Portugal enfrenta uma crescente escassez de mão de obra qualificada devido ao envelhecimento da população, levando o país a flexibilizar regras para atrair imigrantes. Atualmente, cerca de 800.000 imigrantes residem oficialmente no país, sendo brasileiros e ingleses os mais numerosos.
No entanto, a alta demanda por moradias não acompanhou o ritmo de chegada de novos residentes, resultando em uma espiral de aumento de preços imobiliários sem precedentes. O atrativo inicial de serviços de qualidade a preços acessíveis e clima ameno enfrenta desafios devido à pressão no mercado imobiliário.
Lisboa, a capital portuguesa, enfrenta um recorde nos preços de aluguel, superando cidades caras como Paris e Amsterdã. Com uma média de 2.500 euros mensais, o equivalente a 13.000 reais, os aluguéis aumentaram 50% em cinco anos, de acordo com a HousingAnywhere. Além disso, os preços de compra dobraram, colocando Lisboa como vice-campeã em propriedades caras, atrás apenas de Paris e superando Milão. Brasileiros lideram o contingente de interessados em imóveis na cidade, seguidos por chineses buscando investir.
“A intensa chegada de imigrantes foi um fator decisivo para essa inacreditável inflação no setor imobiliário português”, diz Vitor de Piere, especialista em relações internacionais e em turismo.
Em meio a uma escalada nos valores imobiliários, muitas pessoas têm voltado suas atenções para oportunidades em áreas próximas aos principais centros urbanos ou em cidades menores e mais distantes. A busca por opções acessíveis tornou-se um desafio, levando os interessados a explorar alternativas além das grandes imobiliárias.
O boca a boca tem sido uma ferramenta crucial, uma vez que as imobiliárias tradicionais enfrentam dificuldades para encontrar opções com bom custo-benefício, diante de uma escassez de espaços disponíveis que atinge o pior patamar em quinze anos.
O governo português tomou medidas para lidar com desafios imobiliários, encerrando o Golden Visa e o programa de incentivo fiscal para estrangeiros, buscando controlar o mercado imobiliário. Restrições aos aluguéis para turistas, impulsionados pelo Airbnb, foram implementadas para favorecer residentes. No entanto, os preços continuam a subir, com um reajuste de 6,9% aprovado em janeiro.
Economista comenta
O economista Igor Lucena destaca a falta de construção de moradias como resultado das políticas bem-sucedidas de estímulo ao turismo e imigração. O ex-primeiro-ministro prometeu construir 30 mil novas moradias, mas entregou apenas 7 mil, deixando um desafio para seu sucessor, a ser escolhido em março.
Os recentes paliativos governamentais, como auxílio aos salários mais baixos e alívio nos impostos, não conseguem conter as diversas consequências dos preços inflados no mercado imobiliário. Esses efeitos afetam todos os estratos sociais, resultando em um aumento significativo da população de rua, estimada em 10,000 pessoas.
Na classe média, observa-se uma mudança demográfica evidente, com a chamada “geração canguru” atingindo 70% dos jovens em 2022, de acordo com a OCDE, indicando um aumento em comparação com os 56% registrados no ano anterior.
O encarecimento das moradias está gerando impactos, incluindo a reconsideração na decisão de ter filhos, de acordo com o deputado Vasco Barata, porta-voz da organização Casa para Viver. A entidade busca normas para aliviar o peso do aluguel no orçamento. O relato de um auxiliar administrativo português, Tomás Figueira, de 25 anos, destaca a dificuldade, visto que mudou para um imóvel que necessitava de melhorias profundas.
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Informações retiradas de Paula Freitas à Veja