Desde que o presidente Javier Milei assumiu o poder, a redução da taxa de juros e a expectativa de que ele consiga controlar a inflação têm revivido o financiamento imobiliário na Argentina após seis anos de estagnação. Agora, os argentinos estão fazendo filas nos bancos para solicitar empréstimos.
Nos últimos dias, alguns dos maiores bancos privados e estatais do país anunciaram que oferecerão empréstimos imobiliários com taxas de juros anuais entre 3,5% e 8,5%. Apesar de esses financiamentos serem ajustados pela inflação, que nos 12 meses até abril acumulou alta de 289,4%, os argentinos estão otimistas de que Milei conseguirá conter a inflação.
“O interesse é enorme, nossas linhas de comunicação estão congestionadas e estamos sobrecarregados“, afirmou Daniel Tillard, presidente do Banco Nación, a maior instituição estatal do país. O banco anunciou a liberação de cerca de US$ 4 bilhões para financiamento imobiliário nos próximos quatro anos, beneficiando 40 mil clientes potenciais.
Durante anos, o mercado imobiliário argentino foi sufocado por controles cambiais rígidos e algumas das taxas de juros mais altas do mundo. Desde 2018, as vendas de imóveis com financiamento, especialmente na capital, despencaram, segundo a associação de cartórios de Buenos Aires.
“A Argentina é o único país do mundo onde as pessoas podem financiar um liquidificador em 12 vezes sem juros, mas compram uma casa com um saco de dinheiro”, disse Gaston Rossi, diretor do Banco Ciudad, em Buenos Aires. O banco oferece empréstimos de até US$ 250 mil (aproximadamente R$ 1,28 milhão), com prazo de até 30 anos. Desde que lançou o financiamento em 29 de abril, o Banco Ciudad já recebeu mais de 11 mil pedidos formais.
“Eu nunca tive que esperar tanto. As pessoas não conseguiam sentar e lotavam os corredores”, relatou Santiago Martellono, advogado de 28 anos, que visitou uma agência do Banco Ciudad. Ele mencionou que seus amigos também estão interessados: “Eles não veem outra maneira de comprar uma casa neste país no futuro a não ser com um empréstimo.”
Outros bancos argentinos também estão atendendo a essa demanda. O Banco Santander Rio planeja oferecer financiamento imobiliário ainda este mês, enquanto o Banco Macro começou a oferecer empréstimos de até 20 anos na última segunda-feira.
A última vez que os bancos concederam empréstimos para compra de imóveis na Argentina foi entre 2016 e 2018, durante o governo do ex-presidente Mauricio Macri. Naquela época, a compra de imóveis com financiamento aumentou seis vezes, mas também elevou o preço médio em dólar por metro quadrado em 27%, uma tendência que pode se repetir agora, alerta Federico Gonzalez Rouco, economista da Empiria Consultores.
Para que esses empréstimos permaneçam atrativos, Milei precisa cumprir sua promessa de controlar a inflação. No entanto, os argentinos confiantes estão ansiosos para investir em propriedades. “Os argentinos são culturalmente muito ligados à ideia de investir em propriedade, querem algo físico, tijolos e cimento”, disse José Rozados, analista do Reporte Inmobiliario em Buenos Aires.
Nos últimos anos, as instituições financeiras argentinas preferiam manter seus recursos depositados no banco central devido aos altos juros pagos em operações de curto prazo. Contudo, com Milei reduzindo as taxas de juros, essa opção se tornou menos lucrativa, forçando os bancos a buscar outras fontes de receita, como o crédito imobiliário.
“Não podemos ficar com notas de recompra do banco central”, afirmou Tillard, presidente do Banco Nación. “Nosso futuro está em emprestar para empresas e cidadãos.” Segundo estatísticas do banco central, a renda de juros dos bancos em fevereiro deste ano foi 30% menor do que no auge em outubro.
Quer continuar atualizado sobre o mercado imobiliário? Então se inscreva na nossa Newsletter. Todas as terças e sextas, às 7:15, nós enviamos no seu e-mail as principais notícias do mercado Imobiliário. Vejo você lá!
Informações retiradas de Ignacio Olivera Doll – Kevin Simauchi à Bloomberg