Na última sexta-feira, 17, o governo chinês anunciou a compra direta de casas e apartamentos vazios em uma tentativa ousada de conter a crescente crise imobiliária no país. A medida, que será implementada em todo o território nacional, visa reduzir o excesso de imóveis sem compradores.
Flexibilização das Regras de Hipotecas
Além da compra direta, o Banco Central da China disponibilizará US$ 41,5 bilhões em linhas de crédito com juros mais baixos para o setor imobiliário. Esse crédito facilitará a aquisição de imóveis encalhados por empresas estatais. Em março, o estoque de casas não vendidas na China era equivalente a 748 milhões de metros quadrados, segundo o Gabinete Nacional de Estatísticas. Em abril, os preços das casas novas caíram 3,5% e os das casas existentes caíram 6,8%, em relação ao ano anterior, marcando quedas recordes.
Mudança na Política Imobiliária
Após uma série de medidas que não produziram os resultados esperados, autoridades chinesas discutiram novas abordagens em uma videoconferência. O vice-primeiro-ministro He Lifeng anunciou que as casas compradas pelo governo serão usadas para oferecer habitação a preços mais acessíveis. No entanto, Lifeng não detalhou quando essa medida começará ou como será financiada.
Larry Hu, economista-chefe para a China do Macquarie Group, comparou a abordagem chinesa ao Programa de Alívio de Ativos Problemáticos (TARP) dos EUA, criado em 2008. “É uma mudança de política no sentido de que agora os governos locais vão entrar diretamente no mercado para comprar propriedades”, disse Hu.
Testes Locais e Medidas Nacionais
Governos locais em cidades como Jinan, Tianjin, Qingdao e Chengdu já vinham testando essa estratégia. Porém, esta é a primeira vez que a abordagem é adotada em nível nacional. “Os políticos estão desesperados para aumentar as vendas”, afirmou Rosealea Yao, especialista em setor imobiliário da Gavekal.
Incentivo à Compra de Imóveis
Após a divulgação dos números sobre os preços das casas, o Banco Central da China tomou medidas para incentivar a compra de imóveis, reduzindo os requisitos de entrada para financiamentos e eliminando a taxa de juros das hipotecas a nível nacional.
O banco central tem reduzido as taxas de juros do crédito imobiliário há anos, e a taxa média já estava em nível recorde antes desta medida. Os dirigentes chineses estabeleceram uma meta de crescimento do PIB de cerca de 5% este ano, considerada ambiciosa por muitos economistas e que exigirá elevada despesa pública.
Esforços de Financiamento
O governo chinês também levantou US$ 5,5 bilhões com sua primeira venda de títulos de 30 anos, como parte de um esforço para angariar US$ 140 bilhões nos próximos seis meses.
Raízes da Crise Imobiliária
A crise imobiliária na China foi alimentada por anos de empréstimos excessivos e construção desenfreada, que impulsionaram o rápido crescimento econômico. A intervenção do governo em 2020 para pôr fim às práticas de risco no setor já encontrou muitas empresas à beira do colapso.
A gigante imobiliária Evergrande declarou moratória no final de 2021, deixando centenas de milhares de apartamentos inacabados e dívidas de bilhões de dólares. A crise afetou muitas famílias chinesas que investiram suas poupanças no setor imobiliário, deixando poucas alternativas de investimento.
A Evergrande foi a primeira de uma série de empresas a declarar moratória. Um tribunal de Hong Kong ordenou a liquidação da empresa em janeiro. Outra grande empresa, a Country Garden, teve sua primeira audiência em um processo de liquidação na última sexta-feira.
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Informações retiradas de Alexandra Stevensone e Siyi Zhao à Estadão