Após a redução de 0,5 ponto percentual da Taxa Selic, os juros para a compra da casa própria no Brasil devem voltar a cair, atualmente em 10,5% ao ano na Caixa Econômica Federal. Essa tendência de queda ao longo do ano cria um cenário favorável para compradores, potencialmente valorizando imóveis.
Apesar disso, muitas pessoas ainda optam por viver de aluguel. Um especialista em mercado imobiliário recomenda considerar diversos fatores, não apenas os financeiros, ao decidir entre comprar ou alugar um imóvel.
“Existe obviamente a questão financeira, que a gente pode analisar botando numa planilha de Excel ou na calculadora, mas há um contexto por trás de tudo isso que a gente não pode deixar de olhar que é a questão cultural e eu diria também até a questão psicológica. A compra de um imóvel representa a realização de um sonho para muitas pessoas, às vezes desde criança. E isso vem de geração para geração”, afirma Sergio Cano, professor do MBA de Negócios Imobiliários da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
O sonho da casa própria continua sendo um pilar de segurança para muitos brasileiros, especialmente para aqueles de baixa renda e classe média. O programa Minha Casa, Minha Vida oferece condições especiais, com juros que variam de 4,25% a 8,16% ao ano, dependendo da faixa de renda familiar, que vai até R$8.000. Com um limite de financiamento de até R$350 mil, o programa facilita o acesso à moradia própria para milhares de famílias.
“Nas famílias com renda mais baixa, o sonho da casa própria é ainda maior porque a pessoa, muitas vezes, está morando num lugar que não tem uma urbanização adequada, mora na casa de parentes ou vive em um local onde o peso do aluguel representa muito perante a renda. Além da taxa de juros mais baixa para esses programas populares, também há um subsídio a depender da faixa de renda que a pessoa se enquadra. E projetando isso no longo prazo, pode ser muito mais interessante não só do ponto de vista cultural, familiar e psicológico, mas também financeiramente”, destaca o professor da FGV.
Para as famílias com renda maior do que R$8.000 por mês e com uma boa quantia em dinheiro guardada, o especialista afirma que pode valer a pena investir o valor e pagar o aluguel de um imóvel com parte do rendimento mensal. Mas tudo tem que ser muito bem estudado, principalmente se o investimento for em renda variável, onde o risco é maior.
“Se você é um investidor moderado ou arrojado, faz muito sentido pegar o dinheiro e investir para ganhar cerca de 1% ao mês, em vez de comprar o imóvel e tomar um crédito para ficar pagando uma taxa de juros elevada”, explica Sergio Cano.
O investimento em fundos imobiliários tem sido destacado como uma alternativa atrativa para gerar renda passiva. Com um capital inicial de R$500 mil aplicados a uma taxa de 1% ao mês, o investidor pode receber um rendimento mensal de R$5.000, isento de impostos.
Em Belo Horizonte, onde o aluguel médio de um apartamento de 100 m² é de R$3.441 por mês, esse rendimento é suficiente para cobrir o aluguel e ainda sobrar R$1.559 mensais. Em contrapartida, aqueles que optam por comprar um imóvel de R$500 mil, dando uma entrada de R$ 100 mil, enfrentam juros de cerca de 10% ao ano ao financiar os R$400 mil restantes, resultando em um custo mensal de aproximadamente R$3.333 apenas em juros.
E é importante resaltar que se pessoa não conseguir pagar as parcelas do financiamento, o banco tomará o imóvel na justiça e irá vendê-lo em um leilão. Ou seja, a pessoa perde sua casa e tudo que já pagou. Por isso, é fundamental fazer as contas e colocar tudo na ponta da caneta.
Concluindo, quem quer comprar ou alugar um imóvel deve considerar muitas variáveis para tomar a decisão:
- O preço do imóvel
- A taxa dos juros do financiamento
- A renda disponível
- O valor do aluguel
- O reajuste anual do aluguel
- A valorização do imóvel
- A taxa de rendimento do investimento
“A decisão de comprar ou alugar um imóvel é um momento marcante de cada pessoa, e esse momento vai depender dos objetivos e prioridades para encontrar um novo lar. Alguns fatores devem ser considerados ao tomar a decisão. O principal deles é o planejamento financeiro, uma vez que custos adicionais podem chegar até 10% do valor do imóvel. Para aqueles que já avançaram nessa reflexão, esta é uma boa janela de oportunidade do ponto de vista do cenário econômico, já que as taxas de juros de financiamento tendem a cair nos próximos meses, e isso ainda não foi refletido numa alta de preço dos imóveis no mercado”, analisa Thiago Bernardes, head comercial do QuintoAndar.
Mas esta decisão depende do momento de vida de cada pessoa.
“Outros exemplos de fatores a serem considerados são: urgência na mudança – o processo do aluguel tende a ser mais rápido; e pretensão sobre o tempo que ficará no imóvel – no geral, comprar pode ser a melhor opção, em termos financeiros, se você pretende morar nele por pelo menos seis anos”, diz Bernardes.
Momentos em que pode valer mais a pena alugar um imóvel
- A pessoa vai morar temporariamente numa cidade, por exemplo, para fazer um intercâmbio estudantil, um curso numa faculdade ou trabalhar em algum projeto com tempo determinado
- A profissão da pessoa exige que ela sempre se mude para outras cidades (engenheiros, jogadores e técnicos de futebol, por exemplo)
- A família busca flexibilidade e quer morar em alguns bairros para conhecê-los antes de decidir onde irá comprar um imóvel próprio
- A pessoa tem uma boa quantia para investir e decide usar o valor do rendimento para pagar o aluguel e ainda reinvestir o que sobrar é importante sempre lembrar que a pessoa que aluga um imóvel está pagando mensalmente por um imóvel que não é dela, ou seja, não está construindo um patrimônio (a não ser na última opção citada, quando é investido o valor que sobra do rendimento de aplicações financeiras).
- Momentos em que pode valer mais a pena comprar um imóvel
- A família já tem uma estabilidade financeira, uma boa quantia para dar de entrada (às vezes com o FGTS de anos de trabalho com carteira assinada) e quer se estabelecer naquele bairro e naquela cidade
- A pessoa se casa e decide sair da residência dos pais, desde que tenha uma boa quantia para dar de entrada ou se encaixa nas condições do programa Minha Casa, Minha Vida
- Os juros da economia brasileira e do financiamento imobiliário estão baixos e os preços dos imóveis estão defasados, como ocorreu em 2021
- A família tem estabilidade no emprego e pode usar o FGTS, décimo terceiro salário e horas extras para amortizar a dívida do financiamento.
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Informações retiradas de Alexandre Nascimento à O Tempo