O mercado imobiliário no Brasil está buscando alternativas para atrair financiamentos, uma vez que os recursos da poupança estão em queda, com saques superando depósitos. O Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), que costumava liderar o financiamento imobiliário, viu sua participação cair de 40% em 2022 para 36% em agosto de 2023.
Por outro lado, o mercado de capitais tem ganhado destaque como uma fonte de financiamento, com fundos e títulos imobiliários aumentando significativamente nos últimos cinco anos, passando de 34% em 2022 para 38% em 2023. Os financiamentos via Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) se mantiveram estáveis, representando 26% do total.
Além disso, as Letras Imobiliárias Garantidas (LIGs) viram seus recursos aumentarem em 87% em apenas um ano, passando de R$48 bilhões para R$90 bilhões, e sua participação subiu de 3% para 5%. As Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) cresceram 70%, indo de R$141 bilhões para R$239 bilhões, com a participação subindo de 8% para 12%. Os Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) também aumentaram 39%, de R$106 bilhões para R$148 bilhões, com a fatia subindo de 6% para 8%.
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, expressou preocupação com a perda de recursos da poupança, que historicamente tem sido a principal fonte de financiamento imobiliário. Ele enfatizou a necessidade de impulsionar o financiamento imobiliário por meio de instrumentos de captação privada, como CRIs e LCIs, que têm se comportado bem.
Investimento
O diretor executivo da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), Felipe Pontual, destacou que o mercado de crédito imobiliário no Brasil está buscando atrair investidores por meio de novas modalidades, uma vez que a poupança, embora ainda amplamente usada, tem perdido apelo. A ideia é oferecer investimentos de longo prazo como uma alternativa para financiamento de imóveis, visando impulsionar o setor.
Pontual enfatiza que as fontes de financiamento regionais devem se manter resistentes, mas a diversificação de instrumentos de captação privada pode acelerar a participação do crédito imobiliário no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Ele reconhece a importância da poupança e do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) no crédito imobiliário, mas argumenta que o setor não pode depender exclusivamente dessas fontes, uma vez que os saldos da poupança têm diminuído nos últimos anos.
Histórico de queda
O saldo da caderneta de poupança registrou queda pelo terceiro mês consecutivo, com saques superando os depósitos em setembro. O déficit atingiu R$5,83 bilhões, de acordo com um relatório do Banco Central. Atualmente, a poupança é remunerada com a taxa referencial (TR) mais 0,5% ao mês, mas quando a taxa básica de juros (Selic) está abaixo de 8,5%, a poupança também é atualizada com 70% da Selic.
A aplicação na poupança tem enfrentado uma série de perdas desde 2021 devido à combinação de inflação alta, endividamento das famílias e taxas de juros elevadas. Em 2022, a poupança registrou o pior desempenho da sua história desde o início da série em 1995, com um saldo negativo de R$103,2 bilhões.
Custo do crédito
A coordenadora de projetos de construção do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV-Ibre), Ana Maria Castelo, emitiu um alerta relevante. Ela observou que, apesar das expectativas otimistas do mercado em relação às novas formas de financiamento imobiliário, essa mudança na composição de recursos pode resultar em um encarecimento do crédito habitacional.
Em sua análise, Castelo apontou que em 2022, a poupança perdeu participação em relação ao financiamento imobiliário em comparação com 2021, em favor de outras ferramentas de captação de recursos no mercado. Ela ressaltou que os fundos de investimento imobiliário ganharam destaque devido ao aumento da taxa básica de juros, que atingiu 13,75% ao ano.
Alternativas para atrair
A Caixa Econômica Federal está focada em simplificar o acesso ao financiamento habitacional para combater o déficit de moradia. A ex-presidente da instituição, Maria Rita Serrano, enfatizou a importância do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e propôs a liberação do compulsório vinculado ao financiamento habitacional como uma solução. A proposta foi encaminhada ao Ministério da Fazenda e ao Banco Central. Serrano argumentou que a desburocratização reduzirá custos e agilizará os financiamentos imobiliários, atendendo às necessidades da população.
A Caixa alcançou um recorde na concessão de crédito imobiliário no terceiro trimestre de 2023, atribuindo o sucesso a mudanças no Programa Minha Casa, Minha Vida e à redução das taxas de juros. A instituição mantém a liderança no mercado de financiamentos habitacionais, com uma participação significativa e uma carteira ativa de crédito imobiliário de R$700 bilhões em setembro.
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Informações retiradas de Rafaela Gonçalves à Correio Braziliense