por Ajzental como tendo duração de 20 anos, o valor total desembolsado pelo comprador será de R$427.047, R$64 mil a mais do que o previsto com a Selic a 2% ao ano.
“Não estou dizendo que a família que ganha R$7.000 não vai mais comprar imóveis, mas ela não tem mais condição de comprar o de R$250 mil”, afirma o coordenador.
O cenário só tende a piorar com os novos aumentos previstos para a taxa básica de juros. A próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), que define as alterações na Selic, está prevista para os dias 15 e 16 de março.
Além dos juros do financiamento, o consumidor enfrenta a inflação em alta, o que deve resultar em aumento do valor dos imóveis e perda geral do poder de compra, outro empecilho para a aquisição da casa própria. O IPCA, índice oficial da inflação, foi de 10,38% no acumulado dos últimos 12 meses, maior valor para janeiro desde 2016.
Fonte: Folha