Com o aumento expressivo dos aluguéis em Dubai, muitos expatriados estão buscando alternativas mais acessíveis. Um dos destinos que tem ganhado destaque é Sharjah, uma cidade histórica de 7.000 anos localizada ao norte de Dubai. Desde que, há menos de dois anos, foi aprovada uma lei permitindo que estrangeiros comprem imóveis em áreas específicas do emirado, Sharjah tem se tornado um refúgio para investidores e moradores que não conseguem mais arcar com os preços de Dubai.
Desenvolvedores já estão em ação. Dezenas de milhares de novas residências estão sendo construídas para acomodar essa nova demanda. A migração está em curso, como aponta Prathyusha Gurrapu, chefe de pesquisa e consultoria da Cushman & Wakefield Core: “Você tem aluguéis mais baixos e um custo de vida mais acessível em geral.” Com os preços de Dubai disparando — os aluguéis de casas unifamiliares, como vilas, aumentaram 86% desde o início da pandemia — Sharjah se tornou uma opção viável.
Esse êxodo de Dubai é o mais recente sinal de que o emirado está lutando para suprir a alta demanda por moradia. Dubai atraiu nos últimos anos um grande contingente de banqueiros, advogados e profissionais de alto nível, interessados nas vantagens de um regime de baixos impostos e um fuso horário estratégico. Como resultado, o valor das casas em Dubai aumentou consistentemente por 16 trimestres consecutivos.
Embora Sharjah sempre tenha oferecido opções mais acessíveis de moradia, grande parte de sua oferta habitacional era composta por edifícios antigos, sem as luxuosas comodidades características de Dubai. No entanto, isso está mudando. A Arada Developments, controlada por membros da realeza de Sharjah, está liderando o desenvolvimento de um projeto de US$ 9,5 bilhões chamado Aljada, que incluirá 25.000 residências, áreas de entretenimento com restaurantes e lojas, instalações esportivas e até um dos maiores parques de skate da região. Um terço da construção já foi concluído, e o restante será finalizado até o final da década, segundo Ahmed Alkhoshaibi, CEO da Arada.
Sharjah, governada pela dinastia Al Qasimi desde os anos 1600, foi historicamente um dos xeicados mais ricos dos Emirados Árabes Unidos, devido à pesca de pérolas e seus portos. Nos anos 1970, após a descoberta de petróleo, a cidade começou a construir arranha-céus brutalistas. Hoje, os líderes de Sharjah estão focados em preservar sua herança cultural, com iniciativas como o projeto “O Coração de Sharjah”, que busca restaurar vielas antigas, souks e edifícios históricos.
Investidores estrangeiros em alta
A nova legislação que facilita a compra de imóveis por estrangeiros impulsionou a chegada de investidores. Indianos, que antes representavam 8,7% das compras de imóveis em Sharjah, agora respondem por cerca de 29%, de acordo com dados da Arada. Além disso, compradores da Alemanha, Canadá e Reino Unido, que antes eram quase inexistentes no mercado, agora representam 10% das aquisições de imóveis na cidade. Essa procura fez com que os preços aumentassem consideravelmente. Em Aljada, por exemplo, o preço por metro quadrado passou de 650 dirhams (US$ 177) para 1.400 dirhams, embora ainda seja cerca de 40% mais barato que áreas similares em Dubai.
Mesmo com essa alta, Sharjah ainda se mantém mais acessível. Shane Breen, chefe do escritório da Savills em Sharjah, observa que “a diferença de preços entre os dois mercados ainda é muito grande”. Para ilustrar, ele afirma que um apartamento de um quarto, que custa 60.000 dirhams por ano em Sharjah, não seria suficiente para alugar um estúdio em muitas partes de Dubai.
Esforços para manter acessibilidade
Sharjah tem adotado medidas para garantir a acessibilidade das moradias, como um congelamento de três anos nos aluguéis para novos inquilinos. Após esse período, os proprietários só podem aumentar os aluguéis a cada dois anos.
Outros desenvolvedores também estão investindo na cidade. A Eagle Hills, de Abu Dhabi, está construindo um projeto de luxo de 4,5 bilhões de dirhams na Ilha Maryam, enquanto a SEE Holding está desenvolvendo mais de 1.200 residências em fases e já vendeu 1 bilhão de dirhams em propriedades em 2023. O Grupo Alef, com sede em Sharjah, também está expandindo suas atividades imobiliárias.
A demanda é tanta que Muhammad Qasim, gerente da Betterhomes em Sharjah, informou que as vendas aumentaram 60% em relação ao ano passado, forçando a corretora a dobrar sua equipe para lidar com o volume de negócios.
Projetos de luxo e qualidade
O sucesso de empreendimentos como o Aljada incentivou outros projetos ambiciosos, como o Masaar, outro projeto da Arada. Avaliado em US$ 2,5 bilhões, o desenvolvimento incluirá cerca de 3.000 residências e uma infraestrutura voltada para o bem-estar, com 50.000 árvores e uma pista de ciclismo e corrida de 13 quilômetros. O empreendimento está previsto para ser concluído em 2026.
Ahmed Alkhoshaibi afirma que há uma demanda crescente por imóveis de alta qualidade em Sharjah, com uma migração significativa de moradores da antiga Sharjah para novos empreendimentos de luxo.
Vida familiar em Sharjah
Para muitas famílias, o custo de vida mais baixo e a qualidade de vida oferecida por Sharjah são atrativos. Tania Patel, uma executiva portuguesa que trabalhava em Dubai, decidiu se mudar para Sharjah com sua família após encontrar uma casa de quatro quartos por cerca de 2,7 milhões de dirhams — metade do preço de uma propriedade equivalente em Dubai. Embora seu deslocamento diário para o trabalho em Dubai agora leve 50 minutos, ela acredita que o custo de vida mais baixo vale a pena. “Os custos são cerca de 30% mais baixos do que em Dubai, para quase tudo”, afirma Patel.
Apesar dos benefícios, ainda há desafios. O transporte público em Sharjah é limitado, o que torna o trânsito nas horas de pico um problema. Além disso, o processo de compra de imóveis ainda é mais complexo em comparação com Dubai, embora os desenvolvedores digam que isso está melhorando.
Com uma população de cerca de 2 milhões de pessoas, Sharjah é conhecida por ser mais conservadora que suas vizinhas. A venda de álcool é proibida e lounges de narguilé, populares em Dubai, não são permitidos. Mesmo assim, muitos expatriados e locais veem Sharjah como um lugar acolhedor. “Se você gosta do Oriente Médio, é um lugar fácil de viver”, conclui Patel.
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Informações retiradas de Gabriel Garcia ao InfoMoney