Na última quinta-feira, 13, o Sinduscon-SP (Sindicato da Indústria da Construção Civil em São Paulo) informou que a construção civil inicia o ano de 2022 com fatores que podem preocupar o potencial crescimento do setor em 2%, um avanço baixo em comparação aos 8% estimados para 2021.
O presidente da instituição, Odair Senra, comenta que faltou a “retomada robusta da economia e da atividade pós-pandemia”. Faltaram também, segundo ele, as grandes reformas estruturais com condições de atrair investimentos.
A chegada do período eleitoral enfraquece o clima político para reformas, no entanto, resulta em um esforço para concluir obras de infraestrutura nos estados, o que é bom para o setor.
O vice presidente de economia do Sinduscon-SP, Eduardo Zaidan, comenta que, até o presente momento, a variante ômicron ainda não refletiu nos canteiros de obras, mas preocupa o setor pelo possível efeito sobre o abastecimento das matérias primas.
“Ainda é difícil medir o real impacto nas obras hoje, 13 de janeiro, porque muita gente saiu para o fim do ano e não voltou ainda. Por enquanto, nos canteiros a variação não é tão grande como foi em março e abril de 2020, quando chegamos a ter 30% [dos trabalhadores] afastados“, afirma. O custo de matéria-prima e a escassez de materiais e equipamentos ainda assombram o setor de construção. “Ainda é cedo para avaliar esse impacto, mas é mais um fator para atrapalhar a produtividade. Ainda há demora excessiva em entregas”, explica Zaidan.
O dirigente afirma que, apesar de haver deflação em muitos produtos usados nas obras, para o mercado houve apenas uma estabilização em patamar menor. Ou seja, o preço caiu em relação ao pico, mas não retornou ao nível do pré-pandemia.
Produtos como cerâmicas levam cerca de 90 dias para serem entregues. Antes das rupturas nas cadeias de abastecimento com o início da pandemia a espera era de até 30 dias e havia até quem tivesse produto em estoque. “Ainda sofremos muito com a desorganização da logística”, afirma o vice-presidente de economia do Sinduscon-SP.
Neste ano as construtoras possuem contratos a concluir, o que mantém a atividade do em setor andamento. O setor vendeu bem em 2021, ainda colhendo os frutos dos juros baixos, que deram mais condições de crédito para os compradores. As propriedades lançadas e vendidas no ano passado serão construídas agora, no entanto, o futuro depois disto não é claro para o setor.
Até novembro, dado mais recente compilado pelo Secovi-SP (sindicato da habitação), 66 mil unidades residenciais haviam sido vendidas em 12 meses, alta de 33,6% ante o ano anterior.
Segundo a coordenadora de projetos da construção da FGV/IBRE, Ana Maria Castelo, a alta dos juros, a queda de renda do brasileiro e a maior percepção de incertezas são fatores que preocupam a construção durante este ano
Outro detalhe que preocupa para a construção é a falta de mão de obra qualificada, que poderá obrigar investimentos das empresas. “Pode parecer um paradoxo faltar mão de obra quando há tanto desemprego, mas é uma questão que mexerá na dinâmica de custo”, completa.
A construção civil acumulou 245,9 mil vagas de emprego formais em 12 meses até novembro, com cerca de 8,7% do saldo positivo do ano passado. Apesar da melhora nas posições com carteira assinada, houve queda de 8,7% no rendimento real.
Segundo Castelo, tal redução reflete a mesma dinâmica do mercado de trabalho como um todo, no qual o aumento da informalidade reduz a desocupação, mas também achata os salários. Pelo menos parte dessa informalidade, na construção, vem das obras domésticas, que o setor chama de autoconstrução.
Fonte: O tempo