Uma queda nos recursos para financiamento imobiliário pode provocar uma desaceleração significativa em um dos setores mais importantes da economia brasileira em 2025. De acordo com dados da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), nos primeiros quatro meses de 2024, o volume financiado foi de R$ 48,7 bilhões, uma queda de 5,1% em comparação com o mesmo período de 2023.
Principais problemas de financiamento imobiliário
Entre os fatores que explicam esse cenário estão os saques na caderneta de poupança, as restrições para emissão de Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e as possíveis mudanças no Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Juntas, essas três fontes representaram 80% dos empréstimos para compra de imóveis no Brasil no ano passado.
“Para este ano, está tranquilo, mas podemos ter problemas em 2025”, disse Inês Magalhães, vice-presidente de Habitação da Caixa Econômica Federal. O banco estatal é responsável por cerca de 70% do crédito imobiliário no país, uma concentração que aumentou devido aos altos juros que desestimularam os bancos privados a atuar no setor.
Poupança perde atratividade
A caderneta de poupança, ainda a maior fonte de recursos para o setor, vem perdendo apelo diante da concorrência com outros investimentos mais rentáveis. Nos últimos 12 meses, a poupança teve rentabilidade de cerca de 7,5%, enquanto o CDI, referência para aplicações em renda fixa, pagou 12%.
Entre 2021 e 2023, os resgates na poupança superaram os depósitos em mais de R$ 220 bilhões, uma tendência que continuou nos primeiros meses de 2024. “É um produto que precisa ser rejuvenescido em função dessa nova realidade do país”, reconheceu Carlos Vieira, presidente da Caixa.
Restrição nas emissões de LCI
Para compensar a queda dos recursos da poupança, a Caixa recorreu às Letras de Crédito Imobiliário (LCI). No entanto, o Conselho Monetário Nacional (CMN) adotou regras que limitaram a emissão desses papéis, aumentando o prazo mínimo das novas emissões de 90 dias para 12 meses. “O objetivo foi evitar o mau uso dos recursos, mas o resultado foi outro”, comentou Inês.
FGTS: mudanças à vista?
Outra fonte crucial de recursos para o crédito imobiliário é o FGTS, que atualmente remunera 3% ao ano. No entanto, o Supremo Tribunal Federal (STF) está julgando um caso que pode alterar a remuneração do FGTS para o mesmo critério da poupança. Se a mudança for aprovada, os custos de captação aumentarão, o que pode resultar em juros mais altos para os tomadores de empréstimos.
“Precisa evitar que o FGTS tenha rentabilidade igual à da poupança”, defendeu Luiz França, presidente da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc).
Crédito em queda e construção em alta
Apesar dos desafios no financiamento, o setor de construção civil está em alta. As vendas de novos imóveis aumentaram 40,4% nos 12 meses encerrados em fevereiro de 2024, um recorde, segundo a Abrainc. Como a construção civil responde por cerca de um a cada dez empregos no país, uma desaceleração pode ter efeitos negativos significativos na economia.
França defendeu que o governo federal proteja o setor, garantindo a oferta de crédito imobiliário “a preços módicos” e isentando o setor de novos impostos na reforma tributária.
Redução do depósito compulsório
Uma solução proposta para compensar a queda nas fontes tradicionais de recursos é a redução da alíquota dos depósitos compulsórios. Atualmente, a alíquota de depósito compulsório sobre depósitos a prazo é de 20%. No entanto, a autoridade monetária tem resistido à ideia, segundo Inês, da Caixa.
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Informações retiradas de Aluísio Alves à Inteligência Financeira