A Rua Santa Ifigênia, conhecida por sua referência em produtos eletrônicos, está enfrentando uma crise marcada pela perda de clientes e fechamento de lojas por conta da cracolândia. A sensação de insegurança causada pelo aumento do deslocamento de dependentes químicos e arrastões, como o ocorrido recentemente em uma loja de câmeras de segurança, tem contribuído para o esvaziamento da área.
Especialistas apontam que projetos do poder público nos últimos anos priorizaram a expansão imobiliária, negligenciando a segurança na região. A Prefeitura afirma ter reforçado o combate à violência por meio de convênios com o Estado. Segundo a União dos Lojistas da Santa Ifigênia, atualmente há duas mil lojas em funcionamento, enquanto há uma década eram cerca de 15 mil.
Nos últimos três anos, o número de empreendimentos fechados tem aumentado, e o faturamento do comércio caiu em média 40% desde a dispersão dos dependentes químicos da Cracolândia, em maio de 2022.
A região entre a Avenida Duque de Caxias e a Rua General Osório enfrenta desafios evidentes, conforme observado por residentes e trabalhadores locais. O primeiro quarteirão, em particular, exibe sinais claros de declínio, com cinco placas de “aluga-se” em exibição. Esta área, antes movimentada, agora reflete um esvaziamento, com vagas de estacionamento abundantemente disponíveis – uma realidade incomum em comparação com anos anteriores.
A proximidade com a Praça Júlio Prestes, outrora afetada pelo tráfico de drogas, também contribui para a percepção de mudança na dinâmica da região.
No final do ano passado, houve uma esperança de retomada dos espaços públicos em uma área urbana específica. O fluxo de usuários de drogas mudou para a Rua dos Protestantes após um mês de concentração na Rua dos Gusmões, localizada a menos de um quarteirão da movimentada Santa Ifigênia.
“No ano passado, estávamos conseguindo certa recuperação, as pessoas começavam a voltar. Mas aí aconteceu isso”, afirma o lojista Joseph Riachi, presidente da União Comercial de São Paulo e que trabalha na região por mais da metade dos seus 70 anos.
No último sábado, um episódio de violência chocou a região, com a invasão e saque de uma loja de câmeras de segurança por assaltantes e dependentes químicos, resultando em um prejuízo estimado em R$300 mil para o empresário João Paulo de Souza, que agora planeja fechar a unidade afetada.
A Polícia Civil iniciou uma investigação sobre o incidente, com três homens detidos após um furto subsequente na Rua Vitória. Dois dos detidos estão sob investigação, enquanto o terceiro foi preso devido a um mandado de prisão preventiva na Bahia. Este é o terceiro arrastão na região desde novembro, deixando a comunidade preocupada com a segurança local.
A Secretaria de Segurança Pública anunciou a prisão de 3.578 infratores, marcando um aumento de 49,2% em comparação com o ano anterior. As operações foram conduzidas pelos policiais do 3º DP e 77º DP, responsáveis por lidar com ocorrências nas áreas de uso público. Paralelamente, houve uma queda notável nos índices de crimes, incluindo homicídios, com 5 casos a menos, roubos (12,9% de queda), roubos de veículos (24,1% de queda) e furtos em geral (1,5% de queda).
A SSP ressalta que esta redução indica uma mudança positiva, sugerindo que a tendência de aumento dos crimes observada em 2022 foi interrompida e começou a declinar a partir de abril. Estimativas indicam que, nos últimos nove meses, aproximadamente 3.360 pessoas deixaram de ser vítimas de crimes como roubos, furtos e homicídios na região das áreas de uso público e seus arredores no centro da Capital.
Medidas da Prefeitura
A Prefeitura de São Paulo anunciou medidas para intensificar o combate à violência e ao comércio irregular na cidade. Um convênio com o Estado possibilitou o reforço de mais de 1.350 policiais militares, enquanto mais de 1,6 mil guardas civis realizam rondas periódicas, além da implementação de bases comunitárias na região.
O município também instalou 80% das 2.008 câmeras do Programa Smart Sampa na área. Contudo, comerciantes têm reclamado da diminuição do policiamento durante a noite. O major Rodrigo Garcia Vilardi, coordenador de Políticas Públicas da SSP, promete um aumento do policiamento nos próximos dias para lidar com essa questão.
“A necessidade de reforço do policiamento noturno já havia sido identificada no ano passado. Por isso, tivemos um reforço da Operação Delegada (policiais trabalham nos dia de folga com remuneração extra), principalmente no período noturno. Serão de 100 a 150 policiais nas ruas a mais”, diz.
Lojas investem nas vendas digitais para sobreviver
Com o desaparecimento dos clientes presenciais, muitos estabelecimentos estão migrando para o atendimento online, incluindo a rede “Portal das Câmeras”. Sob o comando do gerente Ricardo Aquino, a equipe digital está concentrada nas redes sociais, empregando estratégias como tráfego pago de mensagens e anúncios para aumentar o engajamento dos usuários. As vendas são realizadas virtualmente, com entregas pelos Correios e por entregadores próprios.
Por enquanto, Aquino afirma que os meios digitais estão longe de compensar a queda de 30% nas vendas nos últimos anos. “São alternativas porque o cliente não está vindo mais”, diz. “Nunca vi tantos imóveis para alugar”, afirma ele, gerente na Santa Ifigênia há 17 anos.
Estudiosos apontam priorização da expansão imobiliária
A Prefeitura de São Paulo informa que a nova Lei do Triângulo Histórico e Quadrilátero (18.065/23) foi regulamentada na última semana para fomentar o crescimento econômico na região:
- IPTU reduzido: proprietários de imóveis não residenciais têm isenção parcial de 40% no IPTU, limitado a R$ 15 mil;
- isenção de taxas: empreendedores contam com isenção de taxas municipais para instalação e funcionamento;
- procedimentos simplificados: agilidade na obtenção de autorizações e alvarás com simplificação de procedimentos;
- redução no ISS: profissionais de diversas áreas têm a alíquota do ISS reduzida de 5% para 2%.
- incentivo a obras locais: redução de ISS para obras no Triângulo e Quadrilátero, impulsionando investimentos
- apoio ao Requalifica Centro: redução de ISS para os projetos de obras do programa.
O poder municipal anunciou a implementação do projeto Ruas Temáticas como uma nova intervenção urbana no centro da cidade, visando requalificar e estimular a economia em vias públicas de relevância econômica, turística e cultural.
A primeira rua a ser beneficiada será a General Osório, conhecida como Rua das Motos, no primeiro trimestre de 2024. Além disso, outras vias como Santa Ifigênia (Rua dos Eletrônicos), São Caetano (Rua das Noivas), Paula Sousa (Rua das Cozinhas) e Florêncio de Abreu (Rua das Ferramentas) também serão incluídas no programa.
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Informações retiradas de Gonçalo Junior à Estadão