Nos Estados Unidos, discussões sobre a possibilidade de uma crise imobiliária e recessão econômica são reacendidas devido ao histórico de eventos como a quebra de 2008. Atualmente, o mercado enfrenta um cenário de juros elevados, com expectativas incertas sobre sua trajetória futura. O aumento das taxas de juros acima de 5,50% gera preocupações em relação ao endividamento dos americanos, resultando em parcelas mais altas e dificuldades para cumprir compromissos hipotecários.
Para se ter uma ideia, em 2021, US$100 mil permitiam a compra de uma casa de US$500 mil com um total de US$207 mil em juros diluídos em 30 anos, o mesmo investimento hoje implicaria em juros de US$600 mil durante o mesmo período. Essa perspectiva levanta questões sobre a acessibilidade da moradia e o risco potencial de uma nova crise imobiliária nos EUA.
Nos Estados Unidos, as taxas de juros subiram consideravelmente, passando de quase 0% para os atuais 5,5%. Cerca de 100% dos financiamentos e hipotecas estão vinculados aos equivalentes pós-fixados do Brasil. Essa mudança tem impacto direto nas parcelas e na correção do saldo devedor, uma vez que taxas mais altas resultam em valores mais elevados.
Mercado aquecido devido ao Airbnb
Em alguns estados, as taxas de financiamento atingiram 8% ao ano, o patamar mais alto desde 2003. Embora isso sugira uma possível crise, com a dificuldade de pagamento das parcelas e a queda nos preços dos imóveis, uma dinâmica surpreendente se desenha no mercado imobiliário dos EUA.
Ao contrário do que se poderia esperar, o mercado imobiliário continua aquecido. Em algumas áreas, os preços das casas estão até mesmo em alta. Isso se deve, em grande parte, à presença do Airbnb. Diferentemente da crise de 2008, as plataformas online permitiram que o mercado imobiliário de compra, venda e aluguel se tornasse acessível às pessoas comuns. Hoje em dia, é mais fácil do que nunca gerar renda a partir da própria moradia.
Nos Estados Unidos, um número crescente de americanos está optando por não vender suas propriedades, que antes eram consideradas investimentos imobiliários, e está preferindo alugá-las. Isso tem suprido a demanda por moradias de pessoas que não têm os recursos para comprar uma casa, resultando em uma mudança notável no mercado imobiliário.
Um exemplo dessa tendência pode ser observado no mercado de Austin, Texas onde um levantamento mostrou que 12.127 unidades de casas estavam disponíveis para aluguel, enquanto apenas 3.329 estavam listadas para venda. Esse desequilíbrio indica que menos de 30% das propriedades estão disponíveis para venda, enquanto a maioria está sendo direcionada para o mercado de aluguel.
Essa mudança no comportamento dos americanos em relação ao mercado imobiliário tem sido influenciada pela capacidade de gerar receita com as propriedades por meio do aluguel, o que auxilia no enfrentamento dos custos de vida em constante aumento. Isso permite que os proprietários mantenham seu ativo imobiliário enquanto obtêm um fluxo de renda adicional. Por outro lado, a ampla disponibilidade de unidades para aluguel tem contribuído para moderar os preços do aluguel, beneficiando aqueles que não podem adquirir uma casa própria.
O cenário atual apresenta um novo desafio no mercado imobiliário: a interseção entre renda passiva proveniente de aluguéis e a necessidade ocasional dos proprietários de vender imóveis para cobrir despesas. Esse fenômeno tem gerado debates intensos em fóruns e círculos de investidores. Embora a demanda por aluguel permaneça, a disposição para compra de propriedades diminuiu, levando a um mercado onde a venda torna-se complexa devido à escassez de compradores.
No entanto, o mercado atual permanece ativo, com a maioria conseguindo arcar com despesas habitacionais mesmo em situações financeiras apertadas. Essa dinâmica tem um impacto notável na inflação e potencialmente pode aliviar as taxas de juros. O desafio futuro reside em como o mercado irá se ajustar quando a renda passiva não for suficiente ou quando a venda de imóveis se tornar uma necessidade, lançando incertezas sobre seu equilíbrio e dinâmica.
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Informações retiradas de Vitor Miziara à Estadão