O mercado imobiliário brasileiro, que tem registrado vendas aquecidas, pode enfrentar um aumento nas taxas de juros do crédito imobiliário nos próximos meses. Esse movimento é impulsionado pela alta da taxa Selic e o saldo estável da poupança, que não tem acompanhado a crescente demanda por financiamento. A previsão foi discutida por representantes de bancos e incorporadoras durante o fórum Incorpora, promovido pela Associação Brasileira das Incorporadoras (Abrainc).
Bruno Bianchi, sócio e diretor de negócios imobiliários e grandes empresas do Itaú BBA, destacou que, desde 2018, a participação da poupança no total de recursos para o financiamento imobiliário caiu para um terço do que era. Como a poupança é considerada a fonte de captação mais “barata”, a queda em sua participação tem forçado os bancos a recorrer a alternativas mais caras, encarecendo, consequentemente, os empréstimos imobiliários.
Segundo Bianchi, a Selic, que atualmente está em 10,75%, já está embutida nas taxas de financiamento oferecidas pelos bancos, já que essas instituições financeiras consideram a curva de juros de longo prazo. No entanto, se a Selic continuar subindo, é provável que haja um aumento nas taxas de financiamento ao cliente, impactando diretamente o poder de compra dos consumidores.
A Selic e o financiamento imobiliário
Thiago Lisboa, superintendente executivo de empréstimos e financiamentos do Bradesco, comentou que, historicamente, as taxas de financiamento imobiliário no Brasil tendem a ser cerca de 1,5 ponto percentual abaixo da Selic, principalmente porque esse tipo de crédito promove a fidelização dos clientes aos bancos. Contudo, com a redução do peso da poupança como fonte de recursos, os bancos estão mais propensos a repassar o aumento dos custos ao consumidor final.
Essa mudança é particularmente desafiadora para consumidores de média e alta renda, como destacou Miguel Mickelberg, diretor financeiro da Cyrela. Ele explicou que, anteriormente, cerca de 75% do “funding” da empresa vinha da poupança, via o financiamento do tipo Plano Empresário, mas essa participação caiu para 50%, com um aumento no uso de Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) para captar recursos. Esse tipo de diversificação ajuda as empresas a se adaptar ao novo cenário, mas o consumidor é quem acaba sentindo o impacto.
Financiamento direto ganha força
Emilio Fugazza, diretor financeiro da EZTec, mencionou que, com as condições mais restritivas para o financiamento bancário, há um aumento na demanda por financiamento direto pelas próprias incorporadoras. Apesar de ainda incipiente, essa modalidade pode ser uma alternativa viável para consumidores que não conseguem mais se encaixar nas exigências dos financiamentos tradicionais.
Ainda assim, os especialistas ressaltaram que, apesar das dificuldades de acesso ao crédito, a demanda por imóveis segue robusta. A manutenção desse interesse pode equilibrar, ao menos em parte, os efeitos do aumento das taxas de financiamento.
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Informações retiradas de Valor Econômico