O trecho da Rua Augusta, em São Paulo, conhecido por abrigar a Galeria Flórida, está passando por transformações devido à construção de uma torre de 21 andares com apartamentos de alto padrão, avaliados em até R$4 milhões. A proprietária da loja Galeria Flórida, Márcia Tavares, expressa preocupação com as escavações ao lado e sugere que venderia o espaço se uma proposta fosse feita.
A dinâmica imobiliária na região envolve a compra de galpões e sobrados por incorporadoras, muitas vezes desocupando os espaços ao subir os preços de aluguéis, desestimulando renovações contratuais e facilitando a venda. Comerciantes locais, como o chef Gabriel Jorge Fernandes, relatam a expulsão do comércio local durante a pandemia, seguida pela venda de espaços desocupados, resultando em uma transformação triste na paisagem da Augusta.
O fenômeno que combina a explosão de empreendimentos imobiliários e a decadência do comércio na região da Rua Augusta, em São Paulo, tem diversas causas. Entre elas, a alta do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) influencia no custo do aluguel, tornando-o mais caro. A presença de construtoras também inflaciona os valores de locação, pois a construção de prédios de alto padrão valoriza as propriedades na área. Por outro lado, a diminuição da circulação de pedestres pós-pandemia e a escassez de estacionamentos reduzem a atratividade dos pontos comerciais.
O presidente da Associação Comercial de São Paulo, Roberto Mateus Ordine, destaca que a decadência da Rua Augusta começou antes da atual expansão imobiliária, relacionando-a à chegada de shoppings nos anos 1960, que provocou uma mudança nos hábitos de consumo, levando consumidores com maior poder aquisitivo para locais mais seguros e convenientes, resultando na transformação do comércio local.
Quanto à atual transformação, há tendência de redução dos comércios populares. Serão substituídos por prestadores de serviços, como lavanderias, academias e clínicas voltadas à estética e bem-estar, prevê Ordine. “Com algumas diferenças, essa transformação já aconteceu no outro lado da Augusta, que liga a avenida Paulista ao centro”, compara.
Quem resiste busca adequação à nova realidade. É o que fez o restaurante gerenciado por Vando Moreira, 54, obrigado a se mudar para um salão menor quando o locador vendeu o imóvel para uma construtora.
“Tivemos que sair para o dono demolir”, conta.
Apesar de mais apertado, o novo estabelecimento, na mesma calçada, tem aluguel de R$ 20 mil por mês, quase o dobro do anterior.
“Está muito caro. É por isso que tem muita gente saindo daqui”, diz Moreira, que cobra R$ 26 o prato-feito, com opções como picadinho, frango à passarinho e fígado.
Dono de uma papelaria, Dearo Germinari, 59, compensa a ausência de compradores presenciais com os milhares de clientes que atende por Whatsapp. Mas isso não compensa a falta que faz a Augusta viva.
“Uma rua que era maravilhosa há 14 anos, quando cheguei, está agora parecendo um cemitério, com tantos prédios e ninguém andando nas calçadas.”
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Informações retiradas de Clayton Castelani à Folha